Hoje faz anos o major que foi presidente do Boavista e da Liga. Quem se lembra de Valentim Loureiro?
Valentim liderou os axadrezados entre 1978 e 1980 e entre 1983 e 1997
Excêntrico, arrojado e polémico,
mas também versátil e pai de um Boavistão
que se intrometeu entre os três grandes e veio a ganhar o título nacional em
2000-01. Foi militar, político, empresário e dirigente desportivo.
Nasceu a 24 de dezembro de 1938
em Calde, no concelho de Viseu, onde estudou na Escola Comercial e Industrial,
mas foi na área metropolitana do Porto que ganhou notoriedade entre as décadas
de 1970 e 2000. Embora se tivesse matriculado no
Instituto Comercial do Porto, acabou por ingressar na Academia Militar, onde
terminou o Curso Superior de Administração Militar em 1959. Como oficial do
Exército Português fez duas comissões de serviço em Angola, onde em 1965 foi
implicado no Caso das Batatas, a sua primeira grande polémica. Em causa o roubo
de rações (as tais “batatas”) do Exército para proveito próprio durante a
Guerra Colonial, numa altura em que era capitão – ficou então conhecido como o “capitão
das batatas”. Na sequência desse escândalo, foi expulso da vida militar, mas
acabou reintegrado em 1980, tendo passado à situação de reserva com a patente
de major. Militante do Partido Social
Democrata (PSD) desde 1974, ajudou a implementar o partido no norte do país,
embora tivesse decidido apoiar Mário Soares nas duas candidaturas a Presidente
da República, em 1986 e 1991. Em 1993 foi pela primeira vez eleito presidente
da Câmara Municipal de Gondomar, tendo renovado os mandatos em 1997, 2001, 2005
e 2009, nas duas últimas ocasiões já sem o apoio do PSD, na sequência do seu
envolvimento no processo Apito Dourado (já lá vamos…). Mais tarde, voltou a ser
candidato independente às autárquicas de 2017, mas não foi além de um terceiro
lugar.
Paralelamente, fez um longo
percurso como dirigente desportivo, primeiro como presidente da direção do Boavista
entre 1978 e 1980 e entre 1983 e 1997 – pelo meio, esteve no cargo Eduardo
Taveira da Mota. Sob a sua liderança, os axadrezados
venceram duas Taças
de Portugal (1978-79 e 1991-92), outras tantas Supertaças
(1979 e 1992), tendo ainda atingido a final da Taça
em 1992-93 e os quartos de final da Taça
UEFA em 1993-94. Entretanto, foi eleito presidente
da direção da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (e por inerência vice-presidente
da Federação Portuguesa de Futebol) a 10 de fevereiro de 1989, tendo exercido o
cargo até 1994. Voltou a desempenhar a função entre dezembro de 1996 e outubro
de 2006. Nesse âmbito, foi agraciado com o
grau de Comendador da Ordem do Mérito, por Mário Soares, a 18 de setembro de
1989, e condecorado com a Medalha de Mérito Desportivo, por Cavaco Silva, em
1990. Pelo meio, foi Cônsul da
Guiné-Bissau no Porto entre 1982 e 1999 e esteve envolvido em várias polémicas,
com o Apito Dourado à cabeça. Chegou a ser detido pela Polícia Judiciária por
suspeitas da prática de crimes como falsificação de documentos, corrupção
desportiva e tráfico de influências. Nas escutas telefónicas na origem do
processo, posteriormente, divulgadas integralmente no Youtube, foi apanhado a
discutir nomeações de árbitros e castigos com presidentes de clubes, entre os
quais o portista Pinto
da Costa, e outros agentes. Contudo, foi absolvido dos crimes de que havia
sido acusado, após interpor recurso a invocar a nulidade das escutas.
Também foi investigado por
agressões a Ricardo Bexiga, vereador do PS na Câmara Municipal de Gondomar e
deputado à Assembleia da República, após a ex-mulher de Pinto
da Costa, Carolina Salgado, ter assumido a responsabilidade do recrutamento
dos agressores e atribuído a combinação do crime a Valentim Loureiro e Pinto
da Costa. Porém, o processo foi arquivado pelo Ministério Público devido a
falta de provas.
Também foi acusado de um crime de
burla qualificada em coautoria no caso da Quinta do Ambrósio, um imóvel
localizado em Fânzeres que no espaço de seis dias foi vendido pela proprietária
ao advogado e amigo do major Laureano Gonçalves por 1,072 milhões de euros, deixou
de ser do domínio da Reserva Agrícola Nacional e objeto da celebração de um
contrato-promessa de compra e venda com a Sociedade de Transportes Coletivos do
Porto, que menos de um ano depois viria a comprar o terreno por quatro milhões
de euros. O negócio, segundo a acusação, teria rendido cerca de três milhões de
euros aos arguidos. Mas, uma vez mais, Valentim Loureiro foi absolvido.
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