O “Altafini de Cernache” e um dos heróis da Taça das Taças do Sporting. Quem se lembra de Figueiredo?
Figueiredo representou o Sporting entre 1960 e 1968
Avançado combativo e com apurado
instinto goleador, está na história do Sporting
como o seu décimo melhor marcador, com 150 golos em 232 jogos oficiais.
Antes de se consagrar em Alvalade,
este atacante natural de Tomar despontou no Matrena e deu nas vistas ao serviço
de União
de Tomar e Vitória
de Sernache, tendo saído diretamente do modesto clube de Cernache do
Bonjardim, então na III Divisão Nacional, para o Sporting. Porém, Ernesto Figueiredo não
sentiu a diferença do nível competitivo e continuou a marcar golos, ao ponto de
se ter tornado o melhor marcador da equipa – apesar de ser o mais mal pago do
plantel – logo na primeira época em Alvalade,
1960-61, quando apontou 25 remates certeiros. Numa altura em que o Benfica
dominava o futebol português, o jogador tomarense ficou conhecido como o “Altafini
de Cernache” devido à sua propensão para marcar golos aos encarnados
(nove no total), numa alusão ao avançado do AC
Milan que bisou diante das águias
na final da Taça dos
Campeões Europeus em 1962-63. “O Benfica
foi à final dos Campeões
Europeus com o AC
Milan, perdeu 1-2 e o Altafini marcou os dois golos. Na semana seguinte
jogámos com o Benfica
em Alvalade
para a Taça
de Portugal. Tínhamos perdido 0-1 na Luz
e ganhámos 2-0 com dois golos meus. Um jornalista de A Bola, que foi
viver para a Bélgica, deu-me essa alcunha de Altafini de Cernache por ter
marcado dois golos, como o brasileiro do Milan
fizera. Aquilo pegou e até no balneário me chamavam Altafini. Há muita gente
que ainda hoje só me conhece por Altafini. Se gostava? Gostava, claro. Ainda
gosto”, recordou ao Maisfutebol
em novembro de 2014.
Figueiredo ajudou o Sporting
a impedir uma hegemonia benfiquista
ainda maior ao conquistar dois campeonatos (1961-62 e 1965-66) e uma Taça
de Portugal (1962-63). Em 1965-66 sagrou-se mesmo o melhor marcador do
campeonato, a par de Eusébio,
com 25 golos, mas ficou a reclamar: “Acabei a época com 26 jogos e 26 golos,
mas tiraram-me um golo, com o Lusitano
de Évora. Os jornais desportivos escreveram que foi autogolo do
guarda-redes Vital, mas como, se eu rematei à baliza?! Às vezes, encontro o Eusébio
por aí, falo-lhe disso e ele diz-me sempre: ‘Não te metas nisso’. Pois claro
que não me meto. Os jornais desportivos queriam dar-lhe a terceira Bota de
Prata consecutiva.” Por essa altura, foi também um
dos heróis da grande
façanha internacional da história leonina, a conquista da Taça das Taças em
1963-64, ao apontar seis golos na prova, incluindo dois na primeira final
com o MTK
(3-3) em Bruxelas e três na famosa goleada por 16-1 ao APOEL em Alvalade.
Seis vezes internacional A, fez
parte da equipa
dos magriços que concluiu o Mundial 1966 em terceiro lugar, mas não chegou
a jogar no Campeonato do Mundo, uma vez que o selecionador Manuel da Luz Afonso
nunca abdicou do quarteto ofensivo formado pelos benfiquistas José Augusto, Eusébio,
Torres
e Simões. “Estive em Inglaterra e não joguei, foi uma grande mágoa. Depois do
jogo com a Coreia do Norte o Otto
Glória disse-me para estar bem preparado que ia entrar. O Torres
estava aleijado, o Simões estava aleijado... Na altura não havia substituições,
ou se entrava de início ou não jogávamos. Nisto vem o Manuel da Luz Afonso, que
era o selecionador, e diz que era só para meter a malta do Benfica.
Isto ninguém me contou, ouvi eu. O Torres
e o Simões jogaram infiltrados. Depois foi o que se viu... Na meia-final com a Inglaterra,
o Torres
surge em frente do guarda-redes e caiu com dores. Fazíamos o 2-2 nessa altura.
Saiu lesionado desse jogo...”, recordou. Em 1968 colocou um ponto final na
ligação de oito anos ao Sporting
e assinou pelo Vitória
de Setúbal, tendo ajudado os sadinos
a conseguir honrosas classificações na I
Divisão como o quarto lugar em 1968-69 e a terceira posição em 1969-70 e a
atingir os quartos de final da Taça das Cidades com Feiras em 1968-69.
Os bons desempenhos no Bonfim
valeram-lhe mesmo o regresso à seleção
nacional após cerca de dois anos e meio de ausência, tanto que somou quatro
das seis internacionalizações A que tem no currículo enquanto jogador dos setubalenses.
Em 1970 foi jogar para a Bélgica,
tendo voltado a Portugal quatro anos depois para representar o Esperança
de Lagos e voltar ao Matrena. Distinguido em 1999 com o Prémio
Stromp na categoria saudade, tornou-se taxista após encerrar a carreira de
futebolista.
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