terça-feira, 26 de março de 2024

Do quadrado a três ao Real Madrid que jogou “poucachinho”. As melhores pérolas de Jorge Jesus

Jorge Jesus iniciou a carreira de treinador em 1989-90
Jorge Jesus é um dos melhores treinadores portugueses. Não da atualidade, mas de sempre. Ganhou três campeonatos em Portugal e um no Brasil, levou o Benfica a duas finais da Liga Europa e conquistou uma Taça Libertadores ao leme do Flamengo. Inversamente proporcional ao seu talento para o treino é a capacidade que tem em exprimir-se corretamente no idioma de Camões.
 
Mais engraçadas do que as calinadas rotineiras são aquelas que confundem conceitos. Quando orientava a União de Leiria, em 2005, e Ricardo Quaresma brilhava no FC Porto, o técnico referiu-se ao extremo como um “jogador virtual”, certamente quando quereria dizer “virtuoso”. Já no Benfica, mostrou camisolas para os jogadores “agrafarem”, em vez de “autografarem”.
 
Mas, caso quisesse mesmo dizer que Quaresma era virtual, não seria a única vez em que aludiu ao mundo do futebol virtual. Em 2008-09, quando o seu Sp. Braga perdeu no Estádio da Luz pela margem mínima num jogo marcado por decisões polémicas do árbitro a favor do Benfica, falou em videojogos: “É por isso que são sempre os mesmos campeões. Não há hipótese, não nos deixam ser melhores. Agora vocês perguntam: como é que eu resolvo isto? Não resolvo, só na PlayStation. Na PlayStation é que eu resolvo isto.”
 
 
Mas entre orientar a União de Leiria e o Sp. Braga, comandou o Belenenses entre 2006 e 2008. E terá sido precisamente quando esteve à frente da equipa do Restelo que destilou as melhores pérolas da carreira. Talvez contando com a presença de algum jogador virtual, desafiou as leis da geometria durante um exercício de treino, quando deu instruções a alguns dos seus atletas: “Vocês os três… façam um quadrado!”
 
Alguma eficácia os exercícios escolhidos por Jesus terão tido, uma vez que o Belenenses foi quinto classificado da I Liga e finalista da Taça de Portugal em 2006-07 e ficou às portas da Europa na temporada seguinte.
 
 
Pelo meio, o emblema lisboeta marcou presença no prestigiado Torneio Teresa Herrera, na Corunha, tendo defrontado o Real Madrid, e perdeu somente pela margem mínima diante de uma equipa que se apresentou com craques como Casillas, Pepe, Sergio Ramos, Cannavaro, Raúl, Robinho, Guti e Saviola. No final da partida, Jesus dirigiu-se ao treinador dos merengues, o alemão Bernd Schuster, e disse-lhe o que pensava: “Ó Schuster, com a tua equipa dava-te três de avanço, mudava aos cinco e acabava aos dez.”
 
Minutos depois, na conferência de imprensa, Schuster acusou o Belenenses de ser uma equipa defensiva, o que obrigou Jesus a responder com recurso a um português não muito correto, mas fácil de entender: “Também posso dizer que, com aqueles jogadores, aquilo que o Real Madrid fez foi muita poucachinho.”
 
 
Menos malandras, mas mais genuínas, foram outras calinadas que ficaram para a história: disse que estava a tratar “do processo de neutralização do Verona” quando se queria referir a um pedido de naturalização; quando questionado sobre uma renovação de contrato respondeu que “isso é uma questão do forno interno do clube; ou quando utilizou palavras que não existem no dicionário, como “subem” ou “padradas”, ou frases gramaticalmente incorretas, como “vaiam à bola” ou “quantos mais próximos a gente estejamos mais conhecimento tamos”.
 
Mas Jorge Jesus, que um dia disse que o fair play era uma treta, sabe reconhecer que não fala um português correto. Fala sim a linguagem do futebol, segundo o próprio: “O futebol tem uma linguagem própria, não é um português universitário, com todas as vírgulas e pontos finais no lugar. Porque senão nem os jogadores me percebem”, explicou.
 








 
 
  

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