Hoje faz anos o herói de Alkmaar e desempregado que virou finalista europeu. Quem se lembra de Miguel Garcia?
Miguel Garcia somou 80 jogos e dois golos pelo Sporting entre 2003 e 2007
Defesa alentejano que começou por
ser central, mas que fez praticamente toda a carreira como lateral direito,
nasceu em Moura e começou a jogar futebol nas camadas jovens do Moura
Atlético Clube, de onde saltou em 1997 para o clube do coração, o Sporting,
quando tinha 14 anos e era iniciado, depois de ter brilhado no Torneio Lopes da
Silva.
Em janeiro de 2001 somou a
primeira de 39 internacionalizações pelas seleções jovens, no caso a de sub-17,
e em 2002-03 integrou a equipa B do emblema
leonino, tendo transitado para o plantel principal na época seguinte. Fernando
Santos apostou nele e concedeu-lhe a titularidade no lado direito da defesa
durante praticamente toda a época, batendo a concorrência do também jovem Mário
Sérgio, que havia sido contratado ao Paços
de Ferreira. Após a conclusão das competições
de clubes ajudou a seleção
portuguesa de sub-21 a alcançar o terceiro lugar no Campeonato da Europa,
disputado na Alemanha, e o consequente apuramento olímpico, o que lhe valeu a
distinção com o Prémio Stromp na categoria “Especial Europeu”. No entanto, não
foi convocado para os Jogos
de Atenas. Em 2004-05, a chegada de Rogério
retirou-lhe margem de manobra, mas ainda assim conseguiu ser utilizado em 23
jogos, tendo vivido o inferno, o céu e… novamente o inferno: falhou
o penálti, no desempate com o Benfica na Luz que ditou a eliminação da Taça de
Portugal; marcou o golo ao cair do pano, em Alkmaar, que valeu o apuramento
para a final da Taça
UEFA; e foi titular nos dois jogos mais marcantes dessa época pela
negativa, a derrota na Luz
na penúltima jornada do campeonato que praticamente entregou o título nacional
ao Benfica,
e a final da Taça
UEFA perdida em Alvalade
para os russos do CSKA
Moscovo.
Mas por muitos dissabores que
tenha vivido e por muito que o Sporting
tenha perdido essa final semanas depois, Miguel
Garcia é sobretudo recordado como o herói de Alkmaar nessa noite de 5 de
maio de 2005, na qual até faturou pela primeira vez pela equipa principal dos leões.
“É um momento que marcou a minha carreira e que marcou todos os sportinguistas.
Já lá vão muitos anos. Foi o momento mais alto da carreira, não só por ter
marcado o golo, mas por ter jogado a final. Mas claro que me lembro e de vez em
quando vou ao computador ver e ainda me arrepiou”, afirmou ao jornal A
Bola em julho de 2015.
Na primeira metade da temporada
seguinte até começou por dividir a titularidade com Rogério, mas a chegada de
Abel em janeiro de 2006, numa altura em que já era Paulo
Bento quem estava no comando técnico, afastou-o completamente do onze
inicial. Em 2006-07, a tendência manteve-se, mas serviu de consolação a estreia
na Liga
dos Campeões e a conquista da Taça
de Portugal.
No verão de 2007 mudou-se para os
italianos do Reggina, mas uma grave lesão afastou-o dos relvados durante
praticamente dois anos, tendo estado completamente inativo durante a temporada
2008-09.
Desacreditado e desempregado,
surgiu a treinar no Estágio do Jogador, iniciativa do Sindicato dos Jogadores
Profissionais de Futebol, na pré-época de 2009-10. “Eu estava com 26 anos, já
ninguém acreditava em mim, pensavam o Miguel já foi operado duas vezes, o
Miguel já não joga há um ano e tal, se o contratarmos vai dizer que lhe dói o
joelho. O Vitória
de Setúbal não me quis, Leixões
não me quis, a União
de Leiria não me quis e por aí fora. Acho que fui oferecido a toda a gente
e ninguém me queria”, recordou, em entrevista à Tribuna
Expresso, em janeiro de 2019. Entretanto, foi contratado pelo Olhanense,
então comandado por Jorge Costa. Depressa mostrou não ter perdido qualidades,
até porque só esteve meia época nos algarvios,
pois valorizou-se e deu o salto para o Sp.
Braga em janeiro de 2010, na mesma altura em que João Pereira se transferiu
dos bracarenses
para o Sporting,
a tempo de ajudar os arsenalistas
a sagrarem-se vice-campeões nacionais. No entanto, foi na época seguinte
que se afirmou no Minho, após a saída de Filipe
Oliveira para o Parma.
O lateral alentejano foi, em 2010-11, um dos esteios da equipa que sob a orientação
de Domingos
Paciência se apurou para fase de grupos da Liga
dos Campeões e chegou à final
da Liga Europa, perdida para o FC Porto em Dublin (0-1). Dois anos depois de ter estado
desempregado, foi ganhar muito dinheiro para a Turquia, onde representou o
Orduspor, uma mudança que talvez o tenha prejudicado em termos de seleção
nacional A, pois desapareceu um pouco do radar e acabou por nunca chegar a
ser convocado, numa altura em que até não abundavam jogadores para a posição. Em 2013-14 representou o Maiorca
na II Liga Espanhola e depois foi
para a Índia, onde jogou nos últimos anos de carreira, tendo pendurado as
botas no final de 2015, aos 32 anos. Após terminar o percurso como
futebolista licenciou-se em gestão imobiliária e abriu uma empresa de
investimento em propriedades.
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