Eriksson e Stromberg foram os primeiros nórdicos a chegar à Luz |
Anunciado recentemente como
reforços do Benfica
neste mercado de inverno e prestes a fazer a estreia de águia
ao peito, o ponta de lança dinamarquês Casper Tengstedt (ex-Rosenborg) e o
extremo norueguês Andreas Schjelderup (ex-Nordsjaelland) vão juntar-se ao
lateral direito dinamarquês Alexander Bah e ao médio norueguês Fredrik Aursnes para
dar continuidade à história de jogadores (e treinadores) nórdicos no Estádio da
Luz.
Esta (re)aposta recente dos encarnados
no mercado do norte da Europa traz à memória de muitos adeptos os plantéis benfiquistas
na década de 1980 e no início dos anos 1990, que tinham como denominador comum
a presença de jogadores suecos e/ou dinamarqueses. Contudo, foi necessário
esperar até ao século XXI para que chegassem à Luz os primeiros jogadores
noruegueses – os finlandeses e islandeses ainda terão de esperar.
Sven-Göran Eriksson |
Mas esta história começou não com
um jogador, mas sim com um treinador, que por sinal se haveria de tornar um dos
mais marcantes da história do Benfica,
o sueco Sven-Göran Eriksson. Acabadinho de guiar o Gotemburgo à
conquista da Taça
UEFA, foi contratado pelo então presidente benfiquista
Fernando Martins e desde logo primou por um futebol ofensivo e pela conquista
de troféus.
Durante a primeira passagem pela
Luz, de dois anos, venceu a dobradinha e levou o Benfica
à final da Taça
UEFA (perdida para o Anderlecht,
a duas mãos) em 1982-83, numa temporada em que o Benfica
venceu os primeiros 15 jogos oficiais, um recorde que ainda perdura. Na época
seguinte sagrou-se bicampeão, tendo rumado depois à AS
Roma.
Haveria de regressar aos encarnados
em 1989 para atingir a final da Taça
dos Campeões Europeus em 1989-90, perdida para o AC
Milan, e para conquistar o título nacional na temporada que se seguiu. Eriksson
era tão conceituado que Toni, técnico que levou as águias
ao título nacional em 1988-89, aceitou ser relegado para adjunto do sueco após
essa conquista.
Haveria de deixar novamente a Luz
em 1992 para rumar à Sampdoria.
Em duas temporadas na Luz amealhou
44 encontros e seis jogos, tendo conquistado dois campeonatos (1982-83 e
1983-84) e uma Taça
de Portugal (1982-83), tendo ainda ajudado os encarnados
a atingir a final da Taça
UEFA em 1982-83.
No verão de 1984 mudou-se para o futebol
italiano tal como o treinador que o levou para Lisboa, mas para reforçar a Atalanta.
Internacionalmente viveu o
momento mais alto da carreira em 1990, quando participou no Campeonato do Mundo
realizado em Itália.
Michael Manniche |
Quem ainda coincidiu com os
suecos Eriksson e Strömberg na Luz foi o possante ponta de lança (1,92 m)
dinamarquês Michael Manniche. “A minha maior qualidade? Sou mais alto do
que a maioria. Acho que é mesmo a única... Não encontro outra”, declarou à
chegada a Portugal.
Recrutado no verão de 1983 ao
modesto Hvidovre IF e apelidado de “tosco”, conseguiu em quatro épocas tornar-se
no melhor marcador estrangeiro da história do Benfica,
com 76 golos em 132 jogos – entretanto, foi superado pelo Mats Magnusson (87),
pelo brasileiro Jonas (137) e pelo paraguaio Óscar Cardozo (172).
Entre 1983 e 1987 conquistou dois
campeonatos (em 1983-84 e 1986-87), três Taças
de Portugal (1984-85, 1985-86 e 1986-87) e uma Supertaça
Cândido de Oliveira (1985).
Após quatro anos de águia
ao peito, transferiu-se para o Copenhaga.
Ebbe Skovdahl |
Depois da experiência bem-sucedida
com Eriksson, o Benfica
voltou a contratar um treinador no mercado nórdico no verão de 1987, desta
feita o dinamarquês Ebbe Skovdahl, proveniente do Brondby, clube que guiou
ao título nacional dinamarquês e aos quartos de final da Taça
dos Campeões Europeus nesse mesmo ano.
Contudo, a experiência não correu
muito bem. Skovdahl levava dez vitórias, três empates e três derrotas em 16
jogos quando deixou o cargo, após uma igualdade a dois golos na receção ao Farense
na 12.ª jornada do campeonato, a 27 de novembro de 1987, tendo sido substituído
por Toni. O técnico dinamarquês deixou as águias
em segundo lugar na I
Divisão, em igualdade pontual com o Boavista e a cinco pontos do líder FC
Porto, e ainda em prova tanto na Taça
de Portugal como na Taça
dos Campeões Europeus.
“Foi um bom período da minha
carreira, muito bom para a minha vida e não sai a mal do Benfica.
Foram cerca de seis meses e, pelo que me lembro, estávamos em segundo lugar do
campeonato e nos quartos-de-final da Taça
dos Campeões Europeus. Aliás, nesse ano o Benfica
chegou à final, mas perdeu para o PSV”,
recordou ao Maisfutebol
em dezembro de 2008.
Após deixar a Luz voltou ao
Brondby.
Haveria de falecer em outubro de
2020, aos 75 anos.
Mats Magnusson |
Quando saiu Manniche, entrou para
o seu lugar o ponta de lança sueco Mats Magnusson, ligeiramente mais
baixo (1,85 m) mas ainda assim possante, precisamente por indicação de
Skovdahl. “Pensava que estava no topo da carreira, na Suécia, quando em julho
de 1987 o meu empresário me ligou e disse que tinha o Benfica
ao telefone. Não acreditei, pensei que estava a brincar comigo”, confessou ao Maisfutebol
em fevereiro de 2017.
“Para mim era um sonho, estava a
jogar na Suécia e tinha ido muitas vezes ao antigo Estádio da Luz em estágios
com o Malmö. Vi vários jogos na Catedral e para mim naquela altura era uma
utopia jogar e entrar naquele campo”, acrescentou.
Recrutado ao Malmö, clube pelo
qual se havia sagrado campeão da Suécia em 1986, deixou a sua marca na Luz, ao
somar 87 golos em 163 jogos, registo que faz dele o terceiro melhor marcador estrangeiro
da história benfiquista,
sendo apenas superado por Óscar Cardozo e Jonas – mas deteve o primeiro lugar
deste ranking durante cerca de duas décadas.
Além dos muitos remates
certeiros, o avançado conquistou dois campeonatos (1988-89 e 1990-91) e uma Supertaça
Cândido de Oliveira (1989) e atingiu duas finais da Taça
dos Campeões Europeus (1987-88 e 1989-90) durante os cinco anos que passou
de águia
ao peito. Em 1989-90, quando já era orientado pelo compatriota Sven-Göran
Eriksson, foi ainda o melhor marcador do campeonato português, com 33 golos – o
principal perseguidor, o portista Rui Águas, não foi além de 16.
Pelo meio, marcou presença no
Campeonato do Mundo de Itália, em 1990.
Haveria de deixar a Luz no verão
de 1992, rumo ao Helsingborgs.
“Tenho muito orgulho em ser benfiquista.
Amo o Benfica
muito, de coração”, assegurou.
Jonas Thern |
Quem ainda coincidiu Eriksson e
Magnusson na Luz foi o também sueco Jonas Thern, um médio que pertencia
aos quadros do Malmö, clube pelo qual havia conquistado dois campeonatos e duas
taças da Suécia.
Com uma estadia em Lisboa que
coincidiu totalmente com a segunda passagem de Eriksson pelos encarnados,
este centrocampista amealhou 101 jogos e dez golos de águia
ao peito entre 1989 e 1992, tendo conquistado uma Supertaça
(1989) e um campeonato (1990-91) e contribuído para a caminhada até à final da Taça
dos Campeões Europeus em 1989-90. “Claro que me lembro bem desse tempo. Fui
campeão, joguei uma final da Taça
dos Campeões e podia ter chegado a outra, gostei muito de jogar em Portugal”,
afirmou ao Record
em outubro de 2001.
Pelo meio, marcou presença no
Campeonato do Mundo de Itália, em 1990.
No verão de 1992, após a
participação no Campeonato da Europa que se realizou precisamente no seu país e
no qual a Suécia atingiu as meias-finais, mudou-se para o Nápoles.
Stefan Schwarz |
Numa altura em que Eriksson, Magnusson
e Thern ainda estavam no Benfica,
no verão de 1990 chegou à Luz o lateral esquerdo/médio centro sueco Stefan
Schwarz, também proveniente do Malmö, clube pelo qual conquistou um
campeonato e uma taça da Suécia, poucas semanas após ter participado no Mundial
de Itália.
Ao longo de quatro temporadas de águia
ao peito totalizou 111 encontros – que podiam ser mais, caso não tivesse sofrido
uma lesão que o travou durante a primeira época na Luz – e dez golos, tendo
conquistado dois campeonatos (1990-91 e 1993-94) e uma Taça
de Portugal (1992-93). Em 1993-94 ajudou ainda os encarnados
a atingir as meias-finais da Taça das Taças. “Tivemos grandes momentos. Grandes
jogos. O 6-3 com o Sporting,
em Alvalade.
A vitória sobre o Arsenal,
em Londres, por 3-1, no prolongamento. O empate 4-4 com o Bayer Leverkusen, na
Alemanha… Grandes recordações desses tempos”, recordou ao Correio
da Manhã em janeiro de 2012.
Pelo meio contribuiu para a
caminhada da anfitriã Suécia até às meias-finais do Euro 1992.
No verão de 1994, após participar
no Campeonato do Mundo dos Estados Unidos, transferiu-se para o Arsenal.
“Vou assistir a quase todos os
jogos no Estádio da Luz. O Benfica
é o meu clube do coração, a minha equipa”, afirmou.
Martin Pringle |
Pela primeira vez em mais de uma
década, o Benfica
não teve jogadores nórdicos no plantel em 1994-95 e 1995-96. Contudo, em
1996-97 surgiu mais um avançado de elevada estatura (1,90 m) no Estádio da Luz,
Martin Pringle, proveniente do Helsingborgs, clube em que chegou a atuar
ao lado de Magnusson.
De águia
ao peito, o atacante mostrou entre agosto de 1996 e dezembro de 1998 por que
razão… não costumava ser convocado à seleção da Suécia, pela qual não foi além
de dois jogos, ambos antes de reforçar os encarnados.
Em 55 encontros, marcou apenas oito golos, não tendo conquistado qualquer
troféu. “Em pouco mais de dois anos, passei do Stenungsunds IF [uma equipa
modesta na Suécia] para o Benfica.
Isso levou-me a pensar que eu era, de facto, muito bom jogador, mas, quando
cheguei ao Benfica,
rapidamente percebi que não era assim tão bom”, afirmou ao jornal sueco Aftonbladet
em abril de 2020.
“O Benfica
vendeu o Brian Deane ao Middlesbrough e o treinador, Graeme Souness, contratou
o Dean Saunders, um jogador que ele contratava para todos os clubes que
treinava. Ao mesmo tempo, o presidente [João Vale e Azevedo] ainda foi buscar o
Jorge Cadete. No plantel, ainda havia o Nuno Gomes, que estava em ascensão, e a
grande estrela da equipa, o João Pinto. Depois de tanto me esforçar, passei de
primeira para quinta opção”, acrescentou.
Em janeiro de 1999 foi emprestado
aos ingleses do Charlton, pelos quais acabou por assinar a título definitivo
meio ano depois.
Anders Andersson |
Após mais dois anos e meio sem
jogadores nórdicos, o Benfica
voltou ao mercado escandinavo no verão de 2001 para contratar o médio sueco Anders
Andersson, que representava os dinamarqueses do Aalborg e havia estado ao
serviço da sua seleção no Euro
2000, realizado na Bélgica e na Holanda.
“O verão de 2001 foi realmente
algo fora do comum para mim. Ir para o Benfica
e para Lisboa foi esmagador, algo muito maior do que qualquer outra coisa que
experimentei no futebol. Para um sueco era difícil entender o que esperar,
mesmo que eu achasse que estava preparado. O facto de o interesse em Portugal
ser tão grande foi um choque”, afirmou ao Sportbladet em abril de 2020.
Em duas temporadas e meia na Luz,
o centrocampista nunca se conseguiu impor como titular, tendo vivido na sombra
de jogadores como Fernando Meira e Ednilson na primeira época e Tiago e Petit
no ano e meio que se seguiu. Ao longo desse período somou 57 jogos e um golo de
águia
ao peito, tendo contribuído para a conquista da Taça
de Portugal em 2003-04, embora já estivesse ao serviço do Belenenses
quando os encarnados
ergueram o troféu no Jamor.
“Sei como é conhecer o Manchester
United e ouvir Old Trafford cantar para Ole Gunnar Solskjaer You Are My
Sunshine. É realmente poderoso, mas não é o Benfica,
onde a paixão é incrivelmente grande, as pessoas seguem-te para onde quer que
vás”, contou.
Azar Karadas |
Depois de sete suecos e dois
dinamarqueses, o Estádio da Luz abriu as portas a um norueguês no verão de
2004, Azar Karadas, um possante ponta de lança (1,89 m) que também podia
atuar como… defesa central.
Karadas chamou a atenção do Benfica
quando marcou às águias
ao serviço do seu anterior clube, o Rosenborg, numa eliminatória da Taça
UEFA em fevereiro e março de 2004, e foi contratado logo à primeira
oportunidade.
Em 2004-05 participou em 36 jogos
e apontou seis golos em todas as provas, ajudando os encarnados
a sagrarem-se campeões nacionais após onze anos de jejum e a atingirem a final
da Taça
de Portugal, perdida para o Vitória
de Setúbal. “O senhor Trap [Giovanni Trapattoni] gostava de mim, tenho essa
ideia. Fui titular logo no início e marquei dois golos ao Beira-Mar.
Que sensação! Olhava para o meu lado e via o Simão e o Nuno Gomes a fazerem o
que queriam da bola. O Mantorras era o meu amigo de banco, como lhe dizia. Era
apaixonado pelo Benfica
e pelo jogo”, afirmou ao Maisfutebol
em maio de 2010.
“Era fantástico jogar com aquela
camisola. Era lindo jogar no Estádio da Luz. Os adeptos criam um ambiente
fantástico e apoiam muito. Essas são as maiores recordações que tenho do Benfica.
Estou orgulhoso de ter jogado no Benfica.
A conquista do campeonato com os adeptos do Benfica
em euforia foi, de facto, muito bom”, afirmou ao portal zerozero em
dezembro de 2015.
O avançado haveria de continuar
vinculado ao Benfica
até 2007, mas passou os dois últimos anos de contrato emprestado, primeiro aos
ingleses do Portsmouth e depois aos alemães do Kaiserslautern.
Daniel Wass |
Após um hiato de meia dúzia de
anos, o lateral direito dinamarquês (já internacional A) Daniel Wass foi
recrutado no verão de 2011 ao Brondby, foi apresentado ao lado do médio
defensivo Nuno Coelho e do guarda-redes Artur Moraes, fez a pré-época às ordens
de Jorge
Jesus e chegou a disputar alguns jogos particulares, mas depois foi prontamente
emprestado aos franceses do Evian e não voltou à Luz.
“Se há algo que gostaria de mudar
na minha carreira, é ter assinado pelo Benfica.
Nunca confiaram em mim e nem sequer me deram a oportunidade de demonstrar as
minhas qualidades", afirmou à revista Kaiser em novembro de 2014.
Em julho de 2012 acabou por
assinar pelo Evian a título definitivo, num negócio que rendeu dois milhões de
euros aos cofres encarnados.
Victor Lindelof |
Precisamente no verão em que
Wass saiu em definitivo, entrou o defesa central sueco Victor Lindelof, recrutado
por pouco mais de três milhões de euros ao Vasteras, clube do seu país pelo qual
já tinha disputado cerca de 50 encontros pela equipa principal apesar de ainda
ter idade de júnior, tendo ainda chegado a jogar pelos sub-19 encarnados.
Os três primeiros anos e meio em
Portugal foram passados sobretudo na equipa P, pela qual totalizou 96 jogos e
dois golos na II
Liga entre setembro de 2012 e dezembro de 2015. Pelo meio sagrou-se campeão
europeu de sub-21, tendo batido os ex-companheiros de equipa Bernardo
Silva e Ivan Cavaleiro na final disputada em Praga.
Depois fixou-se na equipa
principal, pela qual em 2013-14 tinha disputado dois jogos que lhe valeram a conquista
do título nacional e da Taça
de Portugal, e perfilou-se como uma peça importante na conquista dos dois
últimos títulos do tetracampeonato (2015-16 e 2016-17), tendo ainda vencido
mais uma Taça
de Portugal (2016-17), uma Taça
da Liga (2015-16) e uma Supertaça
Cândido de Oliveira (2016).
No verão de 2017 transferiu-se
para o Manchester
United, tendo rendido 35 milhões de euros aos cofres das águias,
após 73 encontros e dois golos pela equipa principal.
Desde que Lindelof saiu para
Inglaterra, foi necessário esperar até ao início da presente temporada para
voltar a ver nórdicos na Luz. O lateral direito internacional dinamarquês Alexander
Bah foi contratado ao Slávia Praga por oito milhões de euros, destronou o
brasileiro Gilberto e viu os bons desempenhos permitirem-lhe ser chamado ao
Mundial 2022. Já o médio norueguês Fredrik Aursnes, recrutado ao
Feyenoord por 13 milhões de euros, ainda não se estabeleceu como um titular
indiscutível, mas com a sua polivalência tem aproveitado algumas ausências para
ir jogando ora no duplo pivot do meio-campo ora numa das alas do ataque.
Paralelamente, o guarda-redes
sueco Alexander Sandahl está desde 2020-21 nos quadros do Benfica,
tendo já passado por juvenis, juniores e equipa sub-23; o extremo islandês Stigur-Diljan
Thordarson chegou no início desta época ao clube, tendo já percorrido juvenis
B, juvenis e juniores; e os irmãos luso-finlandeses Lucas (defesa
central) e Tomás von Hellens (guarda-redes) estiveram nas camadas
jovens encarnadas
entre 2017 e 2021 e entre 2019 e 2021, respetivamente.
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