terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Mostrou o rabo aos escoceses, passou pelos três grandes e foi a um Mundial. Quem se lembra de Paulo Santos?

Paulo Santos brilhou na baliza do Sp. Braga entre 2004 e 2008
Passou por Sporting, Benfica e FC Porto, mas foi enquanto guarda-redes do Sp. Braga que se tornou internacional A e mundialista, quase duas décadas depois de ter iniciado um percurso nas seleções jovens.
 
Paulo Santos nasceu em Odivelas a 11 de dezembro de 1972 e começou a ir à baliza nas camadas jovens do Sporting, entre 1984 e 1989. Pelo meio somou 15 internacionalizações pela seleção de sub-16, tendo marcado presença no Europeu e no Mundial da categoria em 1989 ao lado de Figo, Abel Xavier, Peixe, Capucho, Gil ou Bino.
 
No Campeonato da Europa, realizado na Dinamarca, ergueu o troféu de campeão continental e foi eleito melhor guarda-redes da prova. Já no Campeonato do Mundo, disputado na Escócia, teve uma atitude que lhe custou caro. Num jogo tenso diante da Guiné Conacri no fecho da fase de grupos, no qual Portugal esteve desde cedo a perder e reduzido a nove unidades, o guarda-redes, que passou o encontro a ser insultado por adeptos locais, baixou os calções e mostrou o rabo aos escoceses durante os festejos o golo do empate.
 
Na sequência desse incidente, foi punido com um ano de suspensão por parte da FIFA, ficou afastado das seleções jovens nacionais – voltou a jogar de quinas ao peito somente em abril de 1994, pelos sub-21 – e não viu grande vontade do Sporting em dar-lhe um contrato profissional, o que o levou a mudar-se para o Benfica.
 
Quando transitou para sénior, foi emprestado ao Mirense e depois ao Olivais e Moscavide, tendo regressado à Luz para integrar o plantel principal em 1993-94. Mesmo tapado por Neno e Silvino, Toni deu-lhe minutos no último jogo da época, o que fez dele campeão nacional. “Foi um ano espetacular. Nem os jornais davam nada por nós, todos diziam que o campeonato ia ser disputado entre o Sporting e o FC Porto, mas fomos campeões a um mês do final do campeonato. No dia em que fomos campeões, em Braga, frente ao Gil Vicente, foi brutal. Ainda havia as portagens de Sacavém, foi trânsito desde aí até ao Estádio da Luz, foi incrível”, recordou ao Maisfutebol em junho de 2020.
 
 
Seguiram-se passagens por Estoril e Penafiel antes de se estabelecer como guarda-redes de I Liga nas balizas de Estrela da Amadora e Alverca. A temporada de 2000-01 correu-lhe tão bem no Ribatejo que depois deu o salto para o FC Porto. “Nessa época do FC Porto havia cinco guarda-redes: eu, Ovchinnikov, Vítor Baía, Pedro Espinha e Hilário. Saí do Alverca com uma lesão, uma hérnia, começo a época a ser operado, foram todos de estágio para França, eu fiquei no Hospital da Trofa a ser operado. Mas tinha um foco tão grande, queria ser titular do FC Porto e consegui fazê-lo em pouco tempo”, lembrou o guardião, que em 2001-02 atuou em 14 partidas e sofreu 11 golos, tendo sido destronado por Baía quando este recuperou de lesão.
 
 
Na época seguinte integrou o plantel que venceu campeonato, Taça de Portugal e Taça UEFA às ordens de José Mourinho, mas não chegou a ser utilizado, tendo sido emprestado ao Varzim no primeiro semestre de 2003.
 
Após um ano a jogar apenas pelos bês portistas, ingressou no Sp. Braga no verão de 2004, inicialmente por empréstimo, mas a partir do ano seguinte a título definitivo. Os quatro anos que passou na Pedreira foram a melhor fase da carreira, tendo atuado em 134 encontros e convencido Luiz Felipe Scolari a chamá-lo à seleção nacional A – jogou pela primeira e única vez num particular diante da Irlanda do Norte em Belfast em novembro de 2005 e foi convocado para o Campeonato do Mundo do ano seguinte, na Alemanha, em substituição do lesionado Bruno Vale.  
 
 
“Foi de uma maneira ingrata, merecia ter ido de outra maneira e digo mais, merecia ter ido à seleção muitas mais vezes. Fiz grandes épocas, recordo-me que no Estrela da Amadora chegámos a ser a quarta defesa menos batida, num ano em que só havia dois guarda-redes portugueses no campeonato, eu no Estrela e o Tó Luís no Boavista. Fui ao Mundial e penso que é algo que todos os jogadores deviam presenciar, é uma vivência brutal”, considerou o guardião, nostálgico em relação aos tempos que passou no Sp. Braga: “Foi onde tive mais reconhecimento. (…) É no Sp. Braga que as coisas se tornam diferentes, conseguimos feitos muito grandes, chegámos a ser a equipa menos batida da Europa e eu fui o guarda-redes menos batido do campeonato. O que o Sp. Braga é hoje, deve muito a esse grupo. Lembro-me do primeiro jogo em Braga, amigável, contra o Benfica, quando entrei no estádio era só benfiquistas, mesmo do lado dos bracarenses. Mudámos isso. Hoje em dia, o Benfica vai lá, o Sporting, o FC Porto, só têm um espacinho para os seus adeptos, o resto são bracarenses. Conseguimos mudar essa mentalidade do bracarense, que estava dividido entre o Benfica e o Sp. Braga.”
 
 
Apesar de ter ajudado os arsenalistas a crescer, saiu do Minho pela porta pequena. “Não saí a bem com o Sp. Braga, meteram-me a treinar à parte, não foram corretos comigo. Tive de tomar a difícil decisão de ir para tribunal com o Braga”, contou Paulo Santos, que em 2008-09 defendeu a baliza do Odivelas na II Divisão B antes de reentrar na II Liga pela porta do Estoril e de regressar ao primeiro escalão através do Rio Ave para aquelas que foram as duas últimas épocas da carreira, 2010-11 e 2011-12.
 
 
“Já tinha 38 anos, estava com guarda-redes jovens, sei que o treinador [Carlos Brito] não foi muito favorável à minha ida para o Rio Ave, no início foi complicado, mas acabei por entrar no onze e as coisas começaram a mudar a partir daí. No ano a seguir, comecei a jogar, essa equipa técnica tinha ido buscar um guarda-redes ao Brasil e do nada meteram-no a jogar. Foi quando decidi que estava na hora, já não estava com paciência de aturar esse tipo de coisas. Tive convites para continuar, mas cansei-me”, recordou Paulo Santos, que após pendurar as luvas desenvolveu o próprio negócio, uma rede de autoconsumo empresarial, e tirou o curso de treinador, tendo já trabalhado como técnico de guarda-redes no B SAD (equipas B e sub-23), Al-Hilal (Arábia Saudita), Sepahan (Irão), Bodrumspor e Hatayspor (ambos Turquia). 



  




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