Nuno Valente em disputa de bola com Cristiano Ronaldo |
Ainda não era nascido quando FC
Porto e Manchester
United se defrontaram na 2.ª eliminatória da Taça das Taças em 1977-78 e
ainda não ligava a futebol aquando do duplo confronto entre as duas equipas nos
quartos de final da Liga
dos Campeões em 1996-97. Mas lembro-me bem dos dois jogos entre dragões
e red
devils nos oitavos de final da Champions
em 2003-04. Ainda assim, é uma memória antiga o suficiente para remontar aos
tempos em que em Portugal o clube
inglês era simplesmente chamado de Manchester – ignorando a existência de
um emblema, na altura de muito menor importância, na mesma cidade.
A receção aos red
devils, a 25 de fevereiro de 2004, foi o primeiro jogo internacional do
Estádio
do Dragão, e culminou na vitória portista
por 2-1. Curiosamente, os três golos do encontro foram apontados por
sul-africanos. Depois de Fortune ter dado vantagem aos ingleses
aos 14 minutos, o compatriota Benni McCarthy bisou para os azuis
e brancos (29’ e 78’). Nota ainda para o cartão vermelho direto exibido a
Roy Keane devido a um pisão em Vítor Baía (87’).
“Não deve haver sentido de humor
britânico que chegue para Sir
Alex Ferguson conseguir rir-se do jogo de ontem. O Manchester
saiu chamuscado das Antas e o treinador do campeão
inglês ficou a saber que em Portugal não se compram títulos no supermercado:
ganham-se em campo. A eliminatória não ficou decidida ontem, mas o FC
Porto parte para o jogo da segunda mão dos oitavos-de-final da Liga
dos Campeões com o Manchester
United em vantagem. Ora, conseguir chegar a Inglaterra em vantagem, depois de
ter estado a perder na estreia do Dragão
na liga
milionária, não deveria deixar um travo tão acentuado a pouco, mas a
verdade é que o domínio que o FC
Porto exerceu ao longo de todo o encontro merecia mais”, podia ler-se na
edição do dia seguinte do jornal O Jogo.
Duas semanas depois, o FC
Porto viajou até ao norte de Inglaterra na tentativa de segurar a vantagem.
Apesar das muitas cautelas, o Manchester
United mostrou-se incisivo e chegou ao golo aos 32 minutos, por intermédio
de Paul Scholes. À beira do intervalo, o médio inglês podia ter bisado, mas o
árbitro russo Valentin Ivanov anulou o golo, por fora de jogo (inexistente),
por indicação de um dos seus assistentes.
Na segunda parte os dragões
apertaram o cerco à baliza de Tim Howard e acabaram por chegar à glória já em
tempo de compensação, com Costinha
a marcar o golo que garantiu a passagem para os quartos de final aos 90
minutos, na recarga a um livre de Deco. A grande imagem de marca dos festejos
portistas foi a corrida eufórica de Mourinho
junto à linha lateral.
“Trágico, ao jeito das tragédias
gregas. Alex
Ferguson acicatou Old Trafford – o Teatro dos Sonhos - como se fosse um cão
contra as ‘mariquices’ do FC
Porto e até haverá qualquer coisa de criminoso no incentivo que deu aos
maus instintos dos seus adeptos. ‘Pansies, pansies, pansies’ (maricas,
maricas, maricas), foi o que tivemos nos ouvidos durante todo o jogo, a cada
toque, a cada queda portista
no relvado, sem o mínimo critério, fosse a falta genuína ou não. Escrevo ‘tivemos’
porque a nacionalidade dos jornalistas presentes em determinada zona da bancada
de Imprensa, fronteiriça com os mastins de Ferguson,
formava um alvo perfeito – e por aí se explica que, ao milionésimo ‘pansies’,
um segundo depois de Costinha
ter desfeito a eliminação do FC
Porto, me tenha levantado e tomado a mais criminosa das atitudes: gritei
golo várias vezes e fiz uma ridícula cara de mau, a meio metro da fatalidade
(estava rigorosamente na fronteira), sob a forma de meia-dúzia de personagens
sem pescoço que me queriam ver sem cabeça. Inadmissível, nada profissional, mas
revigorante e muito agradável se houver seguranças da UEFA por perto”, escreveu
José Manuel Ribeiro na sua crónica no jornal O Jogo.
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