Hoje faz anos Fábio Coentrão, o canhoto das Caxinas potenciado por Jesus que venceu tudo pelo Real Madrid
Fábio Coentrão somou 52 internacionalizações pela seleção nacional A
Um dos melhores laterais
esquerdos de sempre do futebol português. Um promissor extremo que a dada
altura ameaçou tornar-se numa promessa adiada, mas que com o treinador certo
ganhou intensidade e a capacidade para desempenhar uma posição que melhor
explorava a sua verticalidade e qualidade no cruzamento. Foi a embalar desde
trás na ala canhota que tocou o céu e passou de “Figo das Caxinas” para modelo
a seguir para aspirantes à posição de lateral. As lesões não lhe permitiram
estender o auge da carreira, mas foi a tempo de ganhar tudo pelo Real
Madrid.
Natural das Caxinas, um núcleo
piscatório no concelho de Vila do Conde, desde cedo mostrou ter um talento para
o futebol que não permitia que lhe dissessem para se dedicar à pesca. Aos 16
anos começou a treinar com a equipa principal do Rio
Ave e aos 17 estreou-se mesmo pelos vila-condenses
na I
Liga, tendo sido lançado por António Sousa nos minutos finais de uma
derrota em casa às mãos do Sp.
Braga, a 14 de outubro de 2005. No mês seguinte somou a primeira de 25
internacionalizações pelas seleções jovens, pelos sub-18. Em abril do ano seguinte o então
extremo estreou-se como titular, numa receção ao Sporting
(1-3), pela mão de João Eusébio, um homem da casa que já conhecia o caxineiro
desde os 14 anos. “Eu sabia que o Fábio tinha simpatia pelo Sporting
e tentei aproveitar isso devido ao aspeto motivacional”, contou o treinador ao Diário
de Notícias em outubro de 2017. “Ele era um irresponsável
criativo. Via-se que era um talento, pela precocidade com que apareceu e pela
forma como já jogava na I
Liga com 18 anos. Foi sempre um miúdo com uma personalidade forte, que era
ele próprio e não se moldava, e por isso cometia erros. Mas sempre foi humilde
e bondoso, com bom coração”, acrescentou o técnico, também ele natural de Vila
do Conde. Nessa fase, o que João Eusébio mais apreciava no futebol de Fábio
Coentrão era a "intuitividade". “Ele era intuitivo para o jogo.
Parecia que a bola ia ter com ele, mas não era assim. É algo com o qual já se
nasce, não é como o passe ou a receção, que se trabalham”, recordou o mister.
Na época seguinte, 2006-07,
aproveitou o espaço da II
Liga para ganhar rodagem e tornar inevitável o salto para um clube de maior
dimensão. Sporting
ou Benfica
eram os principais interessados. O coração levava o extremo a inclinar-se para Alvalade,
mas os leões
não foram além de uma proposta de 750 mil euros, enquanto as águias
ofereceram um milhão, o que ditou a mudança para a Luz. Mas Fábio
Coentrão esteve longe de ter chegado, visto e vencido no Benfica.
Na primeira meia época de encarnado
não foi além de sete jogos realizados, às ordens de Fernando Santos e depois de
José Antonio Camacho, o que o levou ao primeiro de três empréstimos, rumo ao Nacional
da Madeira. Ao serviço dos insulares
até protagonizou uma segunda volta muito interessante, coroada com um bis numa
vitória por 3-0 sobre o FC
Porto no Estádio
do Dragão, mas no início de 2008-09 voltou a ser cedido, desta feita ao Saragoça,
recém-despromovido à II Liga Espanhola.
Porém, praticamente não jogou em
Aragão, o que fez com que fosse emprestado ao Rio
Ave no primeiro semestre de 2009, tendo em Vila do Conde regressado de forma
consistente às boas exibições, voltando inclusivamente a marcar no Dragão.
Depois de ter sido titular em
todos os jogos de Portugal
no Mundial
2010, numa campanha que terminou com uma derrota às mãos da vizinha Espanha
nos oitavos de final, Coentrão
confirmou em 2010-11 todas as qualidades exibidas na época anterior. Face à transferência
de Di María para o Real
Madrid, chegava mesmo a ser a unidade mais acutilante do Benfica
em termos ofensivos mesmo jogando como lateral, tendo sido importante para nova
conquista da Taça
da Liga e para a caminhada até às meias-finais da Liga
Europa. Depois de 97 jogos – 90 desde o regresso
após os três empréstimos – e oito golos de águia
ao peito, deu o salto para o Real
Madrid de José
Mourinho no verão de 2011, numa transferência que deixou 30 milhões de
euros nos cofres do Benfica.
Nos primeiros anos na capital
espanhola, com um compatriota como treinador e outro (Cristiano
Ronaldo) a jogar à sua frente no corredor esquerdo, Coentrão
bateu maioritariamente a concorrência de Marcelo
na luta por um lugar no onze, sobretudo em 2012-13. Na temporada seguinte, às
ordens de Carlo
Ancelotti, foi perdendo algum espaço, mas ainda assim foi titular nas
finais da Taça do Rei e da Liga
dos Campeões, marcadas por vitórias sobre Barcelona
(2-1) e Atlético
Madrid (4-1). A seguir à conquista da Champions
e da participação no Mundial 2014, a carreira de Fábio Coentrão
começou a entrar numa precoce curva descendente, aos 26 anos, por culpa de
diversas lesões, nomeadamente numa coxa e num joelho, apesar de ainda ter contribuído
para a conquista do Mundial de Clubes nesse ano.
Ficou tão difícil competir com um
lugar com Marcelo
que em 2015-16 foi mesmo emprestado ao Mónaco.
Embora tivesse começado bem a aventura no Principado, voltou a ser atormentado
por lesões, o que o impediu, por exemplo de estar presente no Euro
2016, que Portugal viria a vencer. Na temporada seguinte regressou
ao Real
Madrid e até venceu Liga
dos Campeões e campeonato espanhol – o segundo da conta pessoal, depois do
de 2011-12 –, títulos para os quais teve uma contribuição muito diminuta. “Não
tenho problemas nenhuns em dizer isto, sinto que atualmente não tenho condições
para jogar num clube com a dimensão do Real
Madrid. Não é mau admitir as nossas limitações em determinada fase da vida
e eu sei que neste clube tem de se estar ao mais alto nível para corresponder.
E eu não estou”, admitiu, em entrevista ao jornal Record, em março de
2017. Apesar das juras de amor que em
tempos havia feito ao Benfica,
tendo chegado inclusivamente a dizer em junho de 2015 que em Portugal só jogaria
de águia
ao peito, a verdade é que no verão de 2017 voltou ao futebol luso para vestir a
camisola do clube do coração na sua juventude, o Sporting,
onde reencontrou Jorge
Jesus.
Emprestado pelo Real
Madrid, reassumiu “ser feito de Sporting”
e, embora sem o fulgor ofensivo de outros tempos, conseguiu fazer uma época
muito consistente em 2017-18, tendo atuado em 44 jogos – o melhor registo desde
2010-11, quando representava o Benfica
– e voltado a jogar pela seleção
nacional após quase dois anos depois… para sair lesionado no encontro da
sua 52.ª e última internacionalização, logo aos 28 minutos, numa vitória na Hungria
(1-0). Nessa temporada, marcada por episódios como críticas públicas do
presidente Bruno
de Carvalho ao plantel e sobretudo a invasão à Academia do clube, venceu a Taça
da Liga.
No verão de 2018 terminou
contrato com o Real
Madrid e tornou-se um jogador livre. Magoado por não ter sido contactado
para prosseguir no Sporting,
decidiu refugiar-se onde tudo começou, o Rio
Ave, clube que representou em 2018-19 e 2020-21, despedindo-se do emblema vila-condense
e da carreira de futebolista com uma despromoção à II
Liga, aos 33 anos. Pelo meio fez um hiato de cerca de um ano e, ao seu
estilo, chegou a descrever-se como um “jogador reformado” em tribunal, durante
o julgamento da invasão à Academia de Alcochete, para se desmentir logo a
seguir nas redes sociais.
Após pendurar as botas dedicou-se
à pesca, como armador. Em janeiro de 2025 foi apanhado com uma tonelada de
marisco vivo ilegal num armazém arrendado no porto de pesca da Póvoa de Varzim
e foi notificado pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) para
encerrar portas, uma vez que abriu um negócio sem licenças.
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