domingo, 3 de agosto de 2025

Hoje faz anos a eterna promessa do Benfica que secou Papin numa meia-final da Champions. Quem se lembra de Samuel?

Samuel esteve na equipa principal do Benfica entre 1983 e 1993
Defesa central nascido na Guiné-Bissau, começou por jogar no Benfica de Bissau, de onde saltou para o Benfica lisboeta por intermédio do antigo jogador benfiquista Cavungi.
 
Desenvolvido nas camadas jovens do clube da Luz, conseguiu captar a atenção do treinador dos encarnados daquela altura, Sven-Göran Eriksson. Pela mão do sueco, estreou-se na equipa principal a 31 de dezembro de 1983, entrando para o lugar do lesionado António Bastos Lopes numa receção vitoriosa ao Desportivo de Chaves (4-0), para a Taça de Portugal. "Era um Benfica diferente", recordou ao Diário de Notícias em setembro de 2017. "Os jogadores lutavam pela camisola. Quando cheguei à equipa principal, havia um balneário para os mais novos e outro para os mais velhos. Havia muito respeito pelos mais velhos, que até me pediam para ir comprar tabaco", acrescentou.
 
Entretanto, já com o húngaro Pál Csernai no comando técnico, Samuel beneficiou de uma lesão de Humberto Coelho para agarrar um lugar no onze, numa afirmação que durou até à chegada de concorrentes de peso como Mozer, Aldair ou Ricardo Gomes. Contudo, o regresso de Eriksson à Luz, em 1989, devolveu-lhe a felicidade.
 
Na final da Taça dos Campeões Europeus de 1990, o sueco não pôde contar com o castigado Veloso e decidiu apostar em Samuel para o lado esquerdo da defesa, embora tivesse jogadores enraizados naquela posição para enfrentar o Milan de Gullit, Rijkaard e Van Basten. "Não esperava jogar no lado esquerdo nem num jogo normal, quanto mais numa final. Não tinha experiência a jogar nessa posição e o meu pé esquerdo não funcionava", conta, lembrando uma grande campanha até à final perdida (0-1) no Estádio Prater, em Viena, onde três anos antes o FC Porto se tinha sagrado campeão europeu.
 
"Tínhamos uma equipa em que ninguém apostava para chegar à final. Nas meias-finais, tínhamos perdido em casa do Marselha, e eles pensavam que nos venceriam facilmente na Luz", afirmou, recordando a célebre mão de Vata ocorrida nesse encontro, e que valeu o passaporte para a final. "No calor do jogo, ninguém percebeu. E o Vata negava. Ele nunca disse que tinha marcado com a mão, embora as imagens televisivas o tenham comprovado. O que é certo é que esse golo surgiu já na fase final do jogo, e, apesar de o Marselha ter caído em cima de nós, conseguimos segurar o resultado. Não deu para eles terem tempo de reação", disse, puxando a cassete atrás sobre um encontro no qual Samuel anulou por completo a grande estrela dos marselheses, o avançado Jean-Pierre Papin.
 
 
Por ter tão boas memórias, não esquece Eriksson. "Quando vejo Mourinho, comparo-o muito com ele. Eriksson sabia ler o jogo, tinha visão e lidava muito bem com as pessoas. Vejo muito dele em Mourinho. Gosto de fazer esta comparação. Foi o treinador que mais admirei", confessou, lamentando não ter seguido um conselho do técnico nórdico: "O Eriksson queria que eu fizesse musculação, para desenvolver a massa muscular, mas sempre descurei isso. Eu pensava que isso me tornaria menos rápido, o que acabou por me prejudicar, pois tive lesões que não teria se tivesse seguido o conselho."
 
E até quando o nórdico o enviou para o Boavista, para ganhar rodagem, deu resultado. "Foi uma experiência muito boa, que me levou à seleção nacional. Foi a melhor época [1991-92] da minha carreira. Fizemos uma campanha muito boa e conquistámos a Taça de Portugal. O Boavista tinha uma grande equipa", atirou, em alusão a nomes como João Pinto ou Ricky.
 
Central baixo, de apenas 1,76 m, Samuel "não tinha altura nem corpo" e sentiu grandes dificuldades para enfrentar avançados bem mais poderosos, que tentava travar através da velocidade. Talvez por isso nunca conseguiu descolar o rótulo de eterna promessa. Ainda assim, conseguiu somar 159 jogos, dois golos, três campeonatos (1986-87, 1988-89 e 1990-91), duas Supertaças (1985 e 1989) e quatro Taças de Portugal (1984-85, 1985-86, 1986-87 e 1992-93) de águia ao peito, assim como cinco internacionalizações pela seleção nacional A.
 
Entre 1993 e 1995 representou o Vitória de Guimarães, seguindo-se passagens por Tirsense, Odivelas e Fanhões antes de pendurar as botas em 1999, aos 32 anos, no culminar de um final de carreira marcado por várias lesões graves e um controlo antidoping positivo.
 
Após encerrar o percurso como futebolista abriu um café em Alfragide, mas em 2012 mudou-se para Londres, onde continuou a trabalhar no ramo da restauração.
 
 




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