Geração de ouro portuguesa atingiu meias-finais do Euro 2000 |
12 de junho de 2000. Ainda dava
eu os primeiros passos como adepto do futebol. A época de clubes já tinha
terminado, com o
Sporting a sagrar-se campeão 18 anos depois, mas a
perder a final da Taça de Portugal para o FC Porto. Mas havia ainda mais
futebol para ver no mês que se seguiu.
Lembro-me perfeitamente de ligar
a televisão nesse final de tarde e verificar que Portugal, cuja maior parte dos
jogadores eu desconhecia, perdia por 2-1 frente a Inglaterra a meio da primeira
parte. Poucos minutos depois, João Vieira Pinto empatou o encontro através de
um cabeceamento fantástico, na sequência de um mergulho na área que surpreendeu
a defesa inglesa.
Depois, na segunda parte, Nuno
Gomes marcou o golo da vitória portuguesa – e, se bem me lembro, ainda viu um
outro remate certeiro ser-lhe anulado. Só depois do encontro – não sei frisar
se horas, dias, meses ou anos depois – é que tive conhecimento que a equipa das
quinas tinha estado a perder por 0-2. E também só algum tempo depois é que tive
real noção do valor da seleção inglesa, composta por craques como David Seaman,
Sol Campbell, Tony Adams, Paul Ince, Paul Scholes, David Beckham, Michael Owen
e Alan Shearer.
Seguiu-se a Roménia, que aos meus
olhos acabou por parecer um dos ossos mais duros de roer naquele Campeonato da
Europa. Lembro-me de o meu pai dizer várias vezes que admirava um jogador
romeno que dava pelo nome de Hagi, de uma excelente defesa de Vítor Baía a
atirar a bola por cima da trave (que me conquistou como seu eterno fã) e do
golo de Costinha a acabar.
Já com o apuramento para os
quartos de final, o selecionador Humberto Coelho promoveu algumas alterações
para o terceiro e último jogo da fase de grupos, frente a Alemanha. Naquela
altura, eu não sabia quem eram Oliver Kahn, Michael Ballack ou Lothar Matthäus,
eu fiquei foi a saber quem era Sérgio
Conceição, autor de um hat trick
nessa noite memorável em Roterdão. 3-0, ganhou Portugal.
Nos quartos de final, Portugal
encontrou pela frente a Turquia e venceu por 2-0, com dois golos de Nuno Gomes,
ambos com assistência de Luís Figo. Pelo meio, Vitor Baía ganhou mais a minha
admiração ao defender uma grande penalidade, uma situação que, naquela altura,
era bastante mais improvável do que é hoje.
Próxima etapa: meias-finais.
Portugal tinha um dos melhores jogadores do mundo, Luís Figo, e outros a atuar
num nível bastante elevado, como Fernando Couto e Sérgio
Conceição (ambos da Lazio), Paulo Sousa (Parma),
Rui Costa (Fiorentina), Abel Xavier (Everton), Ricardo Sá Pinto (Real
Sociedad), Paulo Bento (Oviedo) e Pauleta (Deportivo da Corunha). Mas no futebol
português também estavam grandes figuras, como os benfiquistas João Vieira
Pinto e Nuno Gomes ou os portistas Vítor Baía e Jorge Costa.
No entanto, França e Holanda
reuniam nas suas comitivas alguns dos melhores jogadores de algumas das
melhores equipas do planeta. E Itália reuniam uma autêntica seleção do
campeonato italiano, que na altura era o mais competitivo do mundo, com os
tradicionais Juventus,
AC
Milan e Inter de Milão sempre fortes e AS Roma, Lazio, Parma
e Fiorentina a atravessar períodos fantásticos.
França, adversária de Portugal,
tinha nomes como Fabien Barthez e David Trezeguet (Mónaco),
Bixente Lizarazu (Bayern), Laurent Blanc (Inter de Milão), Lilian Thuram (Parma),
Marcel Desailly e Didier Deschamps (Chelsea),
Patrick Vieira, Emmanuel Petit e Thierry Henry (Arsenal),
Zinédine Zidane (Juventus)
e Nicolas Anelka (Real Madrid).
Holanda, cuja base era composta
pelos jovens que a meio da década de 1990 venceu uma Liga
dos Campeões e atingiu outra final pelo Ajax,
não ficava muito atrás: Edwin van der Sar e Edgar Davids (Juventus),
Michael Reiziger, Frank de Boer, Boudewijn Zenden, Phillip Cocu, Ronald de Boer
e Patrick Kluivert (Barcelona),
Jaap Stam (Manchester United), Clarence Seedorf (Inter de Milão), Dennis
Bergkamp e Marc Overmars (Arsenal)
e Roy Makaay (Deportivo da Corunha).
Por fim, uma grande Itália, ainda
com alguns nomes do grande AC
Milan que dominou o futebol europeu no início da década de 1990, como Paolo
Maldini e Demetrio Albertini; algumas jogadores de uma Juventus
que na segunda metade dos anos 1990 atingiu por três vezes a final da Liga
dos Campeões, como Ciro Ferrara, Gianluca Pessotto, Alessandro Del Piero, Angelo
Di Livio, Mark Iuliano, Pippo Inzaghi e Antonio Conte; uma das figuras Lazio
campeã italiana em 1999-00, Alessandro Nesta; um dos esteios do Parma
vencedor da Taça
UEFA em 1998-99, Fabio Cannavaro; e três atacantes que viriam a ajudar a AS
Roma a conquistar o título italiano em 2000-01, Vincenzo Montella, Francesco
Totti e Marco Delvecchio.
Na final, Itália esteve em
vantagem desde o minuto 55 até ao 90. Francesco Toldo – um guarda-redes que
passei a admirar desde então e que na minha opinião tem sido extremamente
subvalorizado quando o tema é grandes guardiões do futebol mundial das últimas
décadas – defendeu quase tudo, mas não travou um remate de Sylvain Wiltord que
atirou a decisão para prolongamento. Em novo Golo de Ouro, David Trezeguet foi
o herói que permitiu a França juntar o título europeu ao mundial (conquistado
dois anos antes).
Não sei se foi por ter sido o
primeiro Campeonato da Europa que acompanhei, mas arrisco dizer que o Euro 2000
foi o grande torneio de seleções em que senti estavam presentes seleções na
verdadeira aceção da palavra, a nata do futebol europeu, com vários conjuntos
de sonho de craques, os melhores que o velho continente tinha para oferecer.
A partir daí, e com a chegada dos
Galácticos ao Real Madrid de Florentino Pérez, fui começando a sentir que os
melhores clubes europeus é que eram verdadeiras seleções mundiais. Foi como se
a partir daí passasse a existir a seleção do Real Madrid, a seleção do AC
Milan, a seleção do Barcelona,
a seleção do Manchester United ou a seleção do Chelsea
e, por outro lado, a equipa de França, a equipa da Holanda e a equipa de
Itália.
Recentemente, li uma entrevista
em que o autor do livro Sueños de la Euro,
Miguel Lourenço Pereira, corrobora e resume este meu sentimento. “O Euro 2000
resume em sintonia tudo aquilo que devia ser uma competição de elite de
seleções de verão”, começou por dizer à Tribuna
Expresso. “Eu acho que [o Euro 2000] resume o que eram as competições de
seleções e o que deixaram de ser. A Liga
dos Campeões, de certa maneira, matou aquilo que era a ideia das
competições das seleções, que era juntar os melhores do mundo, ou neste caso do
Continente, num cenário cíclico e durante gerações os adeptos de futebol só
podiam ver os melhores do mundo juntos quando viam Mundial ou Europeu. Quando
aparece a Liga
dos Campeões isso desaparece porque eles estão lá a cada 15 dias. Os jogos
são cada vez mais cíclicos entre os melhores e esses duelos míticos que se esperavam
de quatro em quatro anos para ganhar forma ou de dois em dois passam a
acontecer a cada semana, a cada quinzena, a cada trimestre. Isso tira um pouco
de lustro à ideia das competições de seleções que também tinham outra coisa
muito importante que a Internet destruiu: o desconhecimento”, acrescentou, numa
outra resposta.
euro 2004 !!!
ResponderEliminar