Do quadrado a três ao Real Madrid que jogou “poucachinho”. As melhores pérolas de Jorge Jesus
Jorge Jesus iniciou a carreira de treinador em 1989-90
Jorge
Jesus é um dos melhores treinadores portugueses. Não da atualidade, mas de
sempre. Ganhou três campeonatos em Portugal e um no Brasil, levou o Benfica
a duas finais da Liga
Europa e conquistou uma Taça
Libertadores ao leme do Flamengo.
Inversamente proporcional ao seu talento para o treino é a capacidade que tem
em exprimir-se corretamente no idioma de Camões.
Mais engraçadas do que as
calinadas rotineiras são aquelas que confundem conceitos. Quando orientava a União
de Leiria, em 2005, e Ricardo
Quaresma brilhava no FC
Porto, o técnico referiu-se ao extremo como um “jogador virtual”,
certamente quando quereria dizer “virtuoso”. Já no Benfica,
mostrou camisolas para os jogadores “agrafarem”, em vez de “autografarem”. Mas, caso quisesse mesmo dizer
que Quaresma
era virtual, não seria a única vez em que aludiu ao mundo do futebol virtual.
Em 2008-09, quando o seu Sp.
Braga perdeu no Estádio
da Luz pela margem mínima num jogo marcado por decisões polémicas do
árbitro a favor do Benfica,
falou em videojogos: “É por isso que são sempre os mesmos campeões. Não há
hipótese, não nos deixam ser melhores. Agora vocês perguntam: como é que eu
resolvo isto? Não resolvo, só na PlayStation. Na PlayStation é que eu resolvo
isto.”
Mas entre orientar a União
de Leiria e o Sp.
Braga, comandou o Belenenses
entre 2006 e 2008. E terá sido precisamente quando esteve à frente da equipa
do Restelo que destilou as melhores pérolas da carreira. Talvez contando
com a presença de algum jogador virtual, desafiou as leis da geometria durante
um exercício de treino, quando deu instruções a alguns dos seus atletas: “Vocês
os três… façam um quadrado!” Alguma eficácia os exercícios
escolhidos por Jesus
terão tido, uma vez que o Belenenses foi quinto classificado da I
Liga e finalista da Taça
de Portugal em 2006-07 e ficou às portas da Europa na temporada seguinte.
Pelo meio, o emblema
lisboeta marcou presença no prestigiado Torneio Teresa Herrera, na Corunha,
tendo defrontado o Real
Madrid, e perdeu somente pela margem mínima diante de uma equipa que se
apresentou com craques como Casillas,
Pepe,
Sergio Ramos, Cannavaro, Raúl, Robinho, Guti e Saviola. No final da partida, Jesus
dirigiu-se ao treinador dos merengues,
o alemão Bernd Schuster, e disse-lhe o que pensava: “Ó Schuster, com a tua
equipa dava-te três de avanço, mudava aos cinco e acabava aos dez.” Minutos depois, na conferência de
imprensa, Schuster acusou o Belenenses
de ser uma equipa defensiva, o que obrigou Jesus
a responder com recurso a um português não muito correto, mas fácil de
entender: “Também posso dizer que, com aqueles jogadores, aquilo que o Real
Madrid fez foi muita poucachinho.”
Menos malandras, mas mais
genuínas, foram outras calinadas que ficaram para a história: disse que estava
a tratar “do processo de neutralização do Verona” quando se queria referir a um
pedido de naturalização; quando questionado sobre uma renovação de contrato
respondeu que “isso é uma questão do forno interno do clube; ou quando utilizou
palavras que não existem no dicionário, como “subem” ou “padradas”, ou frases
gramaticalmente incorretas, como “vaiam à bola” ou “quantos mais próximos a
gente estejamos mais conhecimento tamos”. Mas Jorge
Jesus, que um dia disse que o fair play era uma treta, sabe
reconhecer que não fala um português correto. Fala sim a linguagem do futebol,
segundo o próprio: “O futebol tem uma linguagem própria, não é um português universitário,
com todas as vírgulas e pontos finais no lugar. Porque senão nem os jogadores
me percebem”, explicou.
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