sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Faz hoje anos que morreu a “Gazela de Benguela”. Quem se lembra de Rui Jordão?

Jordão representou Benfica, Sporting e Vitória de Setúbal em Portugal
Há cinco anos o futebol português ficou mais pobre, com a morte de um dos seus melhores avançados de todos os tempos, Rui Manuel Trindade Jordão, o quase-herói da seleção nacional na meia-final diante de França no Euro 1984 e um dos elementos de um dos tridentes ofensivos mais demolidores já vistos no nosso país, juntamente com António Oliveira e Manuel Fernandes no Sporting.
 
O percurso desportivo de Rui Jordão até começou num Sporting, mas o de Benguela, onde também praticava atletismo. Os leões de Lisboa tinham-no debaixo de olho, mas uma lesão contraída numa corrida esfriou o interesse. Quem aproveitou foi o Benfica que, num processo a fazer lembrar o de Eusébio, recrutou-o à filial leonina de Angola por 30 contos. Por isso, mas também pelas semelhanças físicas e técnicas, recebeu logo a alcunha de “novo Eusébio”.
 
A verdade é que o avançado, que começou pelos juniores dos encarnados, não defraudou as expetativas, tendo sido lançado por Jimmy Hagan em setembro de 1971, a tempo de jogar ao lado de… Eusébio. Nessa época conquistou a dobradinha, estreou-se pela seleção nacional A e brilhou na Taça da Independência do Brasil, na qual Portugal foi derrotado na final pelo escrete.
 
Apesar de a ascensão ter sido travada por uma grave lesão no menisco sofrida num lance com o portista Gabriel num clássico disputado na Luz em outubro de 1974, com uma rotura nos ligamentos e diversas fraturas, regressou em grande em 1975-76, temporada na qual se sagrou melhor marcador da I Divisão, com 30 golos.
 
 
Bastante cobiçado, este felino goleador transferiu-se para os espanhóis do Saragoça no verão de 1976, num negócio que rendeu nove mil contos aos cofres das águias, despedindo-se dos encarnados com quatro campeonatos nacionais e uma Taça de Portugal na bagagem.
 
 
Contudo, Jordão não se adaptou ao clube de Aragão e regressou a Portugal pela porta do clube do coração, o Sporting, aceitando o repto lançado pelo presidente João Rocha. O Benfica ainda tentou desviá-lo para a Luz, oferecendo uma proposta mais alta, mas o presidente leonino subiu a parada.
 
Em Alvalade, o atacante formou uma dupla letal com Manuel Fernandes entre 1977 e 1986, à qual se juntou António Oliveira entre 1981 e 1985. Nesse período conquistou dois campeonatos, outras tantas Taças de Portugal e uma Supertaça. Em 1979-80, época do primeiro título nacional de leão ao peito, voltou a sagrar-se melhor marcador do campeonato português, com 31 golos.
 
 
Mais uma vez, Jordão mostrou toda a sua resiliência, ao renascer das cinzas após lesões graves. Em fevereiro de 1978, num dérbi na Luz, Alberto fraturou-lhe a tíbia da perna direita e ouviu em coro a acusação de “assassino”. No segundo jogo após o regresso aos relvados, numa receção ao Famalicão, uma entrada do futuro companheiro de equipa José Eduardo fraturou-lhe o perónio da perna esquerda e rompeu-lhe os ligamentos da tibiotársica.
 
Em termos de seleção nacional, pela qual contabilizou 43 internacionalizações e 15 golos, viveu o ponto alto no Euro 1984. Marcou dois golos na meia-final diante de França, mas não evitou a derrota (2-3) e consequente eliminação da equipa das quinas.
 
 
Após o Campeonato da Europa esteve perto de se transferir para o FC Porto, mas o coração verde e branco de Jordão e o esforço financeiro de João Rocha para segurar o avançado fizeram-no continuar em Alvalade.
 
A “gazela de Benguela” haveria de deixar o Sporting em 1986, numa altura em que o treinador Manuel José não contava com ele.
 
Depois de época e meia de inatividade, regressou aos relvados em dezembro de 1987, com a camisola do Vitória de Setúbal, tendo voltado a ser orientado por Malcolm Alisson, treinador leonino aquando da dobradinha de 1981-82, e a jogar ao lado de Manuel Fernandes. Mais: numa fase em que estavam castigados todos os futebolistas que tinham estão envolvidos na greve em Saltillo, durante o Mundial 1986, regressou à seleção em outubro de 1988, tendo participado em dois particulares e numa partida da fase de qualificação para o Mundial 1990, quando já tinha 36 anos.
 
Em ano e meio no Bonfim somou 62 jogos e 12 golos, ajudando os sadinos a conseguir um honroso 5.º lugar em 1988-89, na última temporada carreira de Jordão.
 
 
Após pendurar as botas deixou o futebol para sempre e dedicou-se à pintura e o desenho. Licenciou-se em História da Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e fez na Sociedade de Belas Artes o Curso de Belas-Artes em Pintura, Desenho e Modelagem. Algumas das suas obras estão expostas em galerias de arte, museus, Câmaras Municipais e outros locais.
 
Viria a falecer a 18 de outubro de 2019, aos 67 anos, após algumas semanas internado devido a problemas cardíacos.



 




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