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Samuel esteve na equipa principal do Benfica entre 1983 e 1993 |
Defesa central nascido na
Guiné-Bissau, começou por jogar no Benfica de Bissau, de onde saltou para o
Benfica
lisboeta por intermédio do antigo jogador benfiquista Cavungi.
Desenvolvido nas camadas jovens
do
clube
da Luz, conseguiu captar a atenção do treinador dos encarnados daquela
altura,
Sven-Göran
Eriksson. Pela mão do
sueco,
estreou-se na equipa principal a 31 de dezembro de 1983, entrando para o lugar do
lesionado António Bastos Lopes numa receção vitoriosa ao
Desportivo
de Chaves (4-0), para a
Taça
de Portugal. "Era um
Benfica
diferente", recordou ao
Diário
de Notícias em setembro de 2017. "Os jogadores lutavam pela
camisola. Quando cheguei à equipa principal, havia um balneário para os mais
novos e outro para os mais velhos. Havia muito respeito pelos mais velhos, que
até me pediam para ir comprar tabaco", acrescentou.
Entretanto, já com o húngaro Pál
Csernai no comando técnico,
Samuel
beneficiou de uma lesão de Humberto Coelho para agarrar um lugar no onze, numa
afirmação que durou até à chegada de concorrentes de peso como Mozer, Aldair ou
Ricardo Gomes. Contudo, o regresso de
Eriksson
à
Luz,
em 1989, devolveu-lhe a felicidade.
Na final da
Taça
dos Campeões Europeus de 1990, o
sueco
não pôde contar com o castigado Veloso e decidiu apostar em
Samuel
para o lado esquerdo da defesa, embora tivesse jogadores enraizados naquela
posição para enfrentar o
Milan
de Gullit, Rijkaard e Van Basten. "Não esperava jogar no lado esquerdo nem
num jogo normal, quanto mais numa final. Não tinha experiência a jogar nessa
posição e o meu pé esquerdo não funcionava", conta, lembrando uma grande
campanha até à final perdida (0-1) no Estádio Prater, em Viena, onde
três
anos antes o FC Porto se tinha sagrado campeão europeu.
"Tínhamos uma equipa em que
ninguém apostava para chegar à final. Nas meias-finais, tínhamos perdido em
casa do
Marselha,
e eles pensavam que nos venceriam facilmente na
Luz",
afirmou, recordando a célebre mão de Vata ocorrida nesse encontro, e que valeu
o passaporte para a final. "No calor do jogo, ninguém percebeu. E o Vata
negava. Ele nunca disse que tinha marcado com a mão, embora as imagens
televisivas o tenham comprovado. O que é certo é que esse golo surgiu já na
fase final do jogo, e, apesar de o
Marselha
ter caído em cima de nós, conseguimos segurar o resultado. Não deu para eles
terem tempo de reação", disse, puxando a cassete atrás sobre um encontro no
qual
Samuel
anulou por completo a grande estrela dos
marselheses,
o avançado
Jean-Pierre
Papin.
Por ter tão boas memórias, não
esquece
Eriksson.
"Quando vejo
Mourinho,
comparo-o muito com ele.
Eriksson
sabia ler o jogo, tinha visão e lidava muito bem com as pessoas. Vejo muito
dele em
Mourinho.
Gosto de fazer esta comparação. Foi o treinador que mais admirei",
confessou, lamentando não ter seguido um conselho do técnico nórdico: "O
Eriksson
queria que eu fizesse musculação, para desenvolver a massa muscular, mas sempre
descurei isso. Eu pensava que isso me tornaria menos rápido, o que acabou por
me prejudicar, pois tive lesões que não teria se tivesse seguido o
conselho."
E até quando o
nórdico
o enviou para o Boavista, para ganhar rodagem, deu resultado. "Foi uma
experiência muito boa, que me levou à
seleção
nacional. Foi a melhor época [1991-92] da minha carreira. Fizemos uma
campanha muito boa e conquistámos a
Taça
de Portugal. O
Boavista
tinha uma grande equipa", atirou, em alusão a nomes como João Pinto ou
Ricky.
Central baixo, de apenas 1,76 m,
Samuel
"não tinha altura nem corpo" e sentiu grandes dificuldades para
enfrentar avançados bem mais poderosos, que tentava travar através da
velocidade. Talvez por isso nunca conseguiu descolar o rótulo de eterna
promessa. Ainda assim, conseguiu somar 159 jogos, dois golos, três campeonatos
(1986-87, 1988-89 e 1990-91), duas Supertaças (1985 e 1989) e quatro
Taças
de Portugal (1984-85, 1985-86, 1986-87 e 1992-93) de águia ao peito, assim
como cinco internacionalizações pela
seleção
nacional A.
Entre 1993 e 1995 representou o
Vitória
de Guimarães, seguindo-se passagens por
Tirsense,
Odivelas
e Fanhões antes de pendurar as botas em 1999, aos 32 anos, no culminar de um
final de carreira marcado por várias lesões graves e um controlo antidoping
positivo.
Após encerrar o percurso como
futebolista abriu um café em Alfragide, mas em 2012 mudou-se para Londres, onde
continuou a trabalhar no ramo da restauração.
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