quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

“Guimarães é a Veneza de Portugal” e as quecas com a amiga. Como Futre convenceu excedentário a deixar o Atlético Madrid

Roberto Fresnedoso jogou no Atlético Madrid entre 1995 e 2002 
Uma das maiores dificuldades que Paulo Futre se deparou enquanto diretor desportivo do Atlético Madrid foi colocar jogadores que não entravam nas contas do treinador.
 
No arranque da época 2002-03, que marcou o regresso dos colchoneros à I Liga Espanhola, o problema maior para o português era o seu antigo companheiro de equipa Roberto Fresnedoso, um médio internacional espanhol pelas seleções jovens, mas que já tinha 29 anos e estava na lista de dispensas. Com mais dois anos de contrato, recusava-se a deixar o clube: “Ou pagam-me tudo e mandam-me embora, ou fico aqui.”
 
Já em desespero, Futre pensou no mercado português, mais precisamente o Vitória de Guimarães, na altura presidido por Pimenta Machado e um crónico candidato ao apuramento para as competições europeias. Não só tentou aliciar o jogador com um desafio diferente e próximo de casa como ainda lhe vendeu a ideia de que iria viver numa cidade belíssima, conforme contou no livro El Portugués: “Roberto, Guimarães é a Veneza de Portugal. Uma cidade tranquila, sem pressão, podes jogar à vontade e acabar a carreira descansado.”
 
Também Pimenta Machado foi iludido com o jeito regateador e o portunhol de Futre, que disse ao líder vimaranense que Fresnedoso se tinha apaixonado por uma portuguesa que vivia em Braga e não queria jogar em mais lado nenhum a não ser no norte de Portugal, avisando que mais cedo ou mais tarde o agente do futebolista iria falar com o grande rival Sp. Braga.
 
Pimenta Machado deixou-se convencer, mas Fresnedoso mantinha-se irredutível. E Futre viu-se obrigado a recorrer a um esquema inusitado, pedir ajuda a uma amiga “com mentalidade de homem: se gosta de um tipo, faz tudo para dar uma queca”. “Ok, Paulo. Eu ajudo-te”, foi a resposta que obteve.
 
Quem também entrou no esquema foi Dani, a quem Futre deu ordem de soltura para sair à noite… desde que levasse o amigo Fresnedoso, solteiro e com gosto pelas saídas noturnas. “Amanhã não precisas de vir ao treino. Invento uma desculpa para o treinador e digo que tiveste de ir a Portugal tratar de um assunto pessoal. Mas com uma condição: tens de levar o Roberto contigo para beberem um copo. Quando estiveres a entrar na discoteca, ligas para mim a informar-me. Vai uma miúda do outro mundo meter-se com ele. Mas atenção, Dani: estás completamente proibido de olhar para ela. Nem sequer falas. Ela aparece e tu desapareces e vais à tua vida”, disse o diretor desportivo do Atlético Madrid ao compatriota e sobretudo seu jogador.

 
O plano correu conforme previsto. No dia seguinte, à tarde, a amiga de Futre deu-lhe boas notícias: “Ontem à noite, grande queca com o Roberto. Hoje vamos voltar a estar juntos.” Um dia depois, mais boas notícias para o diretor desportivo: “Nova noite com o Roberto e nova queca época. Mais uma noite e ele apaixona-se por mim.”
 
Entretanto, Roberto Fresnedoso e a amiga de Futre começaram a ganhar confiança também para desabafar. E o jogador confessou que o português, “um filho da puta de primeira”, lhe andava a fazer a “vida num inferno” para deixar o Atlético Madrid. A conversa fluiu até que o médio falou na possibilidade que lhe havia sido apresentada para reforçar o Vitória de Guimarães. “Guimarães, Roberto? Guimarães é uma cidade linda. Só pode ser comparada com Veneza, mas eu prefiro mil vezes Guimarães. Era uma cidade onde não me importava nada de viver”, disse a mulher, que estava absolutamente coordenada com Futre.
 
Foi a primeira vez que Fresnedoso começou a hesitar, tendo prometido “pensar melhor” sobre a possibilidade de rumar ao Minho.
 
Futre ficou um pouco mais aliviado, mas ao mesmo tempo com um peso na consciência por ter mentido ao jogador sobre a cidade de Guimarães. Contudo, dois dias depois Fresnedoso foi ao escritório do diretor desportivo e deixou-o surpreendido ao anunciar-lhe que queria ir para o Salamanca, da II Liga Espanhola, que lhe pagaria praticamente o mesmo que o Vitória (cerca de 300 mil euros por época), desde que o Atlético Madrid pagasse o resto do seu contrato. Os dois apertaram a mão e assinaram a rescisão.







  

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