terça-feira, 29 de julho de 2025

Um ídolo e quatro flops, mas todos campeões. Recorde os polacos que jogaram no FC Porto antes de Bednarek

Os cinco polacos que jogaram no FC Porto foram campeões
Oficializado esta segunda-feira à noite como reforço do FC Porto, o defesa central Jan Bednarek, contratado aos ingleses do Southampton por 7,5 milhões de euros, vai tornar-se no sexto jogador polaco a atuar de dragão ao peito.
 
Se apenas um dos seus antecessores se tornou num verdadeiro ídolo para os adeptos azuis e brancos, o defensor de 29 anos vai sentir o peso de seguir os compatriotas num aspeto: todos foram campeões nacionais pelos portistas.
 
Para tal, mais do que o desempenho individual em cada um dos casos, terá sido decisivo o facto de a história de futebolistas polacos no principal emblema da Invicta ter coincidido com o período áureo do clube, entre as décadas de 1980 e 2010.
 
Jozef Mlynarczyk
Polaco com créditos firmados ao serviço do Widzew Lodz – atingiu as meias-finais da Taça dos Campeões Europeus em 1982-83 – e da seleção polaca – havia estado no Mundial 1982 –, foi contratado aos franceses do Bastia em janeiro de 1986 e nessa altura dificilmente imaginaria que um ano e meio depois estaria a festejar a conquista do título continental.
Assim que chegou a Portugal, e perante a lesão do até então habitual titular Zé Beto, teve uma prova de fogo na estreia de dragão ao peito, um clássico com o Benfica na Luz. Não sofreu golos, num jogo marcado por um penálti de Gomes defendido por Bento, e deu nas vistas com as reposições de bola – com o pé, fez o esférico parar ao guardião benfiquista e com a mão fê-lo passar a linha do meio-campo.
“Na época seguinte ao título de 1984-85 tínhamos novamente aspirações, mas perdemos um jogo no final da primeira volta, na Covilhã. O nosso guarda-redes titular estava lesionado e jogou o Matos, que era um bom guarda-redes, mas não estava à altura dos outros. Perdemos 2-0 e no jogo seguinte jogávamos na Luz. Eu tinha um amigo que não era propriamente empresário, que trabalhava em França e estava ligado ao futebol. Ele era muito amigo do Luís César, o nosso secretário técnico, e disse-lhe que precisava de um guarda-redes. Ele perguntou-me se conhecia o Jozef Mlynarczyk, eu disse que conhecia, o polaco. Ele disse-me que estava no Bastia e poderia haver uma possibilidade. Eu disse-lhe que não era uma possibilidade, tinha de estar cá até quarta-feira para jogar na Luz. Ele disse que não sabia se era possível. Respondi-lhe que se era impossível dava-lhe até quinta-feira, disse-lhe na brincadeira. Se for possível, até quarta, se for impossível, na quinta, mas tem que o pôr cá. Impossível ou não, ele conseguiu-o, o Mlynarczyk jogou na Luz, empatámos 0-0, e ele fez uma grande exibição. Impossível é o que é difícil e demora mais tempo a resolver. Não há impossíveis”, contou Pinto da Costa no quarto episódio da série documental “Ironias do Destino”, no Porto Canal, em junho de 2021.
Até ao final dessa época de 1985-86 sofreu apenas seis golos em 15 jogos, contribuindo para a conquista do título nacional. No verão que se seguiu disputou o Mundial do México e até esteve na vitória da Polónia sobre Portugal em Monterrey (1-0).
Na temporada seguinte, Mly e Zé Beto dividiram a titularidade. O português jogou mais na primeira fase da época, mas o polaco foi dono e senhor da baliza a partir de março de 1987, tendo atuado nos derradeiros cinco jogos da Taça dos Campeões Europeus – nos quartos de final diante dos dinamarqueses do Brondby, nas meias-finais frente aos soviéticos do Dínamo Kiev e na final de Viena diante do Bayern Munique.
Em 1987-88 manteve o estatuto, tendo defendido a baliza portista nas vitórias sobre o Ajax na Supertaça Europeia e sobre o Peñarol na Taça Intercontinental, numa época também marcada pela conquista da dobradinha.
Contudo, uma lesão no início da temporada seguinte, aliado a um misterioso desaparecimento de Zé Beto, abriram as portas da titularidade a Vítor Baía e precipitaram o final de carreira de Mlynarczyk, que ficaria nas Antas como treinador de guarda-redes até 1999-2000.
 
 
 
Grzegorz Mielcarski
Ainda assim, recordam os portistas, não foi dos piores que passaram pela Invicta. Até porque este avançado polaco, diga-se a verdade, foi afetado por bastantes lesões. O próprio reconheceu, em declarações ao Maisfutebol em junho de 2012, que teve “mais lesões do que golos” no FC Porto.
Mesmo sem grandes números num campeonato como o polaco nem feitos relevantes nas provas europeias ou no futebol de seleções, foi contratado pelo FC Porto ao Widzew Lodz no verão de 1995, numa altura em que Bobby Robson era o treinador e tinha Jozef Mlynarczyk como técnico de guarda-redes, o que poderá ter ajudado no recrutamento do compatriota. A intenção era dotar a equipa de uma alternativa, mais poderosa fisicamente, a Domingos Paciência. Uma arma secreta para resolver partidas complicadas através do futebol aéreo. Em alguns encontros, resultou, mas esperava-se mais.
“Tive a sorte de ser tetracampeão, mas não esqueço os muitos problemas físicos que tive. Sofri bastante, essa é a realidade. Fiquei a dever muitos golos aos adeptos e ao clube”, confessou o antigo ponta de lança, que resolveu, por exemplo, uma difícil eliminatória da Taça de Portugal frente ao Gil Vicente em Barcelos em dezembro de 1996 ou um emocionante dérbi no Bessa um ano depois. Também carimbou uma vitória em Leiria que apurou os dragões para a final da Taça em 1997-98, decidiu ao cair do pano uma receção ao Vitória de Guimarães em dezembro de 1997 e ajudou a desbloquear outros jogos complicados.
“Se tiver de escolher só um jogo, escolho a grande exibição e o golo contra o Deportivo da Corunha no Torneio Cidade do Porto. Fui o melhor em campo e isso abriu-me as portas do clube por muitos anos”, frisou.
Com a camisola azul e branca conquistou quatro campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça. Chegou a ser comparado a Van Basten pelo presidente portista e deu-lhe razão parcial, no que concerne às… lesões. “O presidente dizia sempre que eu era o Van Basten do FC Porto. Se não fossem as lesões ias para o lugar do holandês no AC Milan. Sempre confiei cegamente no Pinto da Costa. Tem magia na voz, encanta”, recordou o antigo internacional polaco (dez jogos, um golo), que ficou apaixonado por arroz de cabidela e pela beleza da cidade do Porto.
 
 
 
Andrej Wozniak
A boa experiência com Mlynarczyk, que havia chegado às Antas cerca de uma década antes, levou os dragões a recorrer novamente ao mercado polaco, precisamente ao Widzew Lodz, um clube no qual o guarda-redes titular do FC Porto campeão europeu de 1986-87 havia jogado.
Wozniak, que custou 300 mil dólares, até começou a temporada 1996-97 como titular e sofreu apenas cinco golos nos primeiros nove jogos. “Era o titular da seleção polaca quando cheguei ao FC Porto. Comecei como titular, fiz vários jogos bons e tínhamos a defesa menos batida do campeonato. Tive de ir fazer dois jogos pela seleção e quando voltei o [António] Oliveira deu a titularidade ao Hilário. Ele era um menino sem experiência e jogou em casa do Sporting. Ninguém queria acreditar. Esteve muito bem, o FC Porto ganhou e perdi o lugar”, recordou ao Maisfutebol em junho de 2012.
Acabou por voltar a ser utilizado apenas em três jogos na fase final da época, em março. “Foi pena”, lamentou, reconhecendo que “suceder a um herói como o Vítor Baía era impossível”.
Essa pressão de suceder a Baía foi, no entender de Mlynarczyk, que na altura era treinador de guarda-redes dos azuis e brancos, a principal razão do insucesso de Wozniak nas Antas: “Ele não rendeu; sobretudo psicologicamente, não aguentava a pressão. Aqui, com o clube ou a seleção, menos jornalistas nos treinos, poucas pessoas nos estádios. Ele não aguentou. Cagou-se! Foi tão surpresa para mim que desde aí deixámos de ser amigos. Éramos muito amigos, mas por causa do FC Porto andámos zangados, ficámos assim [bate os punhos um no outro]... Senti-me responsável pela má contratação dele e ficava mal perante o clube. Cada dia para ele era um martírio, os jornalistas, as vitórias que se pediam.
Na temporada seguinte continuou em Portugal, mas na baliza do Sp. Braga, tendo regressado depois à Polónia.
 
 
 
Przemyslaw Kazmierczak
De azul e branco festejou a conquista do título nacional, mas foi pouco utilizado, não indo além de 19 partidas (nove como titular) em 2007-08. “Já sabia que o FC Porto era um grande clube e que não seria fácil jogar sempre. Aqui estou a trabalhar a um nível diferente, mas a vida é assim mesmo. Aprendo todos os dias e quero ser cada vez melhor”, chegou a afirmar em fevereiro de 2008.
Essa escassa utilização prejudicou-o em termos de seleção, uma vez que não foi chamado para a fase final do Campeonato da Europa disputado na Áustria e na Suíça.
Seguiu-se um empréstimo aos ingleses do Derby County, então a atuar no Championship (segundo escalão), mas desentendeu-se com o treinador Nigel Clough, filho do mítico Brian Clough.
Em julho de 2009 rescindiu contrato com os dragões e assinou pelo Vitória de Setúbal.
 
 
 
Pawel Kieszek
Antes de Bednarek, o último polaco a jogar pelo FC Porto foi o guarda-redes Pawel Kieszek, surpreendentemente contratado no verão de 2010 depois de três anos de escassa utilização no Sp. Braga, o que o levou inclusivamente a esta emprestado ao Vitória de Setúbal na segunda metade de 2008-09.
Como seria de esperar, viveu toda a temporada 2010-11 na sombra de Helton e de Beto, mas foi utilizado em quatro jogos, o que fez dele um vencedor do campeonato nacional e da Taça de Portugal. Nessa época os dragões só não venceram a Taça da Liga e o guardião polaco esteve associado a esse dissabor, uma vez que cometeu um erro colossal na derrota caseira com o Nacional (1-2) que ditou a eliminação na competição.
Em 2011-12 foi emprestado aos neerlandeses do Roda e depois terminou a ligação aos azuis e brancos.
 
 



 




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