Nos últimos meses tornou-se
conhecido do grande público em virtude de ter sido concorrente no Secret
Story 9, mas a sua história de vida vai muito além disso. Foi um futebolista
profissional formado no Benfica
e no Belenenses
que jogou ao lado de Cristiano
Ronaldo nas seleções jovens e representou clubes importantes na Roménia, na
Eslováquia, no Azerbaijão e na Moldávia, escolheu o amigo Ruben
Amorim para padrinho da filha, é irmão mais velho do médio David Simão, chegou a estar três dias em coma após sofrer um acidente de mota e namorou com Merche Romero.
Mas comecemos pelo início. Bruno
Simão nasceu a 5 de maio de 1985 na cidade francesa de Versalhes, onde os pais
estavam emigrados. Filho de um construtor civil e de uma doméstica e com uma irmã
mais velha e um irmão mais novo, veio para Portugal com seis anos e experimentou
os treinos de captação do Benfica
aos sete, tendo ficado logo no clube do seu coração. Foi aí que conheceu Ruben
Amorim, seu companheiro de equipa. Em 1998-99, na sequência de uma
decisão de Vale
e Azevedo em acabar com as equipas B de cada escalão, foi emprestado ao Oeiras
quando transitou de infantil para iniciado, numa altura em que estudava em
Oeiras – na mesma altura, o “compadre” Ruben
Amorim foi cedido ao CAC da Pontinha. Na época seguinte voltou ao Benfica,
mas em 2000-01 foi emprestado ao Estoril,
aquando da transição para juvenil. No final dessa temporada, os encarnados
quiseram empresta-lo novamente, mas o defesa recusou, saindo a título
definitivamente para o Belenenses,
tendo reencontrado Ruben
Amorim no Restelo. Foi precisamente durante o tempo
que passou em Belém que se estreou pelas seleções jovens nacionais. O primeiro
jogo foi pelos sub-17, a 13 de dezembro de 2001, em Santiago do Cacém, diante
de Inglaterra.
Bruno Simão atuou os 90 minutos nesse encontro, que terminou empatado a um golo
– do banco saltou um tal de Cristiano
Ronaldo para marcar o golo português.
Ruben Amorim e Bruno Simão no Benfica
Os três anos que passou nas
camadas jovens do Belenenses
coincidiram mesmo com o período em que foi mais vezes internacional. Das 16
internacionalizações que tem no currículo (desde os sub-17 aos sub-20), 14
foram nessa fase. Em dezembro de 2003, ainda com idade júnior, foi convocado
pelo treinador sérvio Vladislav Bogicevic para um jogo da equipa principal
diante do Alverca,
mas não foi utilizado – a seu lado estava Ruben
Amorim, que saltou do banco ao minuto 90 para se estrear pelos seniores dos
azuis.
Na transição de júnior para
sénior, em 2004-05, reentrou no Benfica
pela porta da equipa
B, então a competir na III Divisão Nacional, tendo ajudado os bês
encarnados a sagrarem-se campeões da Série E e a conseguirem a subida à II
Divisão B. Após essa época mudou-se para o Barreirense,
então a militar na II
Liga. Na altura, os seus empresários, os antigos internacionais portugueses
Oceano e Dimas,
propuseram-no como reforço ao treinador dos alvirrubros
daquela altura, o também antigo internacional português Rui Bento. No entanto,
só durou meia época no Dom
Manuel de Mello. Embora tivesse sido titular em seis jogos nas primeiras
sete jornadas, uma expulsão por duplo amarelo na 7.ª ronda, uma receção ao Varzim,
precipitou-lhe a saída. “A verdade foi esta, e não guardo
mágoa nem rancor ao mister Rui Bento. Começa num jogo contra o Varzim em casa,
eu marcava o Mendonça, um jogador extremamente complicado de marcar. Fui
expulso no início da segunda parte por acumulação de amarelos. A partir daí, eu
que a par de mais alguns jogadores, era dos que tinha mais minutos, não voltei
a ser convocado. Não houve nada de nada, não havia casos extrafutebol,
rigorosamente nada. Havia um empenho muito grande da minha parte, todos os
dias, como havia antes da expulsão, para provar ao treinador que não estava
relaxado. Supostamente em modos normais, após um jogo de castigo que foi o que
levei, voltaria a jogar, ou pelo menos a ser convocado. Não aconteceu e
passadas três semanas, quis falar com o treinador para tentar perceber o que é
que se passava. (…) O mister respondeu-me que não dava justificação a
jogadores, mas que a mim não me poderia admitir os erros que admitia aos
outros. Não sei qual foi o ponto de vista dele, lembro-me de lhe ter respondido
‘mister, mas eu não cometi nenhum crime. Fui expulso pela acumulação de
amarelos, tenho trabalhado sempre bem’. Depois disse que os grandes jogadores
também falham, ‘o Roberto Baggio falhou um penálti numa altura decisiva’. Foi
aquilo que me veio à cabeça na altura”, contou à Tribuna
Expresso o antigo defesa, que em janeiro de 2006 pediu a rescisão de
contrato e esteve alguns meses sem jogar até assinar pelo Povoense, então a
militar na III Divisão Nacional, no início da temporada 2006-07. Entretanto, emigrou pela primeira
vez no início de 2007, para reforçar os romenos do UTA Arad, numa altura em que
já começava a ganhar fama o seu gosto por sair à noite. “Estava demasiado
cansado porque dois dias antes do jogo, perdia uma noite. Fui aconselhado
várias vezes, não foi falta de aviso, aliás muito por culpa disso é que fui
obrigado a sair, a emigrar a primeira vez, porque a opinião formada sobre mim,
e eu não posso fugir à responsabilidade, assumo as minhas culpas, era a de um
jogador que tinha muito talento, era bom, mas fora do campo tinha um gosto
muito grande pela noite. Infelizmente isso acompanhou-me durante alguns anos”,
lembrou. Em 2007-08 não conseguiu impedir
a despromoção à II
Liga da Roménia, mas os bons desempenhos permitiram-lhe dar o salto para um
dos maiores clubes do país, o Dínamo Bucareste, num processo algo complexo, que
implicou uma rescisão de contrato unilateral com o UTA Arad com a ajuda do
Sindicato de Jogadores de Portugal antes de assinar livre pelo emblema da
capital.
Depois de ter lidado com invasões
de balneário e de campo por parte de adeptos mais fanáticos, assinou pelo
Slovan Bratislava, clube pelo qual defrontou Olympiacos nas pré-eliminatórias
da Liga
dos Campeões e o Ajax
de Jan Vertonghen e Luis Suárez no playoff de acesso à fase de grupos da
Liga
Europa. No entanto, apesar do elevado salário que auferia, ficou chocado
pelo “racismo enorme” que encontrou e decidiu pedir a rescisão a meio da época.
No início de 2010 esteve a
treinar ao lado do irmão no Fátima
de Rui
Vitória para manter a forma, mas acabou por voltar à Roménia para
representar o Astra Giurgiu, em mais uma experiência que acabou mal devido à
falta de pagamentos acordados, seguindo-se uma breve passagem pelos azeris do
Khazar no primeiro semestre de 2011. Embora tivesse vencido a Taça do
Azerbaijão, não gostou “mesmo nada, zero”, do país.
Seguiram-se dois anos na
Moldávia, ao serviço do Milsami Orhei, e meio ano Chipre, com a camisola do
DOXA, em aventuras também marcadas por muitas peripécias fora dos relvados. No início de 2014 voltou a
Portugal para jogar pela União
de Leiria, onde encontrou “possivelmente o melhor grupo de trabalho” que
teve, então a competir no Campeonato
de Portugal. Em 2014-15 fez uma “uma
hiper-mega temporada” ao serviço da Oliveirense,
na II
Liga, tendo atuado em 40 jogos, mas na época seguinte voltou a Leiria e ao Campeonato
de Portugal. Em janeiro de 2015, numa altura
em que namorava com a modelo e apresentadora de televisão Merche Romero –
curiosamente uma ‘ex’ do antigo companheiro de seleção Cristiano
Ronaldo) –, rumou ao Atlético,
então na II
Liga, mas não conseguiu evitar a descida de divisão. Depois de ter ajudado o Fátima
a atingir a fase de promoção do Campeonato
de Portugal em 2016-17 voltou ao país onde nasceu para representar o Lusitanos,
do quarto escalão francês, mas ao fim de meio ano, em janeiro de 2018, já
estava de regresso ao futebol português para representar o Pinhalnovense,
também no Campeonato
de Portugal. Três dias após estrear-se pela equipa
de Pinhal Novo, a 24 de janeiro, sofreu um acidente de mota que o deixou
três dias em coma e com a carreira em perigo. “Despistei-me logo na rotunda a
subir para os Olivais. Fiquei inanimado no chão. Tiveram de fazer trabalho de
reanimação durante 30/40 minutos. Até que sou levado para o Hospital Santa
Maria e fiquei três dias em coma e mais 15 dias nos cuidados intensivos. Estava
dado como inapto para a prática desportiva. Parti quatro costelas, a omoplata,
o ombro, perfurei o pulmão. Fui operado de urgência. Quando saí dos cuidados
intensivos para o quarto ainda tive mais um azar, fiz uma septicemia e
levaram-me de urgência para o bloco operatório, porque já estava com 45 graus
de febre. Estive meses sem poder mexer-me praticamente, em casa acamado. (…) Foram
momentos complicados. Fiquei chocado a primeira vez que me vi ao espelho. Perdi
15 quilos. Estava mal. Não conseguia fazer nada. Até que um dia, em casa,
consigo fazer alguns movimentos e disse para mim mesmo ‘Eu vou ter de ir à
luta. Tenho de ir à luta e eu vou conseguir. Vou jogar’. E pouco a pouco tive,
como muita gente disse, uma recuperação milagrosa, ao fim de seis meses eu já
estava a começar a minha pré-época. Comecei sozinho”, recordou o antigo lateral
esquerdo, que durante a recuperação começou a tirar um curso de personal
trainer, com o Sindicato de Jogadores a assumir os custos. Entretanto, ofereceu-se a Ruben
Amorim, que havia acabado de chegar ao comando técnico do Casa
Pia, no verão de 2018, mas inicialmente foi rejeitado. “Meti-me com ele,
quando soube que ele ia ser treinador estagiário no Casa
Pia. Tinha à vontade com ele, não conhecia a restante equipa técnica e foi
com ele que falei. Perguntei: ‘Não querem aí para o Casa
Pia o melhor lateral esquerdo desta divisão?’. Ele disse que tinha de falar
com as pessoas, mas que à partida não porque já estavam três no plantel e eu era
um jogador caro para ir para lá. Disse: ‘Ok, tudo bem, não há problema.
Desejo-vos a melhor sorte do mundo e um dia sei que vais ser um treinador que
vai dar cartas’. Passadas duas semanas, eu sempre a fazer os meus treinos e a
publicar os treinos de recuperação, e recebi uma mensagem: ‘Então como é que
está a correr essa recuperação?’. Senti que já havia algum interesse, até que
acabei por assinar, chegámos a acordo”, contou. A primeira temporada em Pina
Manique foi atribulada, devido a uma perda de pontos na secretaria e à saída de
Ruben
Amorim devido a uma infração regulamentar, por o treinador se apresentar
como “estagiário”, mas ser ele a dar indicações para o campo. Entretanto, o Tribunal
Arbitral do Desporto (TAD) deu razão aos casapianos,
que recuperaram os pontos perdidos e acabaram a época a vencer o Campeonato
de Portugal e a subir
à II Liga. Bruno Simão ainda voltou ao
segundo escalão ao serviço dos gansos,
aos 34 anos, mas no início de 2020 rumou ao Torreense,
tendo ainda passado por Oriental
e Atlético
antes de pendurar as botas em 2022, aos 37 anos. Ainda assim, depois disso já
jogou pelo Dramático de Cascais nos distritais da AF
Lisboa em 2024-25.
Em setembro de 2025 entrou num reality
show da TVI, o Secret Story 9, e no vídeo de apresentação revelou
que deu um tiro de pressão de ar ao amigo Ruben
Amorim quando ambos eram miúdos: “Voz, e este não era um bom segredo? Dei
um tiro de pressão de ar ao meu compadre treinador do Manchester United, Ruben
Amorim. Quando éramos miúdos, pego na pressão de ar e digo: 'Diz já quem é
que é o teu rei.” Decidiu desistir a 25 de novembro,
a pouco mais de um mês do fim da edição, na sequência de uma sanção aplicada
pela Voz.
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