O guarda-redes do FC Porto vítima de acidente fatal na A1. Quem se lembra de Zé Beto?
Zé Beto defendeu a baliza portista em 179 jogos
Carismático guarda-redes que integrou
durante cerca de uma década o plantel principal do FC
Porto, Zé Beto nasceu no seio de uma família de pescadores de Matosinhos
com algumas dificuldades económicas. Haveria de se mudar, mais tarde, para Leça
da Palmeira e para o Porto, onde conseguiu completar o ciclo preparatório, mas
não era bom aluno.
Ainda se aventurou no judo e na
natação, mas depois de experimentar a baliza do campo pelado do Pasteleira focou-se
no futebol. Do Pasteleira ao FC
Porto foi um tirinho, tendo chegado rapidamente às seleções nacionais
jovens. Ainda antes de se estrear pela equipa principal dos dragões
somou 13 internacionalizações pelos sub-18 e quatro pelos sub-20, tendo
participado no Campeonato do Mundo desta última categoria em 1979. A ansiada estreia oficial pela
equipa principal dos azuis
e brancos só aconteceu em março de 1983, pela mão de José
Maria Pedroto, muito depois de ter jogado pela primeira vez na I
Divisão ao serviço do Beira-Mar
em 1979-80, quando esteve emprestado aos aveirenses.
Ou seja, esteve cerca de três anos sem disputar um único encontro oficial,
tapado pelos mais experientes Fonseca, Tibi e Jorge Amaral. Haveria de manter a titularidade
na baliza do FC
Porto, ao ponto de ter sido o dono da baliza portista na final da Taça das
Taças perdida para a Juventus
em Basileia, em maio do ano seguinte. Porém, no final desse encontro agrediu o
árbitro assistente e foi severamente punido pela UEFA, tendo ficado afastado de
todas as provas internacionais durante um ano, o que o impediu de marcar presença
no Euro 1984. “Quando ia falar com o árbitro, o fiscal de linha virou-se e
ficámos peito contra peito. Depois quis falar com ele e espetou-me a bandeirola
no estômago. Se fosse uma faca tinha-me furado a barriga!”, contou o guardião dos
dragões
na altura.
Contudo, tudo mudou em janeiro de
1986, quando Zé Beto se lesionou e os portistas
contrataram aos franceses do Bastia o polaco Jozef Mlynarczyk, que o destronou.
“Quando cheguei ao FC
Porto, o Zé Beto era o titular, mas estava lesionado. Aliás, acho que é por
isso que me foi contratar. Fui logo titular na Luz
e sei que não foi fácil para ele ver-me tantas vezes a titular. Mas o Zé tinha
uma coisa boa: dizia o que tinha a dizer, o que tinha no coração saía-lhe pela
boca”, recordou Mlynarczyk ao zerozero. “O Zé tinha muita qualidade.
Talvez não se lembrem, mas no ano da final europeia eu fui suplente dele muitas
vezes. Quando estava confiante, o Zé era um guarda-redes fantástico; se estava
emocionalmente mal, tudo podia acontecer”, acrescentou o polaco. Zé Beto ainda dividiu a
titularidade na época da conquista do título europeu, 1986-87, o que lhe valeu
três internacionalizações pela seleção A durante essa temporada pós-Saltillo,
mas foi suplente em Viena. “Antes da final de Viena falámos muito. ‘Jozef, as
tuas defesas vão ser as minhas defesas’. Era um bom companheiro, tinha uma
força incrível. Nos balneários via-o a agarrar em armários enormes como se nada
fosse. Eu era o caladinho, mas o Zé não se cansava de falar e tinha aptidões
perfeitas para a baliza”, lembrou Mlynarczyk. Na época seguinte Zé Beto também
não foi utilizado nos jogos que valeram as conquistas da Supertaça Europeia e
da Taça Intercontinental e em 1988-89 começou a temporada como suplente de Mlynarczyk,
mas uma lesão do habitual dono da baliza reabriu-lhe as portas da titularidade.
O problema foi que o polaco se lesionou a dois dias de uma partida em Guimarães
e que, desde então até ao jogo, Zé Beto esteve em parte incerta e incontactável,
o que fez com que fosse o jovem e estreante Vítor Baía a assumir a titularidade
nessa partida. Zé Beto ainda foi afastado do grupo pelo treinador Quinito, mas
pediu desculpas publicamente e acabou por reassumir a baliza portista. Entretanto, o treinador campeão
europeu em 1987, Artur Jorge, voltou ao banco dos azuis
e brancos e iniciou uma “limpeza de balneário” que incluiu Zé Beto, cujo
último jogo foi realizado a 4 de fevereiro de 1989, num empate a um golo em
Portimão. Exatamente um ano depois, numa
altura em que o guarda-redes estava entusiasmado com a indicação de que podia
voltar a treinar com o plantel do FC
Porto, foi passear com a família a Aveiro e despistou-se no regresso a
casa, à passagem por Santa Maria da Feira, na A1, e teve morte imediata. Tinha
apenas 29 anos.
“A minha mãe, que também ia a
dormitar, diz-me que só se lembra de sentir o carro a fugir. E lembro-me do
barulho. Caí do banco e fiquei na zona dos pés. Acordei aí. O rail separador
entrou no carro e decapitou o meu pai. Vi a massa encefálica do meu pai, ninguém
esquece isso”, contou o filho Ricardo ao zerozero.
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