“Se tivesse comprado um anão para o Benfica já teria crescido”. Recorde as melhores pérolas de Toni
Toni comandou o Benfica pela última vez em 2001-02
Toni é daquelas personalidades
futebolísticas que geram simpatia até entre os adeptos rivais do clube ao qual
está mais associado, neste caso o Benfica.
É bonacheirão, simpático, genuíno e até mesmo divertido. Afinal, só uma pessoa
com um coração muito grande é que, mesmo com o estatuto de campeão nacional
como treinador, passa para adjunto de Eriksson. Mas quando se irrita… fujam!
Vou contar a minha experiência
pessoal. Estava a estagiar na secção de futebol internacional do jornal A
Bola em meados de 2014 quando o meu editor nesse dia me pediu para
telefonar a Toni, para perceber se ainda estava nos iranianos do Tractor e
colocar-lhe umas questões sobre um qualquer assunto que não me vem à memória.
Assim o fiz. Do outro lado, apanhei um Toni que não estava nos seus dias,
irritado, que disse que já não estava no Irão há várias semanas e que durante o
telefonema soltou uma série de impropérios. Os meus colegas ficaram
surpreendidos, porque o Toni com que sempre lidaram era exatamente o tal tipo
bonacheirão, simpático, genuíno e divertido, mas para mim passou a ser alguém a
evitar a partir daquele dia. Cinco anos depois, já no Diário
de Notícias, pediram-me
para falar com dois antigos jogadores marcantes do Benfica para fazer uma
antevisão da temporada 2019-20. A minha primeira escolha foi António
Simões. Depois de provavelmente José Augusto e Veloso não terem atendido o
telefone, lá voltei a tentar a sorte com Toni e, dessa feita, correu melhor. Já
foi um Toni à imagem daquele que vemos quase diariamente no Canal 11. Mas o momento mais conhecido de
irritação de Toni foi a célebre conferência de imprensa no Irão. Perante a
insistência de um jornalista em fazer perguntas incómodas sobre um jogador que
não apreciava, o treinador português ficou furioso: “E no segundo golo o número
seis faz isto, o guarda-redes faz isto, e é o Hosseini que lá está, caralho? É
o Hosseini que lá está? É o Hosseini? É o Hosseini, caralho?” Na mesma sala, um jornalista mais
jovem ria da cena, mas não foi perdoado por Toni: “É pá, e tu smile… por que é
que estás-te a rir? Estás-te a rir de quê, pá? Que idade é que tens para estar
aqui, caralho? A esta hora é para estares a dormir, pá!”
Nem este incidente fez com que o
carismático nativo da ideia de Mogofores, no concelho de Anadia, deixasse de
ser visto como uma pessoa amável no Irão. Tanto assim foi que este jornalista
mais jovem madrugou para estar às 6:00 no aeroporto para se despedir de Toni
quando o português foi demitido do Tractor. No fundo, saiu do Irão quase da
mesma forma como saiu de França
em março de 1995, quando foi despedido do Bordéus, mas elogiado pela maneira de
ser. “É pá, gajo porreiro já sou em Portugal, isso aqui não me serve de nada”,
desabafou na altura. Muito antes de ir para o Irão e antes
até de ir para França,
sucedeu a Tomislav Ivic no comando técnico do Benfica
em outubro de 1992. Meses depois, o croata sugeriu, numa entrevista polémica,
que os jogadores benfiquistas
estavam maiores, numa suposta alegação de doping. Toni não gostou e mostrou-se
irritado: “Só falta… sabe o que é? Já disse esta frase: se tivesse comprado um
anão para o Benfica,
este ano, já tinha crescido. Só falta isto na entrevista dessa merda desse gajo.”
Do Instituto Salesiano ao topo
Toni chegou ao Benfica
no início da época 1968-69 oriundo da Académica,
quando tinha 21 anos, depois de ter dado os primeiros passos no futebol ao
serviço do Instituto Salesiano e mais tarde no Anadia. No plantel do clube
da Luz ficou até 1980-81, tendo conquistado oito campeonatos (1968-69,
1970-71 a 1972-73, 1974-75 a 1976-77 e 1980-81) e cinco Taças
de Portugal (1968-69, 1969-70, 1971-72, 1979-80 e 1980-81) nesse período.
Pelo meio, em 1977, teve uma curta passagem pelos norte-americanos dos Las
Vegas Quicksilvers. Em 1972 foi eleito futebolista
português do ano para o CNID e no ano seguinte ajudou as águias
conquistar o título nacional sem qualquer derrota, algo inédito na altura em
Portugal. Foi também enquanto jogador do Benfica
que somou as suas 32 internacionalizações, entre outubro de 1969 e março de
1978. Após encerrar a carreira
continuou ligado ao clube, integrando várias equipas técnicas. Em 1987-88
tornou-se pela primeira vez treinador principal, continuando no cargo na época
seguinte. Depois voltou para adjunto de Sven-Göran Eriksson e Tomislav Ivic
antes de se tornar novamente o homem do leme entre outubro de 1992 e julho de
1994 e entre dezembro de 2000 e dezembro de 2001.
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