segunda-feira, 21 de abril de 2025

O médio sem espaço no Sporting que Mourinho quis no FC Porto. Quem se lembra de Ricardo Fernandes?

Ricardo Fernandes representou Sporting e FC Porto
Médio de características ofensivas, com qualidade técnica, e bom executante de bolas paradas, nasceu em Moreira de Cónegos e cresceu futebolisticamente nas camadas jovens do Desportivo das Aves, mas quando transitou para sénior mudou-se para o Moreirense, então na II Liga.
 
Entre 1997 e 2000 contribuiu para uma ascensão meteórica do Freamunde na pirâmide do futebol português, da III Divisão Nacional ao meio da tabela da II Liga, explodindo em 1999-00 com nove golos em 31 jogos no segundo escalão.
 
No início dessa época assinou um contrato válido com o Sporting a partir da temporada seguinte, tendo chegado a fazer a pré-época às ordens de Augusto Inácio e participado em vários encontros particulares no verão de 2000, mas na hora da verdade foi emprestado ao Santa Clara, tendo ajudado os açorianos a sagrarem-se campeões da II Liga.
 
Em 2001-02 estreou-se na I Liga com a camisola do Gil Vicente, por empréstimo dos leões, e somente na temporada que se seguiu é que ficou definitivamente integrado no plantel dos verde e brancos, então às ordens de Laszlo Bölöni.
 
Depois de uma boa pré-época, com alguns golos, foi suplente utilizado no jogo inaugural da temporada, diante do Inter de Milão para a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, e titular na goleada ao Leixões para a Supertaça Cândido de Oliveira (5-1), tendo estado em evidência ao bisar e falhar um penálti.
 
 
Nessa fase inicial da época foi beneficiando da ausência de João Vieira Pinto, suspenso devido a uma agressão ao árbitro do Portugal-Coreia do Sul no Mundial 2002, mas rapidamente perdeu espaço após o regresso à atividade do “grande artista”. Desapareceu da equipa no final de setembro e reapareceu a meio de dezembro para bisar numa goleada ao Oliveira do Hospital para a Taça de Portugal (8-1) e entre o final de janeiro e início de fevereiro, tendo apontado um golo num triunfo sobre o Paços de Ferreira em Alvalade para o campeonato (4-0).
 
 
Feitas as contas, fechou a temporada 2002-03 com 12 jogos e cinco golos pela equipa principal e nove partidas pela equipa B. “Cheguei ao final da época sem saber se o homem [Bölöni] gostava muito de mim ou não gostava nada de mim. Isto não é uma crítica. A nível pessoal tivemos sempre boa relação, só que eu percebia que não ia jogar. Tinha vindo de uma época boa no Gil Vicente, tinha sido a minha estreia na I Liga. Inicio a pré-época a pensar: ‘Aqui vai ser mais difícil, não me dou como perdido, mas sei bem que vai ser difícil, apesar do João estar castigado e jogarmos mais ou menos na mesma posição...’ A minha vontade foi sempre sair. Entrei com vontade de ser emprestado. Percebi que o Bölöni não valorizava muito aquilo que fazia, mas fui andando devagarinho e sempre com esta coisa de querer sair”, recordou à Tribuna Expresso em outubro de 2018.
 
 
Apesar da escassa utilização, tinha um fã chamado… José Mourinho, treinador do FC Porto que havia acabado de conquistar campeonato, Taça de Portugal e Taça UEFA. Já o técnico que sucedeu a Bölöni no Sporting, Fernando Santos, era um grande apreciador das qualidades do extremo portista Clayton. Os clubes conversaram e deu-se uma troca de jogadores. “Eu na altura estava lesionado, tinha feito uma cirurgia ao ombro, estava parado e fiquei um bocadinho com o pé atrás. Custava-me a acreditar, apesar de saber que o Mourinho já me queria ter levado para Leiria. Tinha jogado pouco no Sporting. O FC Porto estava a ganhar tudo naquela época e ia-se lembrar do Ricardo Fernandes? Mas surgiu aquela situação da troca com o Clayton e o presidente contacta-me. Nunca tinha falado com o Pinto da Costa, mas quando ouvi aquela voz do outro lado... Não acreditava. Só que é uma voz inconfundível”, lembrou.
 
Ainda que tapado por Deco, conseguiu atuar em 21 encontros numa equipa que venceu Supertaça Cândido de Oliveira, campeonato e Liga dos Campeões e que ainda disputou a Supertaça Europeia e a final da Taça de Portugal. Ricardo Fernandes foi utilizado em todas essas competições, tendo defrontado, por exemplo, AC Milan na Supertaça Europeia e Real Madrid e Manchester United na Champions.
 
“Até cheguei bem, comecei a época com confiança, mas fui perdendo-a. Aquilo era tudo tão perfeito que eu olhava mais para o lado do que para mim próprio. Acabou por me prejudicar”, explicou, ao Maisfutebol, em maio de 2022. “Fui à Corunha com o meu pai, de carro, e o Mourinho gostou de me ver no balneário no final. Depois, na final [da Champions], fiquei na bancada com o Secretário. Era a minha companhia em muitos jogos e o Secretário até brincava com a situação: ‘Tu és o 19.º jogador, eu sou o 20.º. E foi assim que festejei na Alemanha, de fato”, acrescentou o médio, que ao serviço dos azuis e brancos se sagrou campeão nacional da I Divisão depois ter feito o mesmo na II Divisão B e na II Liga e de ter sido vice-campeão da III Divisão após ter vencido a sua série.
 
Dispensado por Luigi del Neri, rescindiu com o FC Porto e teve a possibilidade de assinar por Vitória de Guimarães e Sp. Braga, mas acabou por optar por rumar à Académica. Apesar de ter algum estatuto, foi pouco utilizado em Coimbra, não indo além de 22 jogos e dois golos (ambos ao Sp. Braga na jornada inaugural) em todas as competições em 2004-05.
 
 
 
Seguiram-se onze anos no estrangeiro, em países como Chipre – foi campeão pelo APOEL em 2006-07 e venceu a taça cipriota na época anterior –, Ucrânia, Israel e Grécia, antes de regressar a Portugal em 2016 para competir no Campeonato de Portugal ao serviço do Trofense e posteriormente do Felgueiras, tendo pendurado as botas em 2018, aos 40 anos.
 
   
 
Após encerrar a carreira focou-se nos negócios, tendo passado a gerir um restaurante japonês - Miyuki - no Parque das Termas de Vizela.







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