Roberto Fresnedoso jogou no Atlético Madrid entre 1995 e 2002
Uma das maiores dificuldades que Paulo
Futre se deparou enquanto diretor desportivo do Atlético
Madrid foi colocar jogadores que não entravam nas contas do treinador.
No arranque da época 2002-03, que
marcou o regresso dos colchoneros
à I
Liga Espanhola, o problema maior para o português era o seu antigo
companheiro de equipa Roberto Fresnedoso, um médio internacional espanhol pelas
seleções jovens, mas que já tinha 29 anos e estava na lista de dispensas. Com
mais dois anos de contrato, recusava-se a deixar o clube: “Ou pagam-me tudo e
mandam-me embora, ou fico aqui.”
Figo transferiu-se para o Real Madrid no verão de 2000
Nos meses que antecederam as
eleições para os órgãos sociais do Real
Madrid no verão de 2000, tudo apontava para a reeleição de Lorenzo Sanz,
até porque os merengues
tinham acabado de vencer a oitava Liga
dos Campeões, dois anos após conquistar a sétima, depois de um jejum de
quase 50 anos. Foi o próprio Sanz, que até tinha mais um ano de mandato, que
decidiu marcar eleições antecipadas para reforçar a sua posição dentro do
clube.
Mas essa decisão tornou-se num
improvável passo em falso. Apesar da pujança desportiva, havia um homem
altamente descontente com a gestão financeira de Sanz, que tinha arrastado o
clube para um passivo que ultrapassava os 300 milhões de euros. E esse homem
era Florentino Pérez, um desconhecido, mas muito bem-sucedido empresário do
ramo da construção, que era o presidente e o principal acionista do grupo ACS.
As semanas da seleção
portuguesa que antecederam o Mundial 1986 dividem-se em dois grandes
momentos.
O primeiro foi o das reivindicações
dos jogadores, que começou em Portugal, com os atletas a exigir pagamentos à
Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e à Olivedesportos relativos a receitas
publicitárias, valores de diárias e prémios de presença, o que levou a que os
futebolistas chegassem a treinar em tronco nu ou com as camisolas do avesso
para esconder as marcas das quais não recebiam qualquer verba. Contam os
envolvidos que esses protestos até uniram um grupo que antes se encontrava
dividido: os do FC
Porto de um lado, os do Benfica
do outro.
Porfírio marcou quatro golos em 27 jogos pelo West Ham em 1996-97
Depois de uma birra por causa da
camisola 10, Paulo
Futre estreou-se pelo West
Ham como suplente utilizado num empate caseiro com o Coventry City, a 21 de
agosto de 1996, na 2.ª jornada da Premier
League. Seguiram-se quatro jogos seguidos como titular, sendo que no último
deles, numa receção ao Wimbledon, teve de ser substituído ainda no decorrer da
primeira parte devido a uma lesão no joelho direito, após ter levado uma
pancada.
Tendo em conta que o seu contrato
previa prémios de jogo especiais quer jogasse ou ficasse no banco, o extremo
internacional português, então com 30 anos, teve uma ideia para continuar a
ir ao banco… mesmo estando lesionado: sugerir a contratação de Hugo Porfírio,
que vinha de uma grande época na União
de Leiria por empréstimo do Sporting,
e tornar-se tutor dele.
Manuela Moura Guedes entrevistou Futre à distância em janeiro de 1993
Deu muito que falar a
transferência de Paulo
Futre do Atlético
Madrid para o Benfica
em janeiro de 1993. Em primeiro lugar, porque estava tudo acertado para um
regresso ao Sporting,
mas Sousa
Cintra deixou o jogador pendurado. Depois, pela verba astronómica que os encarnados,
então presididos por Jorge de Brito, pagaram aos colchoneros:
o equivalente a 3,5 milhões de euros… a pronto! Nunca um clube português havia
contratado um futebolista por tanto dinheiro.
A 25 de janeiro, a notícia da
nova aquisição levou os benfiquistas
à euforia. “A partir do momento em que cheguei a Lisboa, tudo o que se passou
foi uma loucura. Centenas de pessoas no aeroporto, cinco mil adeptos no meu
primeiro treino e 80 mil na apresentação (foi em dia de jogo e subi ao relvado
acompanhado por Eusébio
e Jorge de Brito). Já tinha ouvido o meu nome ser cantado em muitos estádios,
por muitos milhares de adeptos, mas nunca num tão grande como o Estádio
da Luz”, recordou no livro El Portugués.
Paulo Futre com Mário Soares, por quem passou a rezar sempre
O almirante Gouveia e Melo e outros
conservadores que me desculpem, mas felizmente faço parte de uma geração que
não viveu o serviço militar obrigatório. Tínhamos o Dia da Defesa Nacional e
quem quisesse seguir a carreira militar que o fizesse, mas sem uma
pós-adolescência condicionada. Se assim o é, devemo-lo a histórias como as de Paulo
Futre.
Em abril de 1986, quando tinha 20
anos, o antigo internacional português foi fazer a inspeção a Setúbal, um dia
após ter dado a vitória ao FC
Porto sobre o Vitória
Futebol Clube precisamente na mesma cidade, em jogo da penúltima jornada do
campeonato que praticamente garantiu o título nacional aos dragões.
O dia da inspeção transformou-se, por isso, quase numa sessão de autógrafos a
militares e futuros soldados.
Na ressaca de o FC
Porto ter vencido a Taça
dos Campeões Europeus em 1987, Paulo
Futre e Pinto
da Costa chegaram a fechar um acordo para uma transferência para o Inter
de Milão, com o clube a receber 250 mil contos (1,25 milhões de euros) e o
jogador, muito assediado naquela altura, um salário de 80 mil contos por ano
(400 mil euros).
Tudo apontava para a assinatura
de contrato após um mundialito de clubes disputado em Milão, mas apareceu em
cena Jesús
Gil y Gil. “Paulinho,
vem aí um homem de Espanha que é candidato a presidente do Atlético
Madrid. Parece que tem muito mais dinheiro. Tanto para o FC
Porto como para ti. Vamos ouvir o que ele tem para dizer”, disse Pinto
da Costa ao montijense.
Futre ladeado pelo peruano Jaime Duarte e o mexicano Hugo Sánchez
Paulo
Futre ainda era um menino de 18 anos que alternava entre o onze e o banco
de suplentes do Sporting
quando, durante umas férias na localidade espanhola de Benidorm, recebeu uma
chamada de um secretário do clube a indicar que tinha recebido um convite para
representar uma seleção do mundo num jogo frente ao Cosmos,
em Nova Iorque.
O jovem
extremo ainda pensou tratar-se de uma brincadeira, pois ainda não tinha
feito nada de especial para pertencer a essa elite, mas era mesmo verdade.
Ainda tentava conquistar a titularidade no Sporting
e foi chamado para jogar ao lado de vultos como Peter Shilton, Franz
Beckenbauer, Rudi Krol, Dominique Rocheteau, Felix Magath, Kevin
Keegan, Mario Kempes, Jean-Marie Pfaff e os portugueses Rui
Jordão e Fernando Gomes a 22 de julho de 1984.
Futre trocou o Sporting pelo FC Porto no verão de 1984
Paulo
Futre estreou-se pela equipa principal do Sporting
a 10 de maio de 1983, tendo sido lançado pelo treinador eslovaco Jozef Venglos num
jogo particular diante da Portuguesa
dos Desportos em Alvalade,
numa altura em que tinha 17 anos. Exibiu-se a bom nível, mas como nessa altura vigorava
uma regra que só permitia jogar no campeonato quem iniciasse a época já com 17
anos feitos – Futre
só comemorou o 17.º aniversário a 28 de fevereiro de 1983 –, o extremo canhoto
teve de esperar pela época seguinte para se estrear oficialmente.
E Futre
foi grande aposta de Venglos em 1983-84, tendo sido utilizado em 29 jogos (15 a
titular) e apontado três golos. Pelo meio somou a primeira de 41
internacionalizações pela seleção
nacional A, estreando-se num jogo diante da Finlândia
em setembro de 1983, quando tinha apenas 17 anos e 204 dias.
Futre jogou pelo Cancela na final de Alvalade em 1975 e 1976
Se há jogadores que falsificam
documentos para se apresentarem como mais jovens, no caso de Paulo
Futre foi precisamente o contrário: teve de utilizar uma identidade falsa
para poder entrar num torneio de futebol 11 organizado pelo Sporting
por ser demasiado novo. Rogério Paulo Viegas Alves foi o nome que teve de
fixar, quando tinha apenas nove anos, em 1975, para participar num torneio de
âmbito nacional chamado Onda Verde, destinado a rapazes dos 10 aos 13 anos.
Equipas de cidades e vilas de
Portugal podiam inscrever-se nesta competição preparada por Aurélio Pereira, o histórico
detetor de jovens talentos para o Sporting,
tendo em vista a prospeção nacional. Primeiro, as equipas disputavam uma
competição local. Depois, as melhores de cada localidade encontravam-se a nível
distrital. Por fim, as melhores de cada distrito faziam várias eliminatórias
até se apurar as duas finalistas, que jogariam a final no Estádio
José de Alvalade.
Futre somou dois golos em oito jogos pelo Marselha
No Verão Quente de 1993, que
ficou marcado por Paulo Sousa e Pacheco
terem rescindindo unilateralmente contrato com o Benfica
devido a salários em atraso e assinado pelo Sporting,
Paulo
Futre, que estava há menos de meio ano na Luz,
decidiu não seguir o exemplo dos ex-companheiros de equipa e assim proporcionar
um encaixe financeiro aos encarnados.
“Eu também podia rescindir e sair
para um clube estrangeiro a custo zero. O Marselha
pagou 3,5 milhões de euros ao Benfica
pelo meu passe. O mesmo que o Atlético
de Madrid tinha recebido uns meses antes. Podia ter invocado justa causa,
tornar-me jogador livre e ficar com esse valor só para mim (ou, pelo menos,
negociar uma parte substancial para receber logo à cabeça). Só não o fiz pelo
grande senhor Jorge de Brito. Sempre me tratou com enorme correção e não
merecia que eu saísse dessa maneira”, contou Futre
no livro El Portugués.
É verdade. A 5 de novembro de
2000, após uma derrota em casa ante o Tenerife (1-2), o Atleti
caiu para a 19.ª posição, ao cabo de onze jornadas. Se o campeonato terminasse
naquele dia, desceria para a II Divisão B. No dia seguinte, Paulo
Futre iniciou funções como diretor desportivo e começou a arrumar a casa.
Já depois de ter mostrado os testículos a todo o plantel, para pedir tomates
aos jogadores para saírem daquela situação, e de gerir a contestação ao
presidente Gil y Gil, começou a analisar o mercado à procura de um lateral
esquerdo, um trinco e um extremo. Certo dia, recebeu uma chamada
daquele que era o principal agente português na altura, José Veiga, que lhe
propôs a contratação de Dani,
um talentoso esquerdino capaz de jogar nas alas ou atrás do ponta de lança, mas
que estava completamente queimado no futebol devido à sua vida boémia. Tinha contrato com o Benfica,
mas as águias
queriam ver-se livres dele a todo o custo.
Futre fez anúncios de estimulantes sexuais masculinos
Fama não lhe faltava. E proveito
também não. Estrela de anúncios de estimulantes sexuais masculinos quando já ia
na meia idade, Paulo
Futre teve enquanto jovem, ao longo da sua carreira de futebolista,
“inúmeros episódios relacionados com o sexo feminino”. É o próprio que o assume
no livro El Portugués, publicado em 2011, e no qual conta que sempre
lidou “muito bem com esse assédio”, tendo passado por “algumas histórias
bizarras”.
Tudo começou no Porto. Com 19
aninhos e o estatuto de uma das principais figuras do FC
Porto, tinha “algumas amigas especiais, mas sem compromisso”, até que numa
viagem de Lisboa para o Porto de comboio, depois de representar a seleção
nacional, conheceu uma mulher na casa dos 30 e poucos anos. “Que senhora”,
disse para dentro, antes de a conversa começar a fluir. “Quando somos jovens, temos
sempre o objetivo de estar com uma mulher mais velha. Alguém que nos pode
ensinar outras coisas. E é isso que vai acontecer. Nesse dia começa uma
história louca entre nós. Posso dizer que ela se transforma na minha primeira
grande professora de sexo”, contou no livro.
Paulo Futre esteve perto de ganhar a Bola de Ouro em 1987
Mundialista quando ainda não era
moda Portugal ir a mundiais, campeão europeu pelo FC
Porto quando ninguém acreditava nos dragões,
bem-sucedido no estrangeiro quando nenhum futebolista português o tinha conseguido e admirado por sportinguistas,
benfiquistas
e portistas
como poucos o terão sido, o extremo montijense Paulo Futre quebrou barreiras ao
longo de uma carreira que as lesões não deixaram ser mais longa.
Em velocidade ou em drible curto,
mas sempre com a bola colada ao pé esquerdo, El Portugués, como ficou conhecido em Espanha,
foi uma personalidade rebelde, que não se escondia em campo e que também não
evitava o confronto fora das quatro linhas: foi de encontro a treinadores,
presidentes, o governo que o queria a cumprir serviço militar obrigatório e até
à Igreja que o via como mau exemplo por estar junto e ter filhos sem casar.
No dia em que o antigo jogador de
Sporting,
FC
Porto, Atlético
Madrid, Benfica,
Marselha, Reggiana, AC
Milan, West
Ham e Yokohama Flügels comemora o 55.º aniversário, vale a pena recordar os
dez jogos mais marcantes da carreira de Futre, por ordem cronológica.
Data de Nascimento: 28 de Fevereiro de 1966 (46 anos)
Naturalidade: Montijo, Portugal
Posição: Extremo
Altura: 175 cm
Peso: 74 kg
Internacionalizações: 41/6 golos (por Portugal)
Títulos: 1 Liga dos Campeões (1986/87, pelo FC Porto), 2 Ligas Portuguesas (1984/85 e 1985/86 pelo FC Porto), 1 Taça de Portugal (1992/93 pelo Benfica), 2 Supertaças Portuguesas (1984/85 e 1986/87 pelo FC Porto), 2 Copas del Rey (1990/91 e 1991/92 pelo Atlético Madrid) e 1 Liga Italiana (1995/96 pelo AC Milan)