segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A rejeição de Toshack, a nega à Académica e a casa na Caparica. A história da ida de Futre para o FC Porto

Futre trocou o Sporting pelo FC Porto no verão de 1984
Paulo Futre estreou-se pela equipa principal do Sporting a 10 de maio de 1983, tendo sido lançado pelo treinador eslovaco Jozef Venglos num jogo particular diante da Portuguesa dos Desportos em Alvalade, numa altura em que tinha 17 anos. Exibiu-se a bom nível, mas como nessa altura vigorava uma regra que só permitia jogar no campeonato quem iniciasse a época já com 17 anos feitos – Futre só comemorou o 17.º aniversário a 28 de fevereiro de 1983 –, o extremo canhoto teve de esperar pela época seguinte para se estrear oficialmente.
 
E Futre foi grande aposta de Venglos em 1983-84, tendo sido utilizado em 29 jogos (15 a titular) e apontado três golos. Pelo meio somou a primeira de 41 internacionalizações pela seleção nacional A, estreando-se num jogo diante da Finlândia em setembro de 1983, quando tinha apenas 17 anos e 204 dias.
 
Mas no final da temporada, o técnico eslovaco foi demitido, não resistindo a uma campanha sem títulos, na qual o Sporting não foi além do 3.º lugar no campeonato, a 2.ª eliminatória da Taça UEFA e as meias-finais da Taça de Portugal.
 
Para o seu lugar foi contratado John Toschack, que logo durante uma digressão de final de época nos Estados Unidos disse a Futre que não contava com ele no plantel. A intenção do treinador galês era que o extremo ganhasse rodagem num emblema de menor dimensão, tendo até sugerido a Académica. Em seguida, a imprensa começou a falar no assunto, noticiando “Futre na Académica”. Mas o então jovem de 18 anos não aceitou. Considerava que merecia mais.
 
Após um treino matinal em Alvalade e quando estava a assinar autógrafos, um homem que nunca tinha visto abordou-o sobre uma suposta casa na Costa da Caparica que tinha para vender. A localização não era por acaso: Futre desde os oito anos que passava férias numa tenda no parque de campismo na Costa da Caparica, conhecia muito bem aquela zona e gostava de ir para lá.

 
Quando chegou ao carro para ver um suposto catálogo, o suposto vendedor apresentou-se como Domingos Pereira, um representante do FC Porto, que o levou para a casa do Porto na Avenida da República, em Lisboa. Lá o montijense recebeu uma proposta de 27 mil contos (cerca de 135 mil euros) por um contrato de três anos com direito a carro e uma casa com avaliação próxima dos 20 mil euros, numa altura em que ganhava apenas 70 contos (350 euros) por mês no Sporting e estava em vias de ser emprestado à Académica.
 
Entusiasmado com a proposta, mas vinculado por mais oito anos ao clube do coração, Futre tentou falar com o presidente João Rocha para pedir um improvável aumento, mas o melhor que conseguiu foi verbalizar a intenção de auferir 18 mil contos (cerca de 90 mil euros) em três anos ao dirigente Armando Biscoito. “O presidente diz que estás louco”, respondeu dias depois o mesmo responsável.
 
Paralelamente, prosseguiu a pressão do FC Porto, tendo o vice-presidente Alexandre Magalhães rumado a Lisboa para selar o acordo e levar o extremo para a Invicta, com Domingos Pereira ao volante.
 
Quando chegou às Antas, por volta das seis da manhã, entrou numa sala onde estava reunida toda a direção do FC Porto, incluindo o presidente Pinto da Costa, que logo ali lhe vaticinou um futuro risinho: “Vais ser tu e mais dez.” Mais tarde, o treinador Artur Jorge disse-lhe o mesmo.
 
Futre assinou pelos dragões antes ainda de rescindir com o Sporting, com a bomba a cair por volta das três da tarde. O até então companheiro de equipa Manuel Fernandes, que deveria dar boleia a Futre para o treino, não sabia de nada. E ninguém fazia ideia onde estava o jovem extremo.
 
Escondido em casa do dirigente Álvaro Braga e sempre acompanhado por guarda-costas quando estava na rua devido ao perigo de ser sequestrado até se estrear pelo FC Porto, lá conseguiu rescindir com justa causa, alegando motivos psicológicos. “Foi a primeira e única vez que alguém conseguiu ter sucesso com este tipo de alegação. Em resumo: se eu ficasse no Sporting podia dar em louco. O argumento era esse. E resultou”, escreveu no livro El Portugués.

 
“Foram três meses diabólicos. Andava num estando de completa ansiedade, mas o FC Porto acabou por ser a melhor decisão da minha vida profissional. Foi naquele clube que explodi para o mundo do futebol. Ganhei muitos títulos e sagrei-me campeão europeu. Teria continuado em Alvalade noutras condições, mas não fui respeitado como merecia. As pessoas do FC Porto acreditaram no meu potencial. Contrataram-me para jogar. Para ganhar. Não queriam emprestar-me a outros clubes”, prosseguiu. 



 






Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...