quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

“Eu no defense. Attack, attack!”. Quando Futre deixou Beckenbauer à beira de um ataque de nervos

Futre ladeado pelo peruano Jaime Duarte e o mexicano Hugo Sánchez
Paulo Futre ainda era um menino de 18 anos que alternava entre o onze e o banco de suplentes do Sporting quando, durante umas férias na localidade espanhola de Benidorm, recebeu uma chamada de um secretário do clube a indicar que tinha recebido um convite para representar uma seleção do mundo num jogo frente ao Cosmos, em Nova Iorque.
 
O jovem extremo ainda pensou tratar-se de uma brincadeira, pois ainda não tinha feito nada de especial para pertencer a essa elite, mas era mesmo verdade. Ainda tentava conquistar a titularidade no Sporting e foi chamado para jogar ao lado de vultos como Peter Shilton, Franz Beckenbauer, Rudi Krol, Dominique Rocheteau, Felix Magath, Kevin Keegan, Mario Kempes, Jean-Marie Pfaff e os portugueses Rui Jordão e Fernando Gomes a 22 de julho de 1984.
 
Futre não foi titular e até pensava que não ia jogar um único minuto, mas foi lançado pelo treinador brasileiro Telê Santana durante a segunda parte, quando o resultado estava 1-1. “Garoto, você também joga de lateral esquerdo, não é?”, perguntou o técnico. “Sim, mister. Já joguei a lateral esquerdo umas quinze vezes, mais quatro ou cinco a central e uma vez a lateral direito, mas muito mal. Aí não me ponha…”, respondeu o português. “Tudo mentira. Nunca tinha jogado à defesa. Praticamente nunca tinha baixado do meio-campo. Era péssimo a defender. Mas queria jogar. Nem que fosse a guarda-redes”, confessou o extremo montijense no livro El Portugués. “Então, entra aí”, disse Telê Santana.
 
O problema é que Futre não estava virado para defender durante a meia hora de jogo que tinha pela frente. “Pensei logo que se o meu pai ali estivesse começava aos gritos para eu atacar. Ou seja: a honra que senti por estar em campo ao lado daqueles deuses da bola só durou um minuto”, lembrou.
 
“Mal recebia a bola, desatava a correr pelo flanco e só parava lá à frente. Eles chamavam-me, recuava, pedia desculpa (com as mãos no ar) e arrancava novamente para o ataque. Ataquei tanto que, num desses lances, já estava a extremo direito. No lado oposto onde deveria estar. Perdi a bola, o Cosmos armou um contra-ataque e fez o 2-1. A culpa foi totalmente minha. Fiquei sem o esférico na direita e o golo foi pelo lado do lateral esquerdo fantasma. Onde eu deveria estar. O Beckenbauer e o Krol vieram ao meio-campo discutir comigo. Os dois aos gritos. A dizerem que eu tinha de defender. Respondi no meu inglês atabalhoado: ‘Eu no defense. Attack, attack. No defense.’”, contou Futre, que, reforce-se, tinha apenas 18 anos e ainda nem era titular indiscutível no Sporting.

 
Três anos depois, Futre e Beckenbauer reencontraram-se na final da Taça dos Campeões Europeus, numa altura em que o português atuava pelo FC Porto e o alemão integrava a estrutura do Bayern Munique. “Fiz questão de lhe ir falar: ‘Sabes quem eu sou? No defense. Attack, attack! New York, Cosmos.’ Lembrou-se”, revelou o extremo.



 






  

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