O “luvas pretas” que bateu Cruyff num prémio em Espanha. Quem se lembra de João Alves?
João Alves brilhou ao serviço de Boavista, Benfica e Salamanca
Médio tecnicamente virtuoso,
visão de jogo muito acima da média e faro para o golo, herdou o hábito do avô
Carlos Alves, um dos melhores futebolistas portugueses da década de 1920, de atuar
sempre de luvas pretas, começando-as a usar dois dias após a morte do familiar,
quando ainda era júnior do Benfica.
Mas desengane-se quem pensa que
João Alves foi apenas um jogador com uma particularidade estética. Foi muito
mais do que isso. Nasceu em Albergaria-a-Velha em 5 de dezembro de 1952 e foi
um dos vários míticos jogadores benfiquistas naturais do distrito de Aveiro,
como também são os casos de Toni
e António Veloso, tendo começado a jogar futebol nas camadas jovens da Sanjoanense. A transição para sénior, porém,
não foi fácil. Jogou um ano pelas reservas encarnadas
e esteve outro emprestado ao Varzim.
Depois regressou ao Benfica,
mas não se fixou no plantel após um desentendimento com António Simões e acabou
por se estrear na I
Divisão em 1973-74 ao serviço do Montijo,
que por ele pagou 600 contos, brilhando apesar da descida de divisão. Na época seguinte transferiu-se
para o Boavista
de José
Maria Pedroto e rapidamente se tornou internacional A, estreando-se pela seleção
num jogo diante da Suíça
a 13 de novembro de 1974. No derradeiro jogo da temporada, marcou um dos golos
com que os axadrezados
bateram o Benfica
na final da Taça
de Portugal. Em 1975-76 repetiu a conquista da
Taça
e contribuiu com 15 golos e grandes exibições para a obtenção de um então
histórico segundo lugar no campeonato, na altura a melhor classificação dos axadrezados
na I
Divisão.
Do Bessa saltou diretamente para
o campeonato
espanhol, numa altura em que não era comum que jogadores portugueses
atuassem no estrangeiro, à exceção dos que passavam pelos Estados Unidos no
ocaso das carreiras. Mas o Salamanca fez uma proposta irrecusável ao “luvas
pretas” e pagou 12 mil contos ao Boavista,
tendo João Alves correspondido em campo, com duas grandes temporadas. Em
1977-78 foi mesmo eleito o jogador mais regular da liga
espanhola para a Marca e o Mundo Deportivo e o melhor jogador
estrangeiro da prova para o Don Balón, batendo a concorrência de vultos
como Cruyff,
Neeskens
e Kempes. Mais recentemente, numa votação promovida pela imprensa salamantina,
os leitores elegeram de forma esmagadora João Alves como o melhor jogador da
história do Salamanca.
No verão de 1978 chegou a ter bem
encaminhada a transferência para o Real
Madrid, mas decidiu voltar a Portugal para tentar cumprir o sonho de se
sagrar campeão pelo Benfica.
Falhou nessa missão à primeira, apesar de individualmente ter estado em bom
plano, e voltou a emigrar, desta feita para representar um ainda muito jovem Paris
Saint-Germain (que pagou 32 mil contos pelo seu passe), uma aventura
marcada por uma grave lesão sofrida após uma entrada violenta por parte de um
jogador do Sochaux. Ao fim de um ano em França,
voltou ao Benfica
e conseguiu finalmente cumprir o objetivo de se sagrar campeão português, tendo
vencido o título em 1980-81 e 1982-83, épocas em que também festejou a
conquista da Taça
de Portugal. Embora fosse um habitual titular, Sven-Göran Eriksson deixou-o
no banco nos dois jogos da final da Taça
UEFA em 1983, perdida para o Anderlecht.
Magoado com o sueco, regressou ao
Boavista,
onde em 1985 encerrou a carreira de jogador, na qual somou 35
internacionalizações (e três golos), e iniciou a de treinador. Viveria o seu momento alto como
técnico em 1989-90, quando guiou o Estrela
da Amadora à conquista da Taça
de Portugal. Também venceu o título da II
Liga pelos tricolores
em 1992-93, orientou clubes como Vitória
de Guimarães, Belenenses,
Salamanca e Académica
e ajudou a catapultar jogadores como Paulo
Bento, Pedro Barbosa, Abel Xavier, Pauleta e Míchel Salgado. No início da década de 2000
inaugurou a Escola de Futebol Luvas Pretas, situada em Santiago do Cacém.
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