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Roberto Fresnedoso jogou no Atlético Madrid entre 1995 e 2002 |
Uma das maiores dificuldades que
Paulo
Futre se deparou enquanto diretor desportivo do
Atlético
Madrid foi colocar jogadores que não entravam nas contas do treinador.
No arranque da época 2002-03, que
marcou o regresso dos
colchoneros
à
I
Liga Espanhola, o problema maior para o português era o seu antigo
companheiro de equipa Roberto Fresnedoso, um médio internacional espanhol pelas
seleções jovens, mas que já tinha 29 anos e estava na lista de dispensas. Com
mais dois anos de contrato, recusava-se a deixar o clube: “Ou pagam-me tudo e
mandam-me embora, ou fico aqui.”
Já em desespero,
Futre
pensou no mercado português, mais precisamente o
Vitória
de Guimarães, na altura presidido por
Pimenta
Machado e um crónico candidato ao apuramento para as competições europeias.
Não só tentou aliciar o jogador com um desafio diferente e próximo de casa como
ainda lhe vendeu a ideia de que iria viver numa cidade belíssima, conforme
contou no livro
El Portugués: “Roberto, Guimarães é a Veneza de
Portugal. Uma cidade tranquila, sem pressão, podes jogar à vontade e acabar a
carreira descansado.”
Também
Pimenta
Machado foi iludido com o jeito regateador e o portunhol de
Futre,
que disse ao
líder
vimaranense que Fresnedoso se tinha apaixonado por uma portuguesa que vivia
em Braga e não queria jogar em mais lado nenhum a não ser no norte de Portugal,
avisando que mais cedo ou mais tarde o agente do futebolista iria falar com o
grande rival
Sp.
Braga.
Pimenta
Machado deixou-se convencer, mas Fresnedoso mantinha-se irredutível. E
Futre
viu-se obrigado a recorrer a um esquema inusitado, pedir ajuda a uma amiga “com
mentalidade de homem: se gosta de um tipo, faz tudo para dar uma queca”. “Ok,
Paulo.
Eu ajudo-te”, foi a resposta que obteve.
Quem também entrou no esquema foi
Dani,
a quem
Futre
deu ordem de soltura para sair à noite… desde que levasse o amigo Fresnedoso, solteiro
e com gosto pelas saídas noturnas. “Amanhã não precisas de vir ao treino.
Invento uma desculpa para o treinador e digo que tiveste de ir a Portugal
tratar de um assunto pessoal. Mas com uma condição: tens de levar o Roberto
contigo para beberem um copo. Quando estiveres a entrar na discoteca, ligas para
mim a informar-me. Vai uma miúda do outro mundo meter-se com ele. Mas atenção,
Dani:
estás completamente proibido de olhar para ela. Nem sequer falas. Ela aparece e
tu desapareces e vais à tua vida”, disse o diretor desportivo do
Atlético
Madrid ao compatriota e sobretudo seu jogador.
O plano correu conforme previsto.
No dia seguinte, à tarde, a amiga de
Futre
deu-lhe boas notícias: “Ontem à noite, grande queca com o Roberto. Hoje vamos
voltar a estar juntos.” Um dia depois, mais boas notícias para o diretor desportivo:
“Nova noite com o Roberto e nova queca época. Mais uma noite e ele apaixona-se
por mim.”
Entretanto, Roberto Fresnedoso e
a amiga de
Futre
começaram a ganhar confiança também para desabafar. E o jogador confessou que o
português, “um filho da puta de primeira”, lhe andava a fazer a “vida num
inferno” para deixar o
Atlético
Madrid. A conversa fluiu até que o médio falou na possibilidade que lhe
havia sido apresentada para reforçar o
Vitória
de Guimarães. “Guimarães, Roberto? Guimarães é uma cidade linda. Só pode
ser comparada com Veneza, mas eu prefiro mil vezes Guimarães. Era uma cidade
onde não me importava nada de viver”, disse a mulher, que estava absolutamente
coordenada com
Futre.
Foi a primeira vez que Fresnedoso
começou a hesitar, tendo prometido “pensar melhor” sobre a possibilidade de
rumar ao Minho.
Futre
ficou um pouco mais aliviado, mas ao mesmo tempo com um peso na consciência por
ter mentido ao jogador sobre a cidade de Guimarães. Contudo, dois dias depois
Fresnedoso foi ao escritório do diretor desportivo e deixou-o surpreendido ao
anunciar-lhe que queria ir para o Salamanca, da II Liga Espanhola, que lhe
pagaria praticamente o mesmo que o
Vitória
(cerca de 300 mil euros por época), desde que o
Atlético
Madrid pagasse o resto do seu contrato. Os dois apertaram a mão e assinaram
a rescisão.
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