Dez jogadores que marcaram uma era na Académica |
Fundada a 3 de novembro de 1887,
a Associação
Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol é o clube mais antigo
em atividade em Portugal e na Península Ibérica, tendo nascido da fusão entre o
Clube Atlético de Coimbra (fundado em 1861) e a Academia Dramática (fundada em
1837).
Logo na segunda edição do extinto
Campeonato de Portugal os estudantes
mostraram que estavam no futebol português para deixar uma marca, sagrando-se
vice-campeões nacionais em 1922-23.
Depois foi criada a I
Divisão, competição em que a briosa
já amealhou 64 presenças, a última das quais em 2015-16. Quase meio século
antes, em 1966-67, a formação
de Coimbra alcançou o segundo lugar no campeonato.
Também na Taça
de Portugal a Académica
tem feito história, contando no seu museu com dois troféus, relativos às épocas
1938-38 e 2011-12. Pelo meio, foi finalista em 1950-51, 1966-67 e 1968-69,
tendo esta última final ficado marcada por uma gigantesca manifestação
estudantil contra o regime.
Longe dos melhores dias, os coimbrenses
pela 16.ª vez na II
Liga, patamar em que compete desde 2016-17, já depois de ter participado no
renovado segundo
escalão entre 1990-91 e 1996-97 e entre 1999-00 e 2001-02.
10. Zé do Carmo (93 jogos)
Zé do Carmo |
Médio defensivo internacional brasileiro de baixa estatura (1,73 m),
chegou à Académica
no verão de 1991, proveniente do Vasco
da Gama, clube pelo qual se tinha sagrado campeão no seu país em 1989.
Embora já tivesse 30 anos quando chegou a Coimbra, fez valer o seu
estatuto e a qualidade de passe – “era o rei do passe longo, com uma precisão
incrível”, recorda Mickey – para ter impacto imediato na equipa, tendo
amealhado 93 jogos (84 a titular) e oito golos na II
Liga ao longo de três temporadas. Em 1992-93, esteve perto de contribuir
para a subida à I
Liga, mas os estudantes
ficaram a escassos dois pontos desse objetivo.
Após três anos na briosa,
voltou ao Brasil para representar novamente o clube que o revelou, o Santa
Cruz.
Em junho de 2020, admitiu ter sido vítima de racismo enquanto
representava a briosa.
“Assim que cheguei em Portugal, para jogar pela Académica
de Coimbra, já nos primeiros dias escutei de um torcedor: ‘Negro filho da
p… O que veio fazer aqui em Portugal? Estava passando fome lá no Brasil?’. Por
mais negros que lá tivessem, existia esse preconceito”, contou ao Diário
As Beiras.
9. Mickey (94 jogos)
Mickey |
Médio de características ofensivas natural de Pelariga, concelho de
Pombal, ingressou na Académica
quando ascendeu a júnior, em 1988-89.
Em 1990-91 estreou-se pela equipa principal, mas não foi além de um jogo
como suplente utilizado na II
Liga.
Nas duas temporadas que se seguiram esteve emprestado ao Mirandense e à
Naval, mas em 1993-94 voltou a Coimbra para se afirmar, ainda que nessa época
não tivesse ido além de cinco encontros (dois a titular) no segundo
escalão.
Nas três temporadas seguintes acumulou 88 partidas (76 a titular) e
marcou seis golos, contribuindo para a subida à I
Liga em 1997.
Entre 1997 e 1999 competiu pelos estudantes
no primeiro
escalão, tendo depois rumado ao Campomaiorense,
numa altura em que o ambiente entre Mickey e os dirigentes da briosa
já não era o melhor. “A certa altura [em 1997-98], defendi o meu colega Rui
Campos num desentendimento que ele teve com o José Romão, por uma questão de
justiça. Penso que fiquei marcado desde aí, sobretudo pelo senhor António
Augusto, chefe do departamento de futebol” afirmou ao Maisfutebol em janeiro de 2021.
“Fiquei mais um ano, descemos no final desse ano e, durante a época, o
presidente Campos Coroa disse-me que o Jorge Mendes estava interessado em pegar
em mim para depois me colocar em Espanha.
Falou-se no Valência,
entre outras hipóteses, e o Sp.
Braga tentou eu que rescindisse com justa causa, porque tinha salários em
atraso, mas eu nunca faria isso à Académica.
No final do período de férias, o Jorge Mendes fala-me do Campomaiorense.
Iria para lá e, se não fosse vendido em dezembro, regressaria à Académica,
com quem ainda tinha contrato. Aceitei ir mas já sentia que estava a ser
despejado”, acrescentou, honrado por ter capitaneado o histórico emblema do centro
do país: “Ter sido capitão da Académica
encheu-me de orgulho e só tive pena que o meu pai não tivesse presenciado isso.
Estreei-me na equipa sénior da Académica
um mês depois da morte dele.”
8. Zé Duarte (105 jogos)
Após a promoção regressou ao Académico Viseu.
7. Tozé (113 jogos)
Entretanto foi ganhar rodagem
para clubes da região Centro como Santacombadense, Tabuense e Oliveira do
Bairro, tendo regressado a Coimbra a 1989-90.
Entre 1990 e 1995 amealhou 113
encontros (105 a titular) e sete golos na II
Liga, tendo ficado a escassos dois pontos da subida à I
Liga em 1992-93.
No verão de 1995 transferiu-se
para o Leça,
clube que lhe deu a possibilidade de voltar a jogar no primeiro
escalão dez épocas depois.
6. Ricardo Dias (114 jogos)
Médio defensivo de elevada
estatura (1,89 m) natural de Aveiro e internacional jovem por Portugal, foi
vice-campeão mundial de sub-20 e concluiu a formação no FC
Porto, chegando a jogar pela equipa principal.
Após empréstimos a Tourizense e Santa
Clara e passagens por Beira-Mar, Belenenses
e Feirense,
foi emprestado pelos azuis
do Restelo à Académica
no verão de 2017, iniciando aí uma ligação que já vai na quinta temporada – as
três primeiras por empréstimo, as duas últimas já com vínculo contratual aos estudantes.
Ao serviço da briosa,
Ricardo Dias leva já 114 partidas (112 a titular) e sete golos na II
Liga, tendo ficado perto da subida à I
Liga em 2017-18 e 2020-21, quando a equipa
de Coimbra concluiu o campeonato em quarto lugar.
5. Lewis (120 jogos)
Lewis |
Extremo canhoto mais de 30 vezes internacional por Trindade e Tobago,
entrou no futebol português precisamente pela porta da Académica
no verão de 1990, na companhia dos compatriotas Latapy (já lá vamos…) e Clint.
Nas quatro épocas que passou nos estudantes
amealhou 120 jogos (110 a titular) e 43 golos na II
Liga, registo que faz dele o melhor marcador do clube na competição – o
melhor é o moçambicano Dário, com 50 remates certeiros em apenas 91 partidas.
Em 1992-93 integrou a equipa que ficou a escassos dois pontos da subida à I
Liga.
Paralelamente, marcou presença na Gold Cup 1991.
No verão de 1994 transferiu-se para o Felgueiras,
que clube que lhe possibilitou a estreia no primeiro
escalão.
4. Traquina (123 jogos)
Traquina |
Extremo internacional sub-21
português natural de Alcobaça, passou pelas camadas jovens do Ginásio
de Alcobaça e do Benfica
antes de ingressar nos juvenis da Académica
em 2004-05.
Em 2007-08 subiu a sénior, mas
foi sucessivamente emprestado a Tourizense e Estoril
nas três épocas que se seguiram, acabando por terminar o seu vínculo aos estudantes
e prosseguir a carreira noutras paragens.
Após passagens por Pampilhosa,
Sertanense, Fafe,
Sp.
Covilhã e Belenenses,
regressou a Coimbra no verão de 2016 e desde então que tem feito parte do
plantel. “O convite para assinar pela Académica
surge após uma época menos positiva no Belenenses.
Como a Académica
sempre foi um clube querido para mim, não pensei duas vezes e assinei”, contou
ao Região de Cister. “Tinha o desejo de
vestir a camisola da briosa”,
acrescentou.
Desde 2016-17 já acumulou 123
encontros (107 a titular) e 16 golos na II
Liga, tendo ficado perto da subida à I
Liga em 2017-18 e 2020-21, quando a equipa
de Coimbra concluiu o campeonato em quarto lugar.
O número de jogos disputados até
poderia ser bem superior, uma vez que na pré-época de 2017-18 sofreu uma rutura
do ligamento cruzado anterior do joelho direito que o afastou dos relvados
durante nove meses.
Paralelamente, tem feito o
percurso… académico. Em 2021 concluiu a licenciatura em Ciências do Desporto e
iniciou o mestrado em treinado desportivo.
3. Latapy (127 jogos)
Latapy |
Médio internacional por Trinidad
e Tobago, chegou à Académica
juntamente com os compatriotas Lewis e Clint no verão de 1990.
Em quatro anos em Coimbra totalizou
127 jogos (123 a titular) e 33 golos, tendo em 1992-93 integrado a equipa que
ficou a escassos dois pontos da subida à I
Liga.
“Na altura, a Académica
tinha muitos jogadores que eram estudantes
e como eu só falava inglês ajudaram-me muito na questão da língua. O mais
complicado foi o frio, porque Trinidad é um país tropical, e a comida. É
engraçado porque hoje acho que a cozinha portuguesa é a melhor do mundo…”,
recordou o caribenho ao Maisfutebol em setembro de 2014.
Paralelamente, o “Valdo de
Coimbra” representou a sua seleção na Gold Cup 1991.
2. Pedro Roma (134 jogos)
Na temporada seguinte assumiu a
titularidade, tendo atuado em 32 encontros e sofrido 21 golos, registo que
ajuda a explicar um nível de rendimento que lhe valeram duas
internacionalizações pelos sub-21 e o salto para o Benfica
em 1992.
Sem espaço na Luz, foi cedido ao Gil
Vicente antes de regressar a Coimbra em 1994-95, por empréstimo, tendo
dividido a titularidade com Vítor Alves. Nessa época, não foi além de 14
partidas e onze golos sofridos no segundo
escalão.
Após um empréstimo ao Famalicão,
voltou em definitivo à Académica
em 1996-97, tendo sido um dos esteios da equipa que assegurou a promoção à I
Liga após nove anos de ausência do primeiro
escalão, ao atuar em 33 jogos e sofrer apenas 19 golos.
Seguiram-se dois anos entre a elite
do futebol português em que foi sempre titular indiscutível, embora não
tivesse conseguido evitar a despromoção em 1998-99.
Entre 1999 e 2001 foi
maioritariamente titular na baliza dos estudantes
na II
Liga, tendo amealhado 54 encontros e 67 golos sofridos, mas na primeira
metade de 2001-02, temporada marcada pela subida à I
Liga, viveu na sombra do jovem internacional português Márcio Santos. Em
janeiro de 2002 emprestado ao Sp.
Braga numa altura em que Quim estava afastado dos relvados por ter testado
positivo num controlo antidoping.
Porém, o então já experiente
guardião de 32 anos recuperou a titularidade no regresso à I
Liga e manteve-a até quase ao final da carreira, encerrada em 2009, aos 39
anos – Peskovic remeteu-o para o banco de suplentes a partir de 2008.
“Foram 20 anos, muitos jogos -
quase 400 -, mais de uma centena deles em que tive a suprema honra de ser
capitão de equipa. Como o foram antes Alberto Gomes, Mário Wilson, Bentes,
Gervásio, Tomás e Miguel Rocha e tantas outras figuras do imaginário Briosa
ao longo de décadas. Nunca me imaginei ao pé de homens tão ilustres. Não dá
para equacionar a honra que se sente e simultaneamente a responsabilidade que
nos pesa sobre os ombros”, recordou, após pendurar as luvas.
Depois tornou-se treinador de
guarda-redes, tendo trabalhado no staff de André Villas Boas na Académica
antes de se mudar em 2011 para os quadros da Federação Portuguesa de Futebol.
1. Rocha (297 jogos)
Rocha |
Médio defensivo natural de
Coimbra filho do antigo médio academista Augusto Rocha, fez toda a formação e
todo o percurso como sénior na Académica.
Em termos de equipa principal, ingressou em 1986-87 e despediu-se em 2003-04,
quando pendurou as botas.
Já depois de ter competido na I
Divisão e na II Divisão, amealhou um total de 206 encontros (199 a titular)
e sete golos na II
Liga entre 1990-91 e 1996-97, tendo contribuído para a promoção à I
Liga em 1997.
Após duas épocas no primeiro
escalão, acumulou 91 partidas (86 a titular) e seis golos entre 1999-00 e
2001-02, tendo ajudado os estudantes
a alcançarem nova subida ao patamar
maior do futebol português em 2002.
Seguiram-se mais duas temporadas
na II
Liga antes de pendurar as botas. Porém, quando encerrou a carreira
permaneceu na briosa
enquanto fisioterapeuta.
“No princípio da carreira, quem
viu jogar o meu pai ainda tentava estabelecer comparações, mas agora, com o
número de jogos e épocas que já somo, a identificação está bem definida. Temos
características muito diferentes e nem sequer falamos muito sobre futebol.
Vivemos separados há muitos anos, embora mesmo nos meus tempos nas camadas
jovens não fosse frequente o diálogo sobre o assunto. Seguíamos apenas os jogos
um do outro, pois via-o nos veteranos”, afirmou em julho de 2003.
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