quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Isqueiro + termómetro. A fórmula de Iuran para fazer gazeta aos treinos no Benfica

Iuran somou 34 golos em 96 jogos pelo Benfica entre 1991 e 1994
Quando Paulo Futre chegou ao Benfica em janeiro de 1993, encontrou uma “equipa fantástica”, “um conjunto de sonho”, “uma equipa para ganhar a Champions nos anos seguintes”. Nesse plantel pontificavam nomes como Silvino, Neno, Veloso, Hélder, Mozer, William, Paulo Sousa, Schwarz, Paulo Sousa, Vítor Paneira, Rui Águas, Isaías, João Vieira Pinto, Pacheco, Iuran, Mostovoi e Rui Costa.
 
O problema estava na relação entre todos esses craques. “O pior balneário que conheci em toda a minha carreira. Muitos grupos diferentes. Os russos, os brasileiros e vários de portugueses, especialmente a chamada ‘Turma’ (o ajuntamento que mais influência tinha dentro do plantel). Intrigas, interesses e pouca união. Não me juntei a nenhum. Estávamos a meio da época e tentei ficar numa zona neutra, sozinho, dando-me bem com todos ao mesmo tempo. Mas não foi fácil. Ainda mais para mim. O melhor jogador português daquele momento e o mais bem pago, num plantel composto por alguns profissionais que já eram autênticas vacas sagradas do Benfica. Isso gerou invejas e alguns deles tentaram fazer-me a vida difícil”, contou Futre no livro El Portugués.
 
No primeiro estágio do montijense no Benfica, por exemplo, Futre foi dos primeiros a chegar ao refeitório do hotel e sentou-se numa mesa qualquer, mas foi interpelado por Pacheco: “Desculpa lá, Paulo, mas tens de te levantar. Esse lugar é meu.”
 
“Até tinha razão no que dizia, porque as mesas estavam marcadas desde o início da época (é assim em todos os clubes). Foi uma distração minha, mas achei piada e nem fiquei ali para alimentar mais confusões. Estava no Benfica para jogar futebol. Nada mais. Por isso, levantei-me, voltei a subir ao quarto, esperei mais alguns minutos e desci quando já estavam todos sentados, para ninguém vir marrar comigo novamente. Só havia um lugar disponível. Na mesa dos russos. Mostovoi, Iuran e Kulkov. Dei-me bem com eles desde o primeiro momento e até apendi umas palavrinhas em russo”, começou por contar Futre.
 
Mas “umas palavrinhas em russo” não foi a única coisa que o internacional português aprendeu com os russos, nomeadamente com Iuran: “Um dia, antes de começar um treino, pediu-me para lhe emprestar um isqueiro. Pensava que ele queria ir à casa de banho fumar um cigarro, mas reparei que ele levava um termómetro na mão. Decidi segui-lo para perceber o que estava a preparar. Saiu da casa de banho, entrou no posto médico e tirou o termómetro debaixo do braço. O médico analisou a temperatura e assustou-se. Quarenta graus de febre. Fez logo o diagnóstico ‘Iuran, tens de ir já para casa e precisas de alguém que te leve porque nem estás em condições de conduzir’.”
 
“Grande truque do russo. Aqueceu o termómetro com o meu isqueiro e conseguiu o seu grande objetivo: safar-se ao treino para ir dormir. Dois dias depois confessou-me que tinha feito uma direta e estava morto de sono”, recordou Futre.
 
 
Iuran havia chegado ao Benfica no verão de 1991, na companhia do compatriota Kulkov, tendo recebido um ano depois a companhia de Mostovoi. Sven-Göran Eriksson, que os trouxe para Portugal, disse que o problema esteve na adaptação a um novo sistema financeiro para o trio: “Não estavam habituados a ter dinheiro. O Iuran, por exemplo, não confiava no banco e guardava o dinheiro no colchão.”
 
Os três ainda fizeram parte da equipa campeã nacional em 1993-94, mas Artur Jorge, que sucedeu a Toni no comando técnico, deixou claro que não tinha paciência para os aturar. 








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