Hoje faz anos o malabarista sul-africano que não chegou a jogar pelo FC Porto. Quem se lembra de Mandla Zwane?
Mandla Zwane jogou em Portugal entre 1994 e 1996
Julho de 1994, arranque da
pré-época do FC
Porto de Bobby
Robson, à procura de reconquistar o título nacional que o Benfica
havia acabado de vencer. Entre os reforços, vários desconhecidos, como Walter
Paz, Roberto Mogrovejo, Etienne N’Tsunda e Mandla Zwane, este último um
avançado sul-africano de 21 anos e de baixa estatura (1,68 m) proveniente dos
Orlando Pirates.
“Fiz dois jogos no Orlando
Pirates e o Marcelo Houseman [empresário argentino] pegou em mim e levou-me
para a Holanda. Fui ao Feyenoord
fazer testes, mas acabei por viajar para Portugal. Cheguei às Antas e assinei
por três anos, com o N´Tsunda. Nunca ninguém me tinha visto a jogar e eu também
não conhecia ninguém”, começou por contar ao Maisfutebol
em fevereiro de 2016. Atacante habilidoso – chegou a
ganhar “esmolas a dar toques numa bola de trapos” nas ruas de Zola, no Soweto –,
foi recebido por alguns dos líderes do balneário portista:
“Cheguei às Antas e o Jorge Costa veio ter comigo. Estava com o Domingos e o
Paulinho Santos. Disse-me que o mister Robson
queria conhecer-me, mas para eu ter cuidado, porque ele era um homem muito
duro. E eu lá fui, ao gabinete do senhor Robson,
com os três.” Sem conhecer o treinador
inglês, acreditou tratar-se do homem de fato de treino e boné que lhe foi
apresentado. “Nem olhou para mim. Só disse: ‘Senta-te!’. Eu olhei para o Jorge
Costa, já a tremer, mas ele fechou a porta e saiu. Fiquei sozinho com o senhor Robson.
Quer dizer, com aquele que eu pensava ser o senhor Robson.
O homem começa aos berros e a bater na mesa. Dizia que eu tinha de jogar bem e
que dava cabo de mim se eu falhasse. Eu acho que estive quase a desmaiar.
Passados uns minutos, a porta abre-se e entram todos às gargalhadas. O homem de
boné era o guarda-redes, o Baía”,
prosseguiu. Simpático, Zwane conquistou rapidamente
companheiros de equipa e o verdadeiro Bobby
Robson. “No final do primeiro treino fiquei a dar toques na bola. Eu era um
malabarista incrível, fazia o que queria. Quando dei por ela, estava o plantel
todo à minha volta, a bater palmas, e eu a fazer habilidades. O mister Robson
veio dar-me um abraço: ‘Mandela, és a minha pérola! A partir de hoje quero que
faças sempre isso no início do treino, para animar os teus colegas’”, recordou. A verdade é que, durante meio, o
sul-africano não foi mais do que o animador de serviço, não tendo sido
utilizado em qualquer jogo, em grande parte por culpa da regra que limitava o
número de jogadores estrangeiros, numa altura em que no plantel portista havia
Drulovic, Emerson,
Kostadinov,
Latapy, Kulkov e Iuran.
A solução encontrada foi um empréstimo ao Penafiel,
então na II
Liga, tendo sido utilizado pelos durienses
em dez jogos (quatro a titular) até ao final da época 1994-95.
Apesar da moral dada por Robson
em vários telefonemas – “Mandela, um dia vais ser tu e mais dez no FC
Porto”, dizia-lhe o inglês
–, a verdade é que na temporada seguinte voltou a ser cedido, desta feita ao Gil
Vicente, a competir na I
Liga. Contudo, foi utilizado somente em seis partidas (três a titular) pelo
emblema
barcelense. Em junho de 1996 rescindiu com o FC
Porto aventurou-se pelos campeonatos da Malásia e Mali antes de voltar à África
do Sul, onde se despediu dos relvados em 2008, aos 35 anos.
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