quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Os 10 jogos mais marcantes da carreira de José Mourinho

José Mourinho comemora 60 anos esta quinta-feira
De Setúbal a Roma. De ser adjunto durante uma década a virar o treinador português que abriu as portas da Europa e do mundo aos compatriotas. De aposta surpreendente de Vale e Azevedo à tatuagem com os troféus europeus conquistados. Da conferência de imprensa em que prometeu um FC Porto campeão aos bate-bocas com treinadores adversários na Premier League. José Mourinho tem feito por merecer a alcunha com que se autointitulou quando chegou pela primeira vez a Inglaterra já com um título europeu no currículo: special one.
 
Nascido à beira-Sado a 26 de janeiro de 1963, José Mário dos Santos Mourinho Félix poderá até já não estar na lista de treinadores desejados pelos tubarões europeus quando estes pensam em mudar de homem do leme, mas continua a ser o treinador português mais bem-sucedido de sempre e um dos técnicos mais conceituados do futebol europeu.
 
Ao longo de mais de duas décadas de carreira, Mourinho conquistou 26 títulos: duas Ligas dos Campeões, duas Ligas Europa, uma Liga Conferência, três ligas inglesas, duas ligas italianas, uma liga espanhola, duas ligas portuguesas, uma Taça de Itália, uma Taça de Inglaterra, uma Taça do Rei de Espanha, uma Taça de Portugal, quatro Taças da Liga de Inglaterra, uma Supertaça de Itália, duas Supertaças de Inglaterra (FA Community Shield), uma Supertaça de Espanha e uma Supertaça Cândido de Oliveira.
 
Vale por isso a pena conferir a nossa lista dos dez jogos mais marcantes da carreira de José Mourinho, por ordem cronológica.
 
 
23 de setembro de 2000 – I Liga portuguesa (5.ª jornada)
O primeiro jogo de José Mourinho como treinador principal.  presidente benfiquista de então, Vale e Azevedo, tinha acabado de despedir o conceituado Jupp Heynckes após um início de época pautado por maus resultados e pobres exibições. O alemão até se despediu com uma vitória, ainda que bastante sofrida na receção ao Estrela da Amadora – dois golos do avançado holandês Pierre van Hooijdonk ao cair do pano depois de um golo inaugural do estrelista Djalma aos 79 minutos -, mas para trás ficaram derrotas com FC Porto (0-2) e com os suecos do Halmstads (1-2), um empate em Leiria (1-1) e um triunfo caseiro sobre o Beira-Mar (4-1).
A escolha do substituto recaiu sobre o jovem José Mourinho, 37 anos, que nunca tinha dirigido uma equipa sénior como treinador principal, apesar de ter passado por Sporting, FC Porto e Barcelona como adjunto.
“O Boavista aumentou para dez o número de jogos consecutivos sem perder com o Benfica, derrotando a equipa do estreante José Mourinho por 1-0, graças a um golo marcado logo no primeiro remate do jogo por Duda, um avançado que há uns anos não serviu a Souness, mas que fez sábado o terceiro tento no campeonato. Uma desatenção defensiva nos minutos de entrada neste arrojado 4x3x3 que Mourinho trouxe de Barcelona para a Luz foi fatal a um Benfica que ainda completou a primeira parte na mó de cima, mas que se foi abaixo quando foi necessário recorrer às substituições”, escreveu o Record na crónica do jogo.
“Níveis de confiança estão muito baixos. Mais que uma chicotada psicológica, esta equipa precisa de uma chicotada metodológica”, afirmou o treinador setubalense após o encontro. Mais tarde, Mourinho disse que o relatório que recebeu do departamento de scouting do clube não incluía informações sobre o jogador boavisteiro em melhor forma, o médio boliviano Erwin Sánchez: “A observação do Benfica apresentou um relatório com 10 jogadores do Boavista. Só faltava o Sánchez... que era apenas o melhor. Fiquei pasmado.”
 
 
 
3 de dezembro de 2000 – I Liga portuguesa (13.ª jornada)
José Mourinho herdou o Benfica com sete pontos em quatro jornadas, em 7.º lugar com os mesmos pontos do 5.º e do 9.º e a cinco pontos do líder (Sp. Braga). Não se pode dizer que o tenha deixado melhor – 6.ª posição, a sete pontos do primeiro classificado (FC Porto), mas teve uma despedida (mesmo sem saber que se tratava do último jogo no banco encarnado) de sonho: uma vitória estrondosa sobre o rival Sporting que foi igualmente o quarto triunfo consecutivo em todas as competições. Pelo meio, houve eleições, tendo Manuel Vilarinho, que havia prometido Toni para o cargo de treinador, assumido o cargo de presidente.
Num encontro que marcou o regresso de João Vieira Pinto à Luz, as águias fizeram aquela que foi talvez a melhor exibição dessa época e arrancaram uma vitória por 3-0.
O holandês Pierre van Hooijdonk abriu o ativo aos 41 minutos, na conversão de uma grande penalidade a castigar falta de André Cruz sobre o próprio. No segundo tempo, já após a expulsão de Pedro Barbosa, João Tomás bisou (77’ e 82’) e sentenciou o resultado. “Era um momento muito difícil para o Benfica e o Sporting era campeão. Quando fomos a jogo todo o país esperava que o campeão fosse dominar o dérbi, mas acabámos por ganhar. E ganhámos de uma forma fantástica”, recordou Mourinho em julho de 2020, numa entrevista à Sky Sports.
Um dia depois, Mourinho utilizou a vitória no dérbi para testar a lealdade de Vilarinho, pressionando-o a acionar a cláusula da renovação de contrato. Contudo, o presidente recusou e o treinador demitiu-se imediatamente.
 
 
 
10 de abril de 2003 – Taça UEFA (1.ª mão das meias-finais)
Depois de eliminar os polacos do Polonia Varsóvia (agregado de 6-2), os austríacos do Áustria Viena (3-0), os franceses do Lens (3-1), os turcos do Denizlispor (8-3) e os gregos do Panathinaikos (2-1), o FC Porto encontrou nas meias-finais da Taça UEFA um adversário digno de Liga dos Campeões, a Lazio de Peruzzi, Fernando Couto, Mihajlovic, Simeone, Stankovic, Fiore, Claudio López e Chiesa, comandada por Roberto Mancini.
“Se há noites europeias que vão ficar na história do FC Porto e do Estádio das Antas (e aqui já não vai haver muitas mais), a de ontem é seguramente uma delas. Não apenas porque terá carimbado o apuramento do FC Porto para a final da Taça UEFA em Sevilha, mas também por tudo o resto que a envolveu. Simplesmente memorável! O jogo, a exibição, o ambiente, o espetáculo. Quem acompanhou tudo isto ao vivo não lamentará um só pingo da chuva que ininterruptamente caiu durante o jogo e abençoou a noite mágica do dragão”, escreveu o Record.
 
 
 
21 de maio de 2003 – Taça UEFA (final)
Se o FC Porto tinha dizimado a Lazio nas meias-finais, o Celtic eliminou várias equipas das principais ligas europeias na caminhada até à final, nomeadamente os ingleses do Blackburn Rovers e do Liverpool, os espanhóis do Celta de Vigo e os alemães do Estugarda, além do Boavista na meia-final, impedindo assim uma final que seria 100% portuguesa e 100% portuense. O avançado sueco Henrik Larsson era a grande figura da equipa.
Numa final extremamente equilibrada, os dragões nunca estiveram em desvantagem, mas estiveram pouco tempo na frente do marcador. Se Derlei abriu o ativo aos 45’, Larsson empatou aos 47’. Se Alenichev fez o 2-1 aos 54’, Larsson marcou o 2-2 aos 57’.
A igualdade levou a decisão para prolongamento. Já após a expulsão de Bobo Baldé, defesa do Celtic, aos 96 minutos, os azuis e brancos marcaram o golo da vitória aos 115’, por intermédio de Derlei, melhor marcador dessa edição da Taça UEFA, com 12 golos – mais um do que Larsson.
Durante a volta olímpica pelo Estádio Olímpico de Sevilha, Mourinho atirou a medalha para a bancada.
“Estávamos a ganhar 1-0, eles empataram, depois fizemos o 2-1, eles empatam novamente e aí o prolongamento é que é difícil. Mesmo para nós, do lado de fora, é difícil, porque uma final é, na maioria das carreiras, especialmente em Portugal, algo de agora ou nunca. (…) Olhámos para aquele jogo como o jogo das nossas vidas, das nossas carreiras”, recordou Mourinho, em entrevista à The Coaches' Voice, em junho de 2019.
 
 
 
9 de março de 2004 – Liga dos Campeões (2.ª mão dos oitavos de final)
Na estreia europeia do recém-inaugurado Estádio do Dragão, o Manchester United até marcou primeiro, por intermédio do médio sul-africano Quinton Fortune logo aos 14 minutos, mas o FC Porto respondeu bem e virou o resultado, graças a dois golos de outro sul-africano, Benni McCarthy (29’ e 78’). Perto do fim do encontro, Roy Keane foi expulso com cartão vermelho direto após um pisão desnecessário em Vítor Baía (87’).
No entanto, faltava defender essa magra vantagem ante o campeão inglês em Old Trafford. Os red devils recolocaram-se na frente da eliminatória pouco depois da meia hora de jogo, graças a um golo de Paul Scholes. O médio inglês poderia ainda ter bisado, mas foi-lhe invalidado um golo por fora de jogo ainda antes do intervalo.
O 1-0 persistiu até ao minuto 90, quando Costinha empatou o encontro na recarga a um livre direto de McCarthy defendido de forma incompleta por Tim Howard. Em plena explosão de alegria, o internacional português foi festejar para perto da bandeirola de canto, perseguido pelos colegas, mas a imagem que ficou para a história foi a corrida de Mourinho para junto do local onde os seus jogadores celebravam. Anos mais tarde, admitiu que não o técnico português admitiu que não o voltaria a fazer, por respeito aos adversários.
“Fomos a Manchester e o resto é história: aos 90 minutos, estávamos em desvantagem na eliminatória. Marcámos ao 91º minuto e apurámo-nos nesse instante – e quando nos qualificámos em Old Trafford sentimos que, se podíamos eliminar o Manchester United, então podíamos derrotar qualquer adversário”, recordou ao portal da UEFA em janeiro de 2013.
 
 
 
26 de maio 2004 – Liga dos Campeões (final)
Depois de eliminar o Manchester United, o FC Porto afastou Lyon e Deportivo na caminhada até à final de Gelsenkirchen. Por outro lado, o também surpreendente Mónaco eliminou Lokomotiv Moscovo, Real Madrid e Chelsea.
“Sentimos que não iríamos falhar. (…) Ganhámos muito calmamente. Costumo dizer que não festejei como uma final da Champions League, porque não a senti como uma final da Champions League – o jogo foi bastante calmo e controlado. Não me senti campeão europeu após Kim Nielsen, o árbitro, ter apitado pela última vez: senti-me campeão europeu bem antes de o jogo ter acabado”, afirmou Mourinho ao portal da UEFA em janeiro de 2013.
“É difícil escolher o melhor momento da minha carreira, mas se calhar escolhia a Champions League com o FC Porto. É o el dourado das competições de clubes e tive a sorte de ganhar duas vezes. Ganhar com uma equipa portuguesa tem um sabor especial, é quase um legado histórico. Desde 2004 que uma equipa portuguesa não ganha e não sabemos quando isso voltará a acontecer”, considerou em setembro de 2020, quando completou 20 anos enquanto treinador principal.
 
 
 
30 de abril de 2005 – Premier League (36.ª jornada)
Bolton 0-1 Chelsea
O Chelsea só havia conquistado o título inglês por uma vez, na longínqua temporada de 1954-55, e tinha como principais rivais um Arsenal que na época anterior se tinha sagrado campeão sem sofrer qualquer derrota e um Manchester United recheado de bons jogadores. E ainda havia o Liverpool, que concluiu o campeonato pontualmente muito distante do primeiro lugar, mas que acabaria por vencer a Liga dos Campeões.
No entanto, José Mourinho, que avisou ao que vinha ao autointitular-se de special one quando foi apresentado, formou uma equipa vencedora, que entrou para 36.ª jornada (a quarta a contar no fim, porque a 33.ª é que acabou por ser a penúltima) com mais onze pontos que o Arsenal.
Uma vitória sobre o Bolton no Reebok Stadium – hoje Macron Stadium ou University Of Bolton Stadium – bastava para garantir a conquista do título e foi precisamente isso que aconteceu. Coube a um dos jogadores mais emblemáticos dos blues na altura, Frank Lampard, apontar os dois golos do triunfo, ambos no decorrer da segunda parte (59 e 75 minutos).
“O nosso grupo é um grupo especial. Eles merecem isto. Ninguém que fale com bom senso pode dizer que não merecemos este título, porque nós o fizemos de forma absolutamente magnífica. Estou muito feliz pelos adeptos, especialmente pelos que nunca tinham sido campeões. Roman (Abramovich) penso que merece muito, mas este grupo é realmente especial. É por isso que quero ficar com eles o máximo de tempo que conseguir”, afirmou Mourinho após o encontro.
 
 
 
28 de abril de 2010 – Liga dos Campeões (2.ª mão das meias-finais)
A derrota mais saborosa da carreira de José Mourinho.
Mas comecemos pelo jogo da primeira mão. O Inter de Milão recebia no Estádio Giuseppe Meazza o campeão europeu Barcelona que, com um estilo muito característico baseado na posse de bola a que chamaram de tiki-taka e com um Lionel Messi que na altura era considerado o melhor jogador do mundo, era uma equipa praticamente invencível, sobretudo nos jogos mais a sério. Basta referir que os catalães vinham de conquistar tudo o que havia para conquistar no espaço de um ano, o chamado sextete: campeonato, Taça do Rei, Supertaça de Espanha, Champions, Supertaça Europeia e Mundial de Clubes.
E para reforçar o favoritismo blaugrana, Pedro Rodríguez inaugurou o marcador aos 19 minutos, a passe de Messi. No entanto, o Inter de Milão de José Mourinho reagiu muito bem. Diego Milito serviu Sneijder para o golo do empate à passagem da meia hora. E logo no arranque da segunda parte, Diego Milito fugiu à marcação do irmão Gabriel Milito e serviu Maicon para o 2-1 (48'). Só que a noite de sonho do avançado argentino ainda não tinha terminada e, aos 61', apontou o terceiro golo da equipa da casa, ao cabecear para o fundo das redes na sequência de um passe de cabeça de Sneijder.
“Perdemos em posse de bola, mas tivemos mais oportunidades de golo e ainda podíamos ter feito mais golos. A ganhar da maneira que ganhámos contra a melhor equipa do mundo, só posso dizer bem dos meus jogadores”, analisou José Mourinho, que nove anos depois revelou a estratégia para esse jogo ao The Coaches' Voice.
Ainda assim, ganhar por 2-0 em casa estava longe de ser uma missão impossível para o Barcelona, sobretudo depois de ter ficado a jogar com mais um homem, devido à expulsão do seu ex-jogador Thiago Motta antes da meia hora. No entanto, José Mourinho fechou as caminhos para a baliza da sua equipa e conseguiu saiu vivo de Camp Nou, apesar de um golo de Gerard Piqué aos 84 minutos ter animado os minutos finais. Messi chegou mesmo a marcar o segundo golo dos catalães, mas o remate certeiro do argentino foi anulado devido a mão na bola de Yaya Touré.
técnico setubalense, esse, estava radiante: “É o momento mais belo de toda a minha carreira. Fomos uma equipa de heróis. Deixámos o sangue em campo, quando os outros diziam que iam deixar a pele.”
 
 
 
 
22 de maio de 2010 – Liga dos Campeões (final)
Melhor do que chegar à final é ganhar a Liga dos Campeões, algo que o Inter de Milão já não conseguia desde 1964-65 – e já não atingia o jogo decisivo da prova desde 1971-72.
Frente a uma equipa dirigida pelo seu antigo chefe de equipa Louis van Gaal, José Mourinho deu a iniciativa de jogo aos bávaros, que tiveram mais posse de bola, mas uma posse de bola inconsequente.
Tremendamente objetivo e eficaz, o conjunto italiano aproveitou as raras situações de perigo de que dispôs para marcar dois golos, ambos da autoria de Diego Milito, aos 35 e 70 minutos, com assistências de Wesley Sneijder e Samuel Eto’o.
Com este triunfo no Santiago Bernabéu – que haveria de ser a casa de Mourinho nos três anos que se seguiram –, o treinador português juntou-se ao restrito lote de técnicos que se sagraram campeões europeus por dois clubes. Ernst Happel (Feyenoord em 1969-70 e Hamburgo em 1982-83) e Ottmar Hitzfeld (Borussia Dortmund em 1996-97 e Bayern 2000-01) anteceder ao setubalense – anos mais tarde, também Carlo Ancelotti (AC Milan em 2002-03 e 2006-07 e Real Madrid em 2013-14 e 2021-22) e Jupp Heynckes (Real Madrid em 1997-98 e Bayern em 2012-13) se juntaram à lista.
“O título que mais me emocionou foi a Champions ao serviço do Inter de Milão, porque antes de jogar a final sabia que iria ser o meu último jogo com aqueles jogadores. É difícil decidir qual o título mais importante, porque todos são a concretização de um objetivo. Mas o mais emocionante foi a Liga dos Campeões ao serviço do Inter”, afirmou Mourinho à CNN em outubro de 2012.
 
 
 
21 de abril de 2012 – Liga Espanhola (35.ª jornada)
Depois de interromper o ciclo vitorioso do Barcelona de Pep Guardiola na Europa, uma equipa de José Mourinho colocou um ponto final na hegemonia desse Barça em Espanha.
Após o encontro foi o adjunto Aitor Karanka e não José Mourinho que compareceu na conferência de imprensa, mas o auxiliar do treinador português revelou qual a mensagem que o special one passou à equipa durante o intervalo. “O mister avisou os jogadores que o Barcelona podia marcar a qualquer momento e incitou-os a não deixarem de atacar mesmo que eles empatassem.”
 






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