Vitória e Cova da Piedade medem forças na Liga 3 |
Embora sejam dois clubes do distrito
de Setúbal, Vitória
Futebol Clube e Cova
da Piedade apenas mediram forças por quatro vezes, durante as duas
temporadas em que coincidiram na II Divisão – Zona Sul, 1961-62 e 1986-87. Com
uma história muito mais rica, os sadinos
venceram três desses quatro duelos.
No entanto, nos últimos anos os piedenses
aproximaram-se do nível dos setubalenses,
fruto da ascensão à II
Liga em 2016. Desde então que têm sido adversários habituais em partidas de
pré-época.
Em 2020-21, por força da descida
administrativa do Vitória
ao Campeonato
de Portugal, o Cova
da Piedade competiu uma divisão acima. Sol de pouca dura, porque outra
decisão administrativa atirou a formação
do concelho de Almada para a Liga 3, patamar em que os vitorianos
também militam na presente temporada.
Apesar de estarem a competir no
mesmo nível apenas pela terceira vez em toda a história, o Vitória
tem tido nos seus quadros jogadores que já tinham pertencido ao Cova
da Piedade e vice-versa.
Vale por isso a pena conferir o
nosso onze ideal de futebolistas que passaram pelos dois clubes, distribuídos
em campo num sistema que está muito na moda, o 3x4x3.
Pedro Espinha (guarda-redes)
Pedro Espinha |
Guarda-redes formado no Belenenses,
representou o Cova
da Piedade e o Vitória
de Setúbal em fases completamente opostas da carreira.
Nos piedenses
ingressou na primeira época de sénior, 1984-85, na altura para jogar na II
Divisão Nacional e para participar na caminhada até aos oitavos de final da Taça
de Portugal.
Entretanto Pedro Espinha
tornou-se um guardião de I
Divisão, somou seis internacionalizações pela seleção nacional A, esteve
inclusivamente entre os convocados para o Euro
2000 e passou por clubes como Belenenses,
Salgueiros,
Vitória
de Guimarães e FC
Porto.
No verão de 2002 trocou as Antas
pelo Bonfim,
à beira dos 37 anos, para defender a baliza sadina
durante a última temporada da carreira, tendo disputado 19 jogos e sofrido 29
golos em todas as competições, numa campanha em que os setubalenses
desceram à II
Liga.
Francisco Silva (defesa central)
Francisco Silva |
Defesa central setubalense e internacional jovem português, representou a
equipa principal do Vitória
de Setúbal durante mais de 125 vezes entre 1977 e 1984, sempre na I
Divisão, naqueles que foram os seus primeiros anos de carreira.
Entretanto passou por Académica,
Fafe,
Barreirense,
Vasco
da Gama de Sines, Torres Novas e Mineiro
Aljustrelense, despedindo-se dos relvados em 1993-94 com a camisola do Cova
da Piedade. Comandado por Fernando
Lage Nascimento, pai de Bruno
Lage, sagrou-se campeão da I
Distrital da AF Setúbal nessa temporada.
Sabú (defesa central)
Sabú |
Defesa central nascido em Angola,
iniciou a carreira no Vitória
de Setúbal durante a era dourada do clube, em 1969-70. Embora nem sempre
uma primeira opção na equipa
sadina, participou em mais de quatro dezenas de encontros entre 1969 e 1978,
sempre na I
Divisão.
Seguiram-se passagens por
Beira-Mar, Juventude
Évora, Ginásio
de Alcobaça, Torralta e Amarante antes de se aventurar no Cova
da Piedade em 1986-87, numa temporada em que competiu na II Divisão Nacional
às ordens do velho capitão Mário Wilson.
João Meira (defesa central)
João Meira |
Um jogador mais recente, que dividiu a sua formação precisamente entre Cova
da Piedade e Vitória
de Setúbal. Dos juniores sadinos
transitou diretamente para os seniores piedenses,
onde teve a companhia do irmão Tiago, na altura para jogar na III Divisão
Nacional.
Após uma passagem pelo Mafra,
chegou às ligas profissionais pelo Atlético
em 2011 e à I
Liga pelo Belenenses
em 2013, tendo inclusivamente festejado o título de campeão do segundo
escalão ao serviço dos azuis
do Restelo.
Entretanto foi para os Estados
Unidos jogar ao lado de Bastian Schweinsteiger no Chicago Fire e passou
ainda pelos campeonatos de Noruega e Roménia antes de ingressar no Vitória
de Setúbal em 2019-20. Nessa temporada participou em dez jogos em todas as
competições e ajudou os setubalenses
a alcançarem, dentro de campo, uma permanência que acabou por ser invalidada na
secretaria.
Na época que se seguiu ainda
começou a trabalhar com o plantel
vitoriano, mas acabou por regressar ao Cova
da Piedade para voltar a viver uma permanência em campo transformada numa
despromoção na secretaria.
“Infelizmente é impossível
arriscar a minha carreira no contexto atual do Vitória.
Parto de consciência completamente tranquila de que tudo fiz dentro das minhas
possibilidades pelo Vitória
(gostava de ter feito muito mais). A falta de informação ou a tal ‘luz ao fundo
do túnel’ teima em não aparecer e terei que prosseguir com a minha vida em outro
lugar. Aqui fica o meu adeus com um grande grito de revolta, sem saber como foi
possível tudo isto acontecer”, escreveu nas redes sociais aquando da saída do Bonfim.
“O Cova
da Piedade, no concelho de Almada, está a cinco minutos de Lisboa, pela
ponte [25 de Abril], com praias fantásticas, o que já é um excelente chamariz.
Tem um estádio que não é fantástico, mas tem todas as condições para o atleta.
Falta alguma cooperação com a Câmara Municipal e promover mais a imagem do
clube. Tem um potencial louco que devia ser muito bem aproveitado”, afirmou dias
depois, após assinar pelos piedenses.
Tó Sá (lateral direito)
Tó Sá |
Lateral direito que concluiu a formação no Cova
da Piedade, transitou para a equipa principal em 1986-87, tendo jogado ao
longo de quatro temporadas em três patamares competitivos: II e III Divisão
Nacional e I
Distrital da AF Setúbal.
Entre 1990 e 1994 representou o Amora,
que na altura alternava entre a II
Liga e a II Divisão B, tendo depois rumado ao Vitória
de Setúbal, clube pelo qual amealhou 65 jogos oficiais e três golos ao
longo de três temporadas, tendo vivido uma subida e uma descida de divisão.
Entretanto transferiu-se para a Académica
no verão de 1997 e acabou por se radicar na região Centro. Contudo, haveria de
voltar ao Cova
da Piedade em 2019-20 para desempenhar a função de treinador-adjunto da
equipa principal, tendo na época seguinte assumido o comando técnico da equipa
B.
Cerdeira (lateral esquerdo)
Nascido em Coimbra, formou-se no Sporting
e chegou mesmo a representar a equipa principal dos leões
entre 1976 e 1980, tendo conquistado um campeonato e uma Taça
de Portugal.
No entanto, em Alvalade
não jogava com regularidade e por isso assinou pelo Vitória
de Setúbal em 1980. Numa altura em que os sadinos
já não viviam no seu período áureo, Cerdeira disputou mais de 100 jogos e
apontou pelo menos quatro golos pelos setubalenses
em todas as competições ao longo de cinco temporadas.
Em 1985-86 representou o Marítimo
e na época que se seguiu vestiu a camisola do Cova
da Piedade na II Divisão Nacional, tendo sido orientado por Mário Wilson.
Paulo Tavares (médio)
Paulo Tavares |
Médio portuense dotado de grande precisão de passe longo, ingressou no Vitória
de Setúbal no verão de 2012, proveniente do Leixões.
Nem sempre um titular indiscutível, amealhou 104 jogos e nove golos em todas as
competições pelo emblema
sadino ao longo de quatro temporadas, tendo contribuído para a obtenção do
7.º lugar na I
Liga em 2013-14, naquela que foi uma das melhores classificações dos setubalenses
no século XXI.
No verão de 2016 terminou contrato com os vitorianos
e emigrou para Inglaterra,
onde representou o Port Vale às ordens de Bruno
Ribeiro (já lá vamos…), mas um ano depois regressou a Portugal pela porta
do Cova
da Piedade, tendo participado em 21 jogos em todas as provas numa época em
que os piedenses
lograram a sua melhor classificação de sempre na II
Liga, o 9.º lugar.
Jorge Jesus (médio)
Jorge Jesus |
Bem mais conhecido pela carreira
que tem feito enquanto treinador, Jorge
Jesus foi um médio que concluiu a formação no Sporting
e foi emprestado pelos leões
ao Cova
da Piedade na primeira época de sénior, 1972-73, na altura para jogar na II
Divisão Nacional.
Entretanto também esteve cedido a
Peniche
e Olhanense,
voltou ao Sporting
e passou ainda por Belenenses,
Riopele,
Juventude
Évora e União
de Leiria antes de ingressar no Vitória
de Setúbal durante o verão de 1980, quando tinha 26 anos. Embora não fosse
propriamente um titular indiscutível, amealhou mais de 38 jogos e quatro golos
ao serviço dos sadinos
ao longo de três temporadas.
Mais tarde, foi treinador dos setubalenses
entre outubro de 2000 e janeiro de 2002. Quando chegou ao Bonfim
para suceder a Rui Águas, o Vitória
era 7.º classificado na II
Liga, tendo ainda perdido os dois primeiros jogos no campeonato. No
entanto, a partir daí a equipa desatou a ganhar e conseguiu a promoção à I
Liga nos minutos finais da última jornada, numa receção à Naval. “Queria
dedicar esta vitória a esta massa associativa. Esta cidade tem uma paixão pelo
futebol que, tirando Benfica,
Sporting
e FC
Porto, mais ninguém tem. Ninguém consegue arrastar tanta gente atrás como o
Vitória
arrastou aqui hoje, 30 mil pessoas, todos eles vitorianos.
Esta subida à I
Liga vai inteiramente para os sócios e simpatizantes”, afirmou Jorge
Jesus após o encontro decisivo.
Na época seguinte até nem começou
mal, tendo amealhado três vitórias nas primeiras cinco jornadas. No entanto,
depois não conseguiu evitar uma queda a pique que atirou a equipa para o 17.º
lugar e acabou por não resistir aos maus resultados, tendo sido substituído por
Luís Campos.
Arnold (atacante)
Arnold |
Extremo velocíssimo sobrinho e primo de dois antigos jogadores vitorianos,
Kuyangana Makukula e Ariza Makukula, respetivamente, fez jus à tradição
familiar quando assinou pelo Vitória
de Setúbal no verão de 2015, depois de três anos no Desp.
Chaves.
A primeira época no Bonfim,
sob o comando técnico de Quim
Machado e a jogar quase sempre no corredor lateral, foi aquela em que mais
brilhou, com cinco golos em 33 partidas. Nas temporadas que se seguiram, com José
Couceiro como homem do leme, “Chico”
foi adaptado a lateral e continuou a ser bastante utilizado. Ao cabo de três
temporadas à beira-Sado acumulou 101 jogos e seis golos em todas as
competições, tendo participado na caminhada até à final da Taça
da Liga em 2017-18.
No verão de 2018 mudou-se para os indianos do Mumbai City, tendo ainda
passado pelos franceses do Caen e pelo Farense
antes de representar o Cova
da Piedade em 2020-21, numa época em que disputou 27 encontros em todas as
competições e marcou um golo.
Arnaldo Silva (atacante)
Arnaldo Silva |
Avançado nascido na Guiné-Bissau
formado no Vitória
de Setúbal, representou a equipa principal dos sadinos
entre 1969 e 1971 e posteriormente em 1974-75, tendo passado pelo Benfica de
Luanda pelo meio. Ao serviço dos setubalenses,
amealhou cerca de dezena e meia de jogos e um golo ao longo das duas passagens
pelo clube.
Entretanto passou por clubes como
Esperança
de Lagos, Marítimo, Portimonense,
Académico Viseu, Belenenses,
Beira-Mar e Torreense
antes de ingressar no Cova
da Piedade em 1984-85, na altura para jogar na II Divisão Nacional.
Edinho (avançado)
Edinho |
Neste onze ideal de jogadores que passaram pelos dois clubes, cabe no
ataque Arnaldo Silva e o seu filho, Edinho,
que por influência do pai sempre foi um simpatizante do Vitória
de Setúbal, clube que representou pela primeira vez enquanto iniciado em
1995-96. “O meu pai foi com 17 anos para
o clube, então cresci a ver o que era o Vitória”,
afirmou ao portal do Sindicato
de Jogadores.
Mais tarde, enquanto sénior,
esteve emprestado aos sadinos
pelo Sp.
Braga na primeira metade da época 2007-08, tendo marcado nove golos em 23
jogos e contribuído para uma caminhada que haveria de culminar na conquista da Taça
da Liga e no apuramento para a Taça
UEFA antes de se mudar para os gregos do AEK Atenas durante mercado de
inverno. “Fiquei magoado com o presidente [da comissão de gestão, Carlos Costa]
porque não teve uma atitude correta comigo. Deixou passar a mensagem de que eu
é que quis ir embora quando na verdade o que aconteceu foi uma boa oportunidade
para o Vitória
de Setúbal encaixar algum dinheiro no final da época. Os adeptos ficaram a
pensar que eu fui ingrato e isso não é verdade. Fiquei magoado por isso, mas
não guardo rancor nenhum”, lamentou.
Entretanto tornou-se
internacional português e representou clubes como Málaga,
PAOK, Marítimo, Académica,
novamente Sp.
Braga e dois emblemas turcos antes de regressar ao Vitória
de Setúbal em 2016-17. Nesta segunda passagem pelo Bonfim
amealhou 71 jogos e 19 golos, ajudando os vitorianos
a chegar à final da Taça
da Liga em 2017-18.
Na hora da saída, revelou alguma
mágoa. “A saudade estará presente todos dias, assim como o calor e o carinho de
todos estes adeptos sadinos
que me mostraram cada vez que orgulhosamente vesti esta camisola sagrada. Foi e
será sempre um orgulho para mim este Enorme Vitória
FC. Acho que merecia outro respeito por tudo que já dei ao Vitória,
não me querendo bastava dizer ao invés de mandarem recados, 'se não assinaram é
porque não querem ficar!' Eu entendi as entrelinhas e vi que não contavam
comigo”, escreveu nas redes sociais.
Após uma aventura de um ano no Feirense,
ingressou no Cova
da Piedade no verão de 2019. Embora o seu trajeto no emblema
piedense tivesse ficado marcado por uma lesão grave, Edinho
foi a tempo de totalizar 31 partidas e onze golos pela formação
azul-grená. “Só quando assinei pelo Cova
da Piedade é que tive a perceção de que o meu pai já tinha passado pelo
clube, mas é sempre gratificante representar um clube que ele representou e
também uma responsabilidade acrescida”, contou ao Diário
de Notícias em agosto de 2019.
Bruno Ribeiro (treinador)
Bruno Ribeiro |
Médio/extremo setubalense formado no Vitória,
transitou definitivamente para a equipa principal em 1994-95, apesar de ter
sido convocado para um jogo na época anterior.
Após 46 jogos e três golos entre 1994 e 1997, com uma descida à II
Liga e uma promoção à I
Liga pelo meio, deu o salto para o Leeds United, clube que lhe deu a
possibilidade de se tornar um dos primeiros portugueses a jogar na Premier
League.
Após três anos e meio em Inglaterra,
regressou a Portugal pela porta da União
de Leiria em dezembro de 2000, tendo depois passado por Beira-Mar e Santa
Clara antes de voltar ao Bonfim no
verão de 2003, tendo contribuído para a promoção à I
Liga nessa época de regresso. Em 2004-05 conquistou a Taça
de Portugal, tendo voltado a atingir a final no ano seguinte, e em 2007-08
venceu a Taça
da Liga. Nesta segunda passagem pelos sadinos,
que durou até 2010, amealhou 162 partidas e oito golos.
Após encerrar a carreira de jogador, iniciou a de treinador, tendo
dirigido a equipa principal do Vitória entre
março de 2011 e fevereiro de 2012 e entre janeiro e maio de 2005. Em 2010-11
também comando a equipa de juvenis e em 2018-19 a de juniores.
Entretanto, assumiu o comando técnico do Cova
da Piedade entre novembro de 2017 e maio de 2018, tendo levado os piedenses
à melhor classificação da sua história, o 9.º lugar na II
Liga, através de um saldo positivo de onze vitórias, nove empates, oito
derrotas e 35-32 em golos em 28 jogos.
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