Mostrou o rabo aos escoceses, passou pelos três grandes e foi a um Mundial. Quem se lembra de Paulo Santos?
Paulo Santos brilhou na baliza do Sp. Braga entre 2004 e 2008
Passou por Sporting,
Benfica
e FC
Porto, mas foi enquanto guarda-redes do Sp.
Braga que se tornou internacional A e mundialista, quase duas décadas
depois de ter iniciado um percurso nas seleções jovens.
Paulo Santos nasceu em Odivelas a
11 de dezembro de 1972 e começou a ir à baliza nas camadas jovens do Sporting,
entre 1984 e 1989. Pelo meio somou 15 internacionalizações pela seleção de
sub-16, tendo marcado presença no Europeu e no Mundial da categoria em 1989 ao
lado de Figo,
Abel Xavier, Peixe,
Capucho, Gil
ou Bino. No Campeonato da Europa,
realizado na Dinamarca, ergueu o troféu de campeão continental e foi eleito
melhor guarda-redes da prova. Já no Campeonato do Mundo, disputado na Escócia,
teve uma atitude que lhe custou caro. Num jogo tenso diante da Guiné Conacri no
fecho da fase de grupos, no qual Portugal esteve desde cedo a perder e reduzido
a nove unidades, o guarda-redes, que passou o encontro a ser insultado por
adeptos locais, baixou os calções e mostrou o rabo aos escoceses durante os
festejos o golo do empate. Na sequência desse incidente, foi
punido com um ano de suspensão por parte da FIFA, ficou afastado das seleções
jovens nacionais – voltou a jogar de quinas ao peito somente em abril de 1994,
pelos sub-21
– e não viu grande vontade do Sporting
em dar-lhe um contrato profissional, o que o levou a mudar-se para o Benfica. Quando transitou para sénior, foi
emprestado ao Mirense e depois ao Olivais e Moscavide, tendo regressado à Luz
para integrar o plantel principal em 1993-94. Mesmo tapado por Neno e Silvino,
Toni
deu-lhe minutos no último jogo da época, o que fez dele campeão nacional. “Foi
um ano espetacular. Nem os jornais davam nada por nós, todos diziam que o
campeonato ia ser disputado entre o Sporting
e o FC
Porto, mas fomos campeões a um mês do final do campeonato. No dia em que
fomos campeões, em Braga, frente ao Gil
Vicente, foi brutal. Ainda havia as portagens de Sacavém, foi trânsito
desde aí até ao Estádio
da Luz, foi incrível”, recordou ao Maisfutebol
em junho de 2020.
Seguiram-se passagens por Estoril
e Penafiel
antes de se estabelecer como guarda-redes de I
Liga nas balizas de Estrela
da Amadora e Alverca.
A temporada de 2000-01 correu-lhe tão bem no Ribatejo que depois deu o salto
para o FC
Porto. “Nessa época do FC
Porto havia cinco guarda-redes: eu, Ovchinnikov,
Vítor
Baía, Pedro Espinha e Hilário.
Saí do Alverca
com uma lesão, uma hérnia, começo a época a ser operado, foram todos de estágio
para França, eu fiquei no Hospital da Trofa a ser operado. Mas tinha um foco
tão grande, queria ser titular do FC
Porto e consegui fazê-lo em pouco tempo”, lembrou o guardião, que em
2001-02 atuou em 14 partidas e sofreu 11 golos, tendo sido destronado por Baía
quando este recuperou de lesão.
Na época seguinte integrou o
plantel que venceu campeonato, Taça
de Portugal e Taça
UEFA às ordens de José
Mourinho, mas não chegou a ser utilizado, tendo sido emprestado ao Varzim
no primeiro semestre de 2003. Após um ano a jogar apenas pelos
bês portistas,
ingressou no Sp.
Braga no verão de 2004, inicialmente por empréstimo, mas a partir do ano
seguinte a título definitivo. Os quatro anos que passou na Pedreira foram a
melhor fase da carreira, tendo atuado em 134 encontros e convencido Luiz
Felipe Scolari a chamá-lo à seleção
nacional A – jogou pela primeira e única vez num particular diante da Irlanda
do Norte em Belfast em novembro de 2005 e foi convocado para o Campeonato
do Mundo do ano seguinte, na Alemanha, em substituição do lesionado Bruno
Vale.
“Foi de uma maneira ingrata,
merecia ter ido de outra maneira e digo mais, merecia ter ido à seleção
muitas mais vezes. Fiz grandes épocas, recordo-me que no Estrela
da Amadora chegámos a ser a quarta defesa menos batida, num ano em que só
havia dois guarda-redes portugueses no campeonato, eu no Estrela
e o Tó Luís no Boavista.
Fui ao Mundial
e penso que é algo que todos os jogadores deviam presenciar, é uma vivência
brutal”, considerou o guardião, nostálgico em relação aos tempos que passou no Sp.
Braga: “Foi onde tive mais reconhecimento. (…) É no Sp.
Braga que as coisas se tornam diferentes, conseguimos feitos muito grandes,
chegámos a ser a equipa menos batida da Europa e eu fui o guarda-redes menos
batido do campeonato. O que o Sp.
Braga é hoje, deve muito a esse grupo. Lembro-me do primeiro jogo em Braga,
amigável, contra o Benfica,
quando entrei no estádio era só benfiquistas, mesmo do lado dos bracarenses.
Mudámos isso. Hoje em dia, o Benfica
vai lá, o Sporting,
o FC
Porto, só têm um espacinho para os seus adeptos, o resto são bracarenses.
Conseguimos mudar essa mentalidade do bracarense, que estava dividido entre o Benfica
e o Sp.
Braga.”
Apesar de ter ajudado os arsenalistas
a crescer, saiu do Minho pela porta pequena. “Não saí a bem com o Sp.
Braga, meteram-me a treinar à parte, não foram corretos comigo. Tive de
tomar a difícil decisão de ir para tribunal com o Braga”, contou Paulo Santos,
que em 2008-09 defendeu a baliza do Odivelas
na II Divisão B antes de reentrar na II
Liga pela porta do Estoril
e de regressar ao primeiro
escalão através do Rio
Ave para aquelas que foram as duas últimas épocas da carreira, 2010-11 e
2011-12.
“Já tinha 38 anos, estava com
guarda-redes jovens, sei que o treinador [Carlos Brito] não foi muito favorável
à minha ida para o Rio
Ave, no início foi complicado, mas acabei por entrar no onze e as coisas
começaram a mudar a partir daí. No ano a seguir, comecei a jogar, essa equipa
técnica tinha ido buscar um guarda-redes ao Brasil e do nada meteram-no a
jogar. Foi quando decidi que estava na hora, já não estava com paciência de
aturar esse tipo de coisas. Tive convites para continuar, mas cansei-me”,
recordou Paulo Santos, que após pendurar as luvas desenvolveu o próprio
negócio, uma rede de autoconsumo empresarial, e tirou o curso de treinador,
tendo já trabalhado como técnico de guarda-redes no B SAD (equipas B e sub-23),
Al-Hilal (Arábia Saudita), Sepahan (Irão), Bodrumspor e Hatayspor (ambos
Turquia).
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