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Futre jogou pelo Cancela na final de Alvalade em 1975 e 1976 |
Se há jogadores que falsificam
documentos para se apresentarem como mais jovens, no caso de
Paulo
Futre foi precisamente o contrário: teve de utilizar uma identidade falsa
para poder entrar num torneio de futebol 11 organizado pelo
Sporting
por ser demasiado novo. Rogério Paulo Viegas Alves foi o nome que teve de
fixar, quando tinha apenas nove anos, em 1975, para participar num torneio de
âmbito nacional chamado Onda Verde, destinado a rapazes dos 10 aos 13 anos.
Equipas de cidades e vilas de
Portugal podiam inscrever-se nesta competição preparada por Aurélio Pereira, o histórico
detetor de jovens talentos para o
Sporting,
tendo em vista a prospeção nacional. Primeiro, as equipas disputavam uma
competição local. Depois, as melhores de cada localidade encontravam-se a nível
distrital. Por fim, as melhores de cada distrito faziam várias eliminatórias
até se apurar as duas finalistas, que jogariam a final no
Estádio
José de Alvalade.
Futre
integrou o Cancela, uma equipa do Montijo treinada pelo próprio pai, mas como ainda
não tinha idade para participar teve de encontrar uma solução ilegal, a
inscrição com o BI do vizinho, o tal Rogério Paulo Viegas Alves, que tinha “Ginja”
como alcunha.
O Cancela foi ganhando, ganhando
e… passou todas as eliminatórias até à final, o que valeu a
Futre
a primeira experiência no estádio do
Sporting.
E logo com uma identidade falsa. O adversário foi uma equipa da casa, os
Leõezinhos. Depois de um empate a zero no final do prolongamento, os montijenses
ganharam nos penáltis.
Após o encontro, Aurélio Pereira
interessou-se logo por aquele rapazinho esquerdino e habilidoso. “Onde é que
está o Rogério Paulo Viegas Alves?”, perguntou. Mas
Futre,
com medo de ser apanhado, fugiu.
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Equipa do Cancela na final de Alvalade |
No ano seguinte, o
Sporting
voltou a organizar o torneio. E aí
Futre
já entrou com o próprio nome. Voltou a estar em bom plano e a ajudar o Cancela
a chegar à final, desta feita perdida para o Liceu de Camões. Aurélio Pereira
contactou o pai de
Futre
e disse-lhe que o queria levar para o
Sporting,
mas o progenitor do craque não autorizou que o filho viajasse todos os dias de
transportes públicos para Lisboa. Afinal, tinha apenas dez anos.
Entretanto, foi anunciado que
Portugal iria fazer uma seleção de sub-11 para jogar um torneio internacional
na localidade francesa de Rocheville e haveria vários testes de forma a apurar
os 16 melhores jogadores nacionais elegíveis.
Futre,
como será escusado dizer, ficou aprovado em todas as captações. E com direito a
braçadeira de capitão. Naquela que foi a sua primeira viagem de avião, foi
considerado o melhor jogador do torneio, ajudando Portugal a chegar à final,
perdida para a anfitriã França. No regresso a Lisboa, tinha Aurélio Pereira à
espera no aeroporto. E desta feita o pai de
Futre
não conseguiu resistir: o filho foi mesmo contratado para o
Sporting.
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