Hoje faz anos o campeão europeu pelo FC Porto que devolveu o Sporting aos títulos. Quem se lembra de Inácio?
Augusto Inácio é ídolo tanto no FC Porto como no Sporting
Lateral esquerdo lisboeta formado
no Sporting,
muito seguro, regular e com capacidade ofensiva, estreou-se pela equipa
principal aos 20 anos, a 5 de abril de 1975, tendo sido lançado por Fernando
Riera para o lugar do amigo Fernando
Tomé nos minutos finais de uma goleada à Académica,
em Coimbra, para a Taça
de Portugal (1-4).
Cerca de mês e meio depois
alcançou as primeiras internacionalizações da carreira, pela seleção
de sub-21 no Torneio de Toulon. Na temporada seguinte conquistou
um lugar no onze como lateral direito, função que desempenhou durante dois anos
apesar de ser canhoto, e foi assim que chegou à seleção
nacional A, pela qual se estreou numa vitória sobre Chipre em Limassol
(1-2) em dezembro de 1976, em partida a contar para a fase de apuramento para o
Mundial 1978. Na época 1977-78 não só se fixou
no lado esquerdo do setor defensivo, roubando a titularidade ao brasileiro Da Costa,
como conquistou o primeiro troféu da carreira, a Taça
de Portugal. Mais adiante, foi um dos esteios
da equipa
leonina que em 1979-80 venceu o campeonato nacional e da que em 1981-82
conquistou a dobradinha.
Após o sucesso coletivo de 1982,
divergências contratuais levaram-no a deixar o Sporting
e a assinar pelo FC
Porto juntamente com o central Eurico, despedindo-se ao fim de 206 jogos e
sete golos. Augusto Inácio ainda pediu ao emblema
de Alvalade para lhe pagar dois mil contos por ano quando tinha uma
proposta de cinco mil contos por ano dos dragões,
mas os responsáveis verde
e brancos recusaram e deram-lhe carta branca para assinar pelos portistas. Nas Antas manteve o nível
exibicional, agora de azul
e branco, e reforçou o estatuto na seleção
nacional, tendo sido chamado para o Mundial
do México, em 1986, que marcou o ponto final na sua carreira internacional
(de 25 partidas), devido ao Caso
Saltillo.
Em 1989 encerrou a carreira de
futebolista e arrancou a de treinador, também no FC
Porto, tendo conquistado o título nacional de juniores logo na sua primeira
época como técnico, em 1989-90. Em 1991-92 assumiu o comando do Rio
Ave na II
Liga, tendo orientado uma equipa com vários ex-juniores portistas,
tais como Rui
Jorge, Cao, Tulipa, Bino e Jorge Silva, mas falhou a subida de divisão. Entretanto voltou às Antas para
ser adjunto de Carlos Alberto Silva, Tomislav Ivic e Bobby
Robson, tendo contribuído para o início da sequência do pentacampeonato
(1994-95 a 1998-99). Em 1996 deixou novamente o FC
Porto e somou algumas experiências pouco conseguidas ao leme de Felgueiras,
Marítimo
e Desp.
Chaves. No comando dos insulares
ainda conseguiu o apuramento para a Taça
UEFA em 1998, mas deixou os Barreiros pela porta pequena. Apesar de um currículo como
treinador não muito atrativo, foi convidado pelo presidente José Roquete para
treinar o Sporting
no final de setembro de 1999, com a missão de orientar interinamente a equipa
até à chegada de um novo técnico, de quem seria adjunto. Mas as coisas
começaram a correr-lhe muito bem, apesar das expetativas baixas até dos
próprios dirigentes, e conseguiu ainda em 1999-00 levar os leões
ao título nacional que lhes escapava há 18 anos e à final
da Taça de Portugal.
Embora tivesse sido elevado ao
estatuto de herói e vencido o Prémio Stromp na categoria Técnico – tornou-se o
primeiro a conseguir a distinção como jogador e treinador, depois de a ter
ganho como futebolista em 1978 –, foi despedido em dezembro de 2000, após uma
derrota pesada às mãos do Benfica
de José
Mourinho na Luz
(3-0), no culminar de uma crise diretiva e de uma revolução no plantel que não
correu bem. Nos dias que se seguiram ainda foi readmitido e definitivamente
despedido. “O Pedro Barbosa fez-me a cama.
Eu sei que fez. Mais tarde é que soube. E pela forma como ele agiu juntamente
com o Duque percebi, não posso estar a garantir, mas acho que à custa daquilo o
Pedro Barbosa ganhou mais dois anos de contrato. Acho. É uma dedução apenas. O
Pedro Barbosa fez tudo para a gente perder o jogo na Luz,
quando foi o 3-0. Fez tudo. Fez tudo para vir para a rua e o Coroado
mais tarde veio contar-me que ele fez tudo para vir para a rua. O Coroado
estava a fugir dele, ele é que estava atrás do árbitro, já tinha um amarelo.
Nós a perder 1-0 e em cima do Benfica
para 1-1 e fiquei sem ele? Depois, no contra-ataque, o João Tomás, 2-0, 3-0.
Depois do jogo, o Pedro Barbosa estava lá em cima no balneário e quando íamos
entrar ele estava a bater as palmas e a dizer: ‘Malta, eu assumo’. Subi as
escadas, fui direito a ele e chamei-lhe tudo. ‘Meu grande filho da puta, mas tu
assumes o quê? Vais dizer para os jornais que foste tu o culpado, o único
culpado da derrota? És tu que vais dizer isso ou dizes isso aqui para inglês
ver? És um capitão de merda, não vales uma merda’. O Duque ficou do lado dele.
Pronto, está tudo feito. Depois há a história rocambolesca do é despedido,
depois volta...já é outra história”, contou à Tribuna
Expresso em fevereiro de 2018.
Haveria de prosseguir a carreira
em emblemas de menor dimensão, com resultados para todos os gostos. Guiou o Vitória
de Guimarães ao quarto lugar na I
Liga em 2002-03, tornou-se no primeiro treinador a ser campeão da I
e da II
Ligas ao vencer o título do segundo
escalão pelo Beira-Mar
em 2005-06 e conquistou a Taça
da Liga pelo Moreirense
em 2016-17, mas a verdade é que saiu dos três clubes na mó de baixo. Lá fora
treinou Pep Guardiola no Al Ahli do Qatar (em 2004-05) e venceu ainda uma
Supertaça de Angola pelo Interclube (2008). O último clube que orientou foram
os brasileiros do Avaí
em 2020. Paralelamente, foi diretor geral
de futebol do Sporting
durante a presidência de Bruno
de Carvalho, entre 2013 e 2015, e desempenhou o papel de comentador na SIC
e na Sporting TV.
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