Isqueiro + termómetro. A fórmula de Iuran para fazer gazeta aos treinos no Benfica
Iuran somou 34 golos em 96 jogos pelo Benfica entre 1991 e 1994
Quando Paulo
Futre chegou ao Benfica
em janeiro de 1993, encontrou uma “equipa fantástica”, “um conjunto de sonho”, “uma
equipa para ganhar a Champions
nos anos seguintes”. Nesse plantel pontificavam nomes como Silvino,
Neno,
Veloso, Hélder,
Mozer, William, Paulo Sousa, Schwarz, Paulo Sousa, Vítor
Paneira, Rui Águas, Isaías,
João Vieira Pinto, Pacheco,
Iuran, Mostovoi e Rui
Costa.
O problema estava na relação
entre todos esses craques. “O pior balneário que conheci em toda a minha
carreira. Muitos grupos diferentes. Os russos,
os brasileiros e vários de portugueses, especialmente a chamada ‘Turma’ (o
ajuntamento que mais influência tinha dentro do plantel). Intrigas, interesses
e pouca união. Não me juntei a nenhum. Estávamos a meio da época e tentei ficar
numa zona neutra, sozinho, dando-me bem com todos ao mesmo tempo. Mas não foi
fácil. Ainda mais para mim. O melhor jogador português daquele momento e o mais
bem pago, num plantel composto por alguns profissionais que já eram autênticas
vacas sagradas do Benfica.
Isso gerou invejas e alguns deles tentaram fazer-me a vida difícil”, contou Futre
no livro El Portugués. No primeiro estágio do montijense
no Benfica,
por exemplo, Futre
foi dos primeiros a chegar ao refeitório do hotel e sentou-se numa mesa
qualquer, mas foi interpelado por Pacheco:
“Desculpa lá, Paulo,
mas tens de te levantar. Esse lugar é meu.” “Até tinha razão no que dizia,
porque as mesas estavam marcadas desde o início da época (é assim em todos os
clubes). Foi uma distração minha, mas achei piada e nem fiquei ali para
alimentar mais confusões. Estava no Benfica
para jogar futebol. Nada mais. Por isso, levantei-me, voltei a subir ao quarto,
esperei mais alguns minutos e desci quando já estavam todos sentados, para
ninguém vir marrar comigo novamente. Só havia um lugar disponível. Na mesa dos russos.
Mostovoi,
Iuran e Kulkov. Dei-me bem com eles desde o primeiro momento e até apendi
umas palavrinhas em russo”, começou por contar Futre. Mas “umas palavrinhas em russo”
não foi a única coisa que o internacional
português aprendeu com os russos,
nomeadamente com Iuran: “Um dia, antes de começar um treino, pediu-me para lhe
emprestar um isqueiro. Pensava que ele queria ir à casa de banho fumar um
cigarro, mas reparei que ele levava um termómetro na mão. Decidi segui-lo para
perceber o que estava a preparar. Saiu da casa de banho, entrou no posto médico
e tirou o termómetro debaixo do braço. O médico analisou a temperatura e
assustou-se. Quarenta graus de febre. Fez logo o diagnóstico ‘Iuran, tens de ir
já para casa e precisas de alguém que te leve porque nem estás em condições de
conduzir’.” “Grande truque do russo. Aqueceu
o termómetro com o meu isqueiro e conseguiu o seu grande objetivo: safar-se ao
treino para ir dormir. Dois dias depois confessou-me que tinha feito uma direta
e estava morto de sono”, recordou Futre.
Iuran havia chegado ao Benfica
no verão de 1991, na companhia do compatriota Kulkov, tendo recebido um ano
depois a companhia de Mostovoi. Sven-Göran Eriksson, que os trouxe para
Portugal, disse que o problema esteve na adaptação a um novo sistema financeiro
para o trio:
“Não estavam habituados a ter dinheiro. O Iuran, por exemplo, não confiava no
banco e guardava o dinheiro no colchão.” Os três
ainda fizeram parte da equipa campeã nacional em 1993-94, mas Artur
Jorge, que sucedeu a Toni
no comando técnico, deixou claro que não tinha paciência para os aturar.
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