quarta-feira, 23 de julho de 2025

O “Altafini de Cernache” e um dos heróis da Taça das Taças do Sporting. Quem se lembra de Figueiredo?

Figueiredo representou o Sporting entre 1960 e 1968
Avançado combativo e com apurado instinto goleador, está na história do Sporting como o seu décimo melhor marcador, com 150 golos em 232 jogos oficiais.
 
Antes de se consagrar em Alvalade, este atacante natural de Tomar despontou no Matrena e deu nas vistas ao serviço de União de Tomar e Vitória de Sernache, tendo saído diretamente do modesto clube de Cernache do Bonjardim, então na III Divisão Nacional, para o Sporting.
 
Porém, Ernesto Figueiredo não sentiu a diferença do nível competitivo e continuou a marcar golos, ao ponto de se ter tornado o melhor marcador da equipa – apesar de ser o mais mal pago do plantel – logo na primeira época em Alvalade, 1960-61, quando apontou 25 remates certeiros.
 
Numa altura em que o Benfica dominava o futebol português, o jogador tomarense ficou conhecido como o “Altafini de Cernache” devido à sua propensão para marcar golos aos encarnados (nove no total), numa alusão ao avançado do AC Milan que bisou diante das águias na final da Taça dos Campeões Europeus em 1962-63. “O Benfica foi à final dos Campeões Europeus com o AC Milan, perdeu 1-2 e o Altafini marcou os dois golos. Na semana seguinte jogámos com o Benfica em Alvalade para a Taça de Portugal. Tínhamos perdido 0-1 na Luz e ganhámos 2-0 com dois golos meus. Um jornalista de A Bola, que foi viver para a Bélgica, deu-me essa alcunha de Altafini de Cernache por ter marcado dois golos, como o brasileiro do Milan fizera. Aquilo pegou e até no balneário me chamavam Altafini. Há muita gente que ainda hoje só me conhece por Altafini. Se gostava? Gostava, claro. Ainda gosto”, recordou ao Maisfutebol em novembro de 2014.
 
 
Figueiredo ajudou o Sporting a impedir uma hegemonia benfiquista ainda maior ao conquistar dois campeonatos (1961-62 e 1965-66) e uma Taça de Portugal (1962-63). Em 1965-66 sagrou-se mesmo o melhor marcador do campeonato, a par de Eusébio, com 25 golos, mas ficou a reclamar: “Acabei a época com 26 jogos e 26 golos, mas tiraram-me um golo, com o Lusitano de Évora. Os jornais desportivos escreveram que foi autogolo do guarda-redes Vital, mas como, se eu rematei à baliza?! Às vezes, encontro o Eusébio por aí, falo-lhe disso e ele diz-me sempre: ‘Não te metas nisso’. Pois claro que não me meto. Os jornais desportivos queriam dar-lhe a terceira Bota de Prata consecutiva.”
 
Por essa altura, foi também um dos heróis da grande façanha internacional da história leonina, a conquista da Taça das Taças em 1963-64, ao apontar seis golos na prova, incluindo dois na primeira final com o MTK (3-3) em Bruxelas e três na famosa goleada por 16-1 ao APOEL em Alvalade.
 
 
Seis vezes internacional A, fez parte da equipa dos magriços que concluiu o Mundial 1966 em terceiro lugar, mas não chegou a jogar no Campeonato do Mundo, uma vez que o selecionador Manuel da Luz Afonso nunca abdicou do quarteto ofensivo formado pelos benfiquistas José Augusto, Eusébio, Torres e Simões. “Estive em Inglaterra e não joguei, foi uma grande mágoa. Depois do jogo com a Coreia do Norte o Otto Glória disse-me para estar bem preparado que ia entrar. O Torres estava aleijado, o Simões estava aleijado... Na altura não havia substituições, ou se entrava de início ou não jogávamos. Nisto vem o Manuel da Luz Afonso, que era o selecionador, e diz que era só para meter a malta do Benfica. Isto ninguém me contou, ouvi eu. O Torres e o Simões jogaram infiltrados. Depois foi o que se viu... Na meia-final com a Inglaterra, o Torres surge em frente do guarda-redes e caiu com dores. Fazíamos o 2-2 nessa altura. Saiu lesionado desse jogo...”, recordou.
 
Em 1968 colocou um ponto final na ligação de oito anos ao Sporting e assinou pelo Vitória de Setúbal, tendo ajudado os sadinos a conseguir honrosas classificações na I Divisão como o quarto lugar em 1968-69 e a terceira posição em 1969-70 e a atingir os quartos de final da Taça das Cidades com Feiras em 1968-69.
 
 
Os bons desempenhos no Bonfim valeram-lhe mesmo o regresso à seleção nacional após cerca de dois anos e meio de ausência, tanto que somou quatro das seis internacionalizações A que tem no currículo enquanto jogador dos setubalenses.
 
 
Em 1970 foi jogar para a Bélgica, tendo voltado a Portugal quatro anos depois para representar o Esperança de Lagos e voltar ao Matrena.
 
Distinguido em 1999 com o Prémio Stromp na categoria saudade, tornou-se taxista após encerrar a carreira de futebolista. 









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