Goleador e primeiro treinador português campeão europeu e nas big five. Quem se lembra de Artur Jorge?
Artur Jorge foi goleador no Benfica e campeão europeu no FC Porto
Primeiro treinador português a
sagrar-se campeão europeu, orientando o FC
Porto, Artur Jorge teve uma vida ligada ao futebol, como jogador e técnico,
que o levou também à liderança da seleção
nacional.
Nascido no Porto, em 13 de
fevereiro de 1946, Artur Jorge foi um sucessor à altura do lendário José
Maria Pedroto no banco do FC
Porto, contribuindo, sob a tutela do presidente Pinto
da Costa, para a emancipação do clube, que teve como zénite a conquista da Taça
dos Campeões Europeus em 1987, derrubando um colosso chamado Bayern
Munique. Se é verdade que o maior sucesso
surgiu depois de pendurar as chuteiras, levando o clube
portuense a declará-lo "tão inesquecível como aquela noite de
Viena", Artur Jorge viveu muitos momentos de glória dentro dos relvados,
como um dos grandes avançados portugueses, e a sua vida não pode reduzir-se ao
desporto. Formou-se em Filologia Germânica,
escreveu poesia, tendo publicado um livro (Vértice da Água, em 1983), cultivava
o gosto por arte e música clássica e nunca escondeu o fervor revolucionário,
mesmo antes do 25 de abril, tendo-se tornado o primeiro presidente do Sindicato
dos Jogadores Profissionais de Futebol. Aquelas características faziam de
Artur Jorge uma ave rara no mundo do futebol e acentuavam a incompreensão, em
especial nos momentos das derrotas. Gostava de "coisas bonitas" e
nunca perdeu a oportunidade de o dizer. Após a morte, o organismo sindical
agradeceu-lhe: "Descanse em paz Artur Jorge, obrigado pelas coisas
bonitas". Como muitas crianças do seu
tempo, ganhou o gosto pela modalidade a jogar nas ruas da cidade, mas, aos 18
anos, já dava o salto para a equipa principal dos dragões,
estreando-se num jogo da Taça
de Portugal de 1964-65, frente ao Peniche,
e logo com um golo marcado. Na época seguinte rumou à Académica,
o que lhe permitiu conciliar a formação universitária com o futebol,
firmando-se como um dos avançados portugueses mais promissores e despertando a
cobiça do Benfica,
que o foi buscar em 1969. Continua a ser o quarto melhor marcador da equipa
de Coimbra, com 94 golos.
Em Lisboa, jogou seis temporadas
ao lado de Eusébio
e conquistou os títulos mais relevantes como futebolista, sagrando-se campeão
nacional em 1971, 1972, 1973 e 1975 e erguendo duas vezes a Taça
de Portugal (1970 e 1972), cotando-se como o melhor marcador dos
campeonatos de 1971 e 1972.
Deixou o Benfica
com o respeitável registo de 104 golos apontados em 131 jogos, terminando a
carreira aos 31 anos, numa pouco memorável passagem pelos norte-americanos do
Rochester Lancers, após três épocas no Belenenses,
que o ajudaram a colocar-se como o 15.º melhor marcador de sempre da Liga
portuguesa, com 160 golos.
A história na seleção
portuguesa foi mais curta, com 16 internacionalizações e um golo, mas teve
oportunidade de a prolongar com duas passagens pelo cargo de selecionador,
entre 1990 e 1991 e entre 1996 e 1997, ainda que sem grande sucesso, falhando
as qualificações para o Europeu de 1992 e o Mundial de 1998. Como treinador mostrou-se mais aventureiro,
orientando 14 clubes e três seleções -- além da equipa
das quinas, foi também selecionador da Suíça
e dos Camarões
-, nos quais conquistou 13 títulos e se sagrou campeão em três países: Portugal,
França
e Arábia Saudita. Começou como adjunto de Fernando
Peres e José
Maria Pedroto no Vitória
de Guimarães, em 1980-81, acabando por suceder ao mestre no FC
Porto, em 1984-85, após passagens como técnico principal no Belenenses
e no Portimonense.
Foi no clube azul
e branco, em dois períodos (entre 1984 e 1987 e entre 1988 e 1991), que
viveu os momentos mais altos da carreira como treinador, sagrando-se campeão
nacional em 1985, 1986 e 1990, conquistando a Taça
de Portugal em 1991, além de três edições da Supertaça. A apoteose chegou em 27 de maio
de 1987, em Viena, quando o FC
Porto, sem pedigree europeu, contrariou o favoritismo quase absoluto
do Bayern
Munique e a vantagem de 1-0 dos alemães
ao intervalo, para se impor por 2-1, com golos memoráveis Madjer
e Juary, e erguer pela primeira vez a antecessora da Liga
dos Campeões.
Artur Jorge tornava-se o primeiro
técnico português a cometer semelhante proeza e isso abriu-se as portas do futebol
francês, assumindo a liderança do Matra Racing, sem particular êxito,
regressando a casa, para um segundo fôlego no FC
Porto, do qual ainda é o segundo treinador com mais troféus conquistados,
com oito, apenas superado por Sérgio
Conceição, que venceu 10. O Paris
Saint-Germain, ainda longe de se assenhorear do futebol
francês, promoveu o seu regresso ao país em 1991-92, e ganhou com isso uma
Taça de França, em 1993, e um campeonato, em 1994 (Artur Jorge voltou à Cidade
Luz em 1998-99, mas resumiu-se à vitória na Supertaça francesa). Após ter reescrito mais uma vez a
história, ao tornar-se o primeiro técnico português a sagrar-se campeão de um
dos chamados big 5, reencontrou-se com o Benfica
em 1994-95, mas a estada não foi tão afortunada quanto a anterior, como
jogador, acabando por ser dispensado no início da época seguinte. Se a carreira prosseguiu por mais
duas décadas, a era dourada de Artur Jorge tinha chegado ao fim e as várias
seleções e clubes - entre os quais um regresso emocionado à Académica,
em 2002-03 – que comandou posteriormente pouco acrescentaram ao currículo,
resultando apenas em um título saudita, no Al Hilal, e em uma Supertaça russa,
no CSKA Moscovo.
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