terça-feira, 11 de março de 2025

Hoje faz anos Fábio Coentrão, o canhoto das Caxinas potenciado por Jesus que venceu tudo pelo Real Madrid

Fábio Coentrão somou 52 internacionalizações pela seleção nacional A
Um dos melhores laterais esquerdos de sempre do futebol português. Um promissor extremo que a dada altura ameaçou tornar-se numa promessa adiada, mas que com o treinador certo ganhou intensidade e a capacidade para desempenhar uma posição que melhor explorava a sua verticalidade e qualidade no cruzamento. Foi a embalar desde trás na ala canhota que tocou o céu e passou de “Figo das Caxinas” para modelo a seguir para aspirantes à posição de lateral. As lesões não lhe permitiram estender o auge da carreira, mas foi a tempo de ganhar tudo pelo Real Madrid.
 
Natural das Caxinas, um núcleo piscatório no concelho de Vila do Conde, desde cedo mostrou ter um talento para o futebol que não permitia que lhe dissessem para se dedicar à pesca. Aos 16 anos começou a treinar com a equipa principal do Rio Ave e aos 17 estreou-se mesmo pelos vila-condenses na I Liga, tendo sido lançado por António Sousa nos minutos finais de uma derrota em casa às mãos do Sp. Braga, a 14 de outubro de 2005. No mês seguinte somou a primeira de 25 internacionalizações pelas seleções jovens, pelos sub-18.
 
Em abril do ano seguinte o então extremo estreou-se como titular, numa receção ao Sporting (1-3), pela mão de João Eusébio, um homem da casa que já conhecia o caxineiro desde os 14 anos. “Eu sabia que o Fábio tinha simpatia pelo Sporting e tentei aproveitar isso devido ao aspeto motivacional”, contou o treinador ao Diário de Notícias em outubro de 2017.
 
“Ele era um irresponsável criativo. Via-se que era um talento, pela precocidade com que apareceu e pela forma como já jogava na I Liga com 18 anos. Foi sempre um miúdo com uma personalidade forte, que era ele próprio e não se moldava, e por isso cometia erros. Mas sempre foi humilde e bondoso, com bom coração”, acrescentou o técnico, também ele natural de Vila do Conde. Nessa fase, o que João Eusébio mais apreciava no futebol de Fábio Coentrão era a "intuitividade". “Ele era intuitivo para o jogo. Parecia que a bola ia ter com ele, mas não era assim. É algo com o qual já se nasce, não é como o passe ou a receção, que se trabalham”, recordou o mister.
 
 
Na época seguinte, 2006-07, aproveitou o espaço da II Liga para ganhar rodagem e tornar inevitável o salto para um clube de maior dimensão. Sporting ou Benfica eram os principais interessados. O coração levava o extremo a inclinar-se para Alvalade, mas os leões não foram além de uma proposta de 750 mil euros, enquanto as águias ofereceram um milhão, o que ditou a mudança para a Luz.
 
Mas Fábio Coentrão esteve longe de ter chegado, visto e vencido no Benfica. Na primeira meia época de encarnado não foi além de sete jogos realizados, às ordens de Fernando Santos e depois de José Antonio Camacho, o que o levou ao primeiro de três empréstimos, rumo ao Nacional da Madeira.
 
Ao serviço dos insulares até protagonizou uma segunda volta muito interessante, coroada com um bis numa vitória por 3-0 sobre o FC Porto no Estádio do Dragão, mas no início de 2008-09 voltou a ser cedido, desta feita ao Saragoça, recém-despromovido à II Liga Espanhola.
 
 
Porém, praticamente não jogou em Aragão, o que fez com que fosse emprestado ao Rio Ave no primeiro semestre de 2009, tendo em Vila do Conde regressado de forma consistente às boas exibições, voltando inclusivamente a marcar no Dragão.
 
 
No mesmo ano retornou ao Benfica, onde reencontrou Jorge Jesus, que o adaptou com muito sucesso a lateral esquerdo. Apesar de Shaffer e César Peixoto terem sido contratados para a posição, o caxineiro ganhou o lugar e formou uma dupla fantástica com Di María na asa canhota da águia. Num ápice, Fábio Coentrão viu o contrato melhorado e o seu nome na convocatória do selecionador Carlos Queiroz para a seleção nacional A, tendo participado no playoff frente à Bósnia na qualificação para o Mundial 2010.
 
Nessa temporada Benfica e Coentrão venceram, com “nota artística”, o campeonato e a Taça da Liga. Na Liga Europa os encarnados foram eliminados nos quartos de final pelo Liverpool após uma goleada sofrida em Anfield (1-4), num jogo em que Jorge Jesus deixou o vila-condense no banco para colocar David Luiz a lateral esquerdo.
 
 
Depois de ter sido titular em todos os jogos de Portugal no Mundial 2010, numa campanha que terminou com uma derrota às mãos da vizinha Espanha nos oitavos de final, Coentrão confirmou em 2010-11 todas as qualidades exibidas na época anterior. Face à transferência de Di María para o Real Madrid, chegava mesmo a ser a unidade mais acutilante do Benfica em termos ofensivos mesmo jogando como lateral, tendo sido importante para nova conquista da Taça da Liga e para a caminhada até às meias-finais da Liga Europa.
 
Depois de 97 jogos – 90 desde o regresso após os três empréstimos – e oito golos de águia ao peito, deu o salto para o Real Madrid de José Mourinho no verão de 2011, numa transferência que deixou 30 milhões de euros nos cofres do Benfica.
 
 
Nos primeiros anos na capital espanhola, com um compatriota como treinador e outro (Cristiano Ronaldo) a jogar à sua frente no corredor esquerdo, Coentrão bateu maioritariamente a concorrência de Marcelo na luta por um lugar no onze, sobretudo em 2012-13. Na temporada seguinte, às ordens de Carlo Ancelotti, foi perdendo algum espaço, mas ainda assim foi titular nas finais da Taça do Rei e da Liga dos Campeões, marcadas por vitórias sobre Barcelona (2-1) e Atlético Madrid (4-1).
 
A seguir à conquista da Champions e da participação no Mundial 2014, a carreira de Fábio Coentrão começou a entrar numa precoce curva descendente, aos 26 anos, por culpa de diversas lesões, nomeadamente numa coxa e num joelho, apesar de ainda ter contribuído para a conquista do Mundial de Clubes nesse ano.
 
 
Ficou tão difícil competir com um lugar com Marcelo que em 2015-16 foi mesmo emprestado ao Mónaco. Embora tivesse começado bem a aventura no Principado, voltou a ser atormentado por lesões, o que o impediu, por exemplo de estar presente no Euro 2016, que Portugal viria a vencer.
 
Na temporada seguinte regressou ao Real Madrid e até venceu Liga dos Campeões e campeonato espanhol – o segundo da conta pessoal, depois do de 2011-12 –, títulos para os quais teve uma contribuição muito diminuta. “Não tenho problemas nenhuns em dizer isto, sinto que atualmente não tenho condições para jogar num clube com a dimensão do Real Madrid. Não é mau admitir as nossas limitações em determinada fase da vida e eu sei que neste clube tem de se estar ao mais alto nível para corresponder. E eu não estou”, admitiu, em entrevista ao jornal Record, em março de 2017.
 
Apesar das juras de amor que em tempos havia feito ao Benfica, tendo chegado inclusivamente a dizer em junho de 2015 que em Portugal só jogaria de águia ao peito, a verdade é que no verão de 2017 voltou ao futebol luso para vestir a camisola do clube do coração na sua juventude, o Sporting, onde reencontrou Jorge Jesus.
 
 
Emprestado pelo Real Madrid, reassumiu “ser feito de Sporting” e, embora sem o fulgor ofensivo de outros tempos, conseguiu fazer uma época muito consistente em 2017-18, tendo atuado em 44 jogos – o melhor registo desde 2010-11, quando representava o Benfica – e voltado a jogar pela seleção nacional após quase dois anos depois… para sair lesionado no encontro da sua 52.ª e última internacionalização, logo aos 28 minutos, numa vitória na Hungria (1-0). Nessa temporada, marcada por episódios como críticas públicas do presidente Bruno de Carvalho ao plantel e sobretudo a invasão à Academia do clube, venceu a Taça da Liga.
 
 
No verão de 2018 terminou contrato com o Real Madrid e tornou-se um jogador livre. Magoado por não ter sido contactado para prosseguir no Sporting, decidiu refugiar-se onde tudo começou, o Rio Ave, clube que representou em 2018-19 e 2020-21, despedindo-se do emblema vila-condense e da carreira de futebolista com uma despromoção à II Liga, aos 33 anos. Pelo meio fez um hiato de cerca de um ano e, ao seu estilo, chegou a descrever-se como um “jogador reformado” em tribunal, durante o julgamento da invasão à Academia de Alcochete, para se desmentir logo a seguir nas redes sociais.
 
 
Após pendurar as botas dedicou-se à pesca, como armador. Em janeiro de 2025 foi apanhado com uma tonelada de marisco vivo ilegal num armazém arrendado no porto de pesca da Póvoa de Varzim e foi notificado pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) para encerrar portas, uma vez que abriu um negócio sem licenças. 



 
 




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