Fundado em 4 de maio de 1914, o União
Futebol Comércio e Indústria de Tomar viveu os momentos mais altos da sua
história nas décadas de 1960 e 1970, quando participou por seis vezes na I
Divisão. Foi precisamente nessa altura que o emblema ribatejano chegou por
cinco ocasiões aos quartos de final da Taça
de Portugal.
No espaço de uma década, entre
1958 e 1968, saltou da II Divisão da AF Santarém para o patamar maior do
futebol, protagonizando uma ascensão meteórica como tão raras vezes se tem
assistido no futebol português.
“O facto de existir um quartel em
Tomar e de haver muitos jovens futebolistas a fazer o serviço militar
obrigatório, que jogavam para não serem mobilizados para as colónias, levou a
que muita gente envergasse a camisola unionense. Também temos que dar mérito às
direções do clube da altura, que integravam muitos construtores civis (os
chamados patos bravos), que investiam no clube”, explicou o atual presidente do
clube, Abel Bento, ao Mirante.
Porém, os nabantinos também são
conhecidos por terem tido nos seus quadros um jogador chamado Eusébio da Silva
Ferreira, assim como António Simões, numa altura em que o clube já tinha caído
para a II Divisão, em 1977-78.
Apesar de ser de longe o clube do
distrito de Santarém com um historial mais glorioso, desde 1976 que está
arredado da elite do futebol português e desde 2002 que está remetido aos
campeonatos distritais.
Voltando aos tempos áureos, foram
52 os futebolistas que jogaram pelo União de Tomar Na I Divisão. Vale por isso
a pena recordar os dez que o fizeram por mais vezes.
10. Calado (72 jogos)
Jorge Calado |
Central moçambicano que surgiu na
equipa principal do Benfica
em 1961, foi bastante pouco utilizado na Luz,
mas ainda assim jogou o suficiente para ter no currículo cinco títulos de
campeão nacional e três Taças
de Portugal – pelo meio, passou pelo Leixões em 1968-69.
Aos 29 anos, surgiu no verão de
1971 como reforço do então recém-promovido União de Tomar, que participava pela
terceira vez na I Divisão, e impôs-se rapidamente como titular no eixo
defensivo dos tomarenses. Em 30 jornadas disputou 29, sempre como titular, e
marcou dois golos, nas vitórias caseiras sobre Tirsense e Atlético, o que
contribuiu para que fosse assegurada a permanência.
Possante e com bom poder de
elevação, mas algo lento, transferiu-se depois para o Belenenses,
mas voltaria a Tomar em 1974-75, em mais uma época em que os nabantinos
envergavam o estatuto de recém-promovido à I Divisão. Calado foi novamente
titular indiscutível, tendo disputado 22 jogos (sempre a titular) e marcado um
golo, no triunfo caseiro sobre o Vitória
de Guimarães, ajudando mais uma vez a assegurar a permanência.
No verão de 1975 passou pelos
norte-americanos dos Boston Minuteman, mas regressou a tempo de começar a nova
temporada e de se afirmar de pedra e cal no onze, participando em 21 partidas,
sempre a titular, mas não conseguiu evitar a descida de divisão.
Depois voltou aos Estados Unidos
e terminou a carreira no Viseu e Benfica, na III Divisão.
9. Fernando Luís (75 jogos)
Fernando Luís |
Médio madeirense, já tinha
adquirido experiência de I Divisão ao serviço de Belenenses
e Sp.
Braga quando chegou ao União de Tomar, no verão de 1970, e logo na primeira
temporada contribuiu para a promoção à elite do futebol português.
Seguiram-se dois anos no primeiro
escalão. Em 1971-72 disputou 27 encontros (12 a titular) e marcou dois golos,
frente a Barreirense
e Leixões. Na época seguinte participou em 24 jogos (18 a titular) e apontou
quatro golos, entre os quais um ao FC
Porto e outro ao Benfica,
porém, não conseguiu evitar a descida de divisão.
Ainda assim, continuou no clube e
ajudou-o a voltar à I Divisão um ano depois. Em mais duas participações no
primeiro escalão, disputou 13 partidas (quatro a titular) e marcou três golos
em 1974-75 e participou em 11 jogos (dois a titular) em 1975-76, a última época
do União de Tomar no patamar maior do futebol português.
Depois voltou à Madeira para
vestir a camisola dos três grandes da sua região: Nacional,
Marítimo e União.
8. João Carlos (78 jogos)
João Carlos |
Se Fernando Luís é madeirense,
João Carlos é açoriano, um defesa central que em 1969 chegou ao União de Tomar
proveniente do Atlético, clube que tinha acabado de descer à II Divisão e que o
jogador representava pela quarta temporada.
Na primeira época nos nabantinos foi
totalista no campeonato, disputando os 2340 minutos da competição, e esteve na
campanha até aos quartos de final da Taça
de Portugal. No entanto, não conseguiu evitar a segunda despromoção
consecutiva da carreira.
No entanto, continuou no clube,
esteve na subida de divisão em 1970-71 e manteve-se em Tomar durante mais duas
épocas entre a elite do futebol português, tendo disputado 26 encontros em cada
uma, sempre como titular. Em 1973 voltou a descer, mas em 1974 subiu novamente,
já na condição de capitão de equipa.
Depois mudou-se para o Estoril,
passando ainda por Marinhense e Santa
Clara antes de encerrar a carreira em 1983 ao serviço do Montelavarenses.
7. Cardoso (80 jogos)
Cardoso |
Médio formado no Belenenses,
tornou-se internacional sub-18 e despontou na equipa principal dos azuis
do Restelo no início da década de 1960, conseguindo obter mesmo um papel
importante na equipa, ao lado de nomes como José Pereira e Vicente Lucas.
Porém, foi perdendo espaço e em 1970 mudou-se para o União de Tomar, então na
II Divisão, contribuindo com seis golos para a subida ao primeiro escalão.
Entre a elite do futebol
português continuou com um papel importante nos nabantinos, disputando 28 jogos
em 1971-72 e 29 em 1972-73, tendo descido nesta última época. Porém, voltou a
subir em 1974 e acompanhou os tomarenses nas duas últimas temporadas na I
Divisão, tendo amealhado 16 encontros (12 a titular) e um golo (ao Vitória
de Setúbal) em 1973-74 e sete partidas (quatro a titular) na época seguinte,
marcada por nova despromoção.
Depois prosseguiu a carreira nas
divisões secundárias ao serviço de Sp. Covilhã, Alcanenense, Pêro Pinheiro e Monte
de Caparica.
6. Manuel José (82 jogos)
Manuel José |
Um dos nomes mais mediáticos
desta lista, senão mesmo o mais mediático. Mais conhecido pelo seu trabalho
como treinador, Manuel José também foi um futebolista de qualidade, tendo
atuado 11 épocas na I Divisão, entre as quais três no União de Tomar.
Após falhar a afirmação no Benfica,
clube no qual fez a formação, e de ter rodado no Sp. Covilhã, no Varzim e no Belenenses,
este médio chegou aos nabantinos no verão de 1969, poucos meses após se ter
sagrado campeão de águia ao peito, ainda que só tivesse contribuído para o
título com apenas 19 minutos em campo.
Em Tomar rapidamente se tornou
titular. Na primeira época disputou 22 jogos (20 a titular) e apontou um golo,
ao Belenenses,
mas desceu de divisão. Continuou no clube apesar da despromoção e na época
seguinte ajudou os nabantinos a subir. Em mais duas temporadas na I Divisão,
disputou 60 jogos em 60 possíveis no campeonato, tendo apontado cinco golos.
No entanto, Manuel José não
guarda grandes saudades dos tempos passados em Tomar. “Foram quatro anos que me
atrasaram um pouco. Naquela época tive convites para ir para o Sporting
e para o FC
Porto, duas vezes. Não fui por causa da chamada lei de opção. Pediam
bateladas de dinheiro e não me deixavam sair”, contou à Tribuna
Expresso em julho de 2018.
Após a despromoção em 1973 regressou
ao Algarve, de onde é natural, para vestir a camisola do Farense, que na altura
dava os primeiros passos no primeiro escalão. Até ao final da carreira ainda
representaria Beira-Mar e Sp. Espinho, tendo começado a carreira de treinador
nos Tigres da Costa Verde.
5. Pavão (108 jogos)
Pavão |
Extremo rápido e com qualidade de
drible e de passe, nasceu em Angola
e 1966-67 trocou o Sporting de Lobito pelo Benfica.
Chegou a ser campeão de águia ao peito em 1969, mas com uma participação diminuta,
tal como Manuel José.
Em 1970 foi recrutado pelo União
de Tomar, então na II Divisão, e logo na época de estreia ajudou os nabantinos
a subir à I Divisão, contribuindo com quatro golos. Em 1971-72 disputou os 30
jogos do campeonato e marcou dois golos, ambos ao Beira-Mar, mas um em casa e
outro fora. Na temporada seguinte manteve o estatuto de titular, participando
em 28 encontros (26 a titular), e marcou três golos – curiosamente, dois deles
ao Beira-Mar na última jornada -, mas não consegue evitar a despromoção.
Apesar da descida, continuou nos
tomarenses e ajudou-os a regressar ao primeiro escalão logo na época seguinte.
Após a promoção competiu no patamar maior do futebol português por mais duas
temporadas, acumulando mais 60 partidas (55 a titular) e dois golos.
Depois da descida em 1976
transferiu-se para o Barreirense,
clube pelo qual haveria de jogar até 1982. Haveria ainda de jogar noutro clube
do Barreiro, o Galitos, e depois voltou a Angola,
onde faleceu em 1991, num ano em que completaria 43 anos.
4. Bolota (109 jogos)
Chico Bolota |
Um dos melhores marcadores de
sempre do União de Tomar na I Divisão, com 29 golos – os mesmos de Camolas. Homem-golo
dos nabantinos ao longo de sete temporadas, quatro das quais no primeiro
escalão, era um ponta de lança possante e aguerrido, que antes de se
notabilizar no futebol foi forcado amador em Alcochete, sua terra natal.
Foi precisamente no Alcochetense
que começou a carreira, tendo passado ainda por Barreirense
e Montijo antes de reforçar os nabantinos no verão de 1971. Logo na primeira
temporada mostrou ao que vinha, apontando sete golos em 29 jogos (28 a
titular), ajudando os tomarenses a assegurarem a despromoção. Na época seguinte
disputou 24 encontros (11 a titular) e marcou seis golos, quatro deles na reta
final do campeonato, mas foi impotente para evitar a despromoção em 1973.
Em 1973-74 foi a principal figura
da equipa que subiu ao patamar maior do futebol português, marcado um hat trick na vitória sobre o Sp. Espinho
na final da II Divisão (4-3). Depois voltou à elite do futebol português para
mais duas temporadas bem conseguidas: em 1974-75 disputou 29 jogos e apontou
nove golos, entre os quais um ao Sporting;
e na época seguinte participou em 27 desafios e registou sete remates
certeiros, um dos quais ao FC
Porto, mas não evitou nova despromoção.
Depois regressou ao Montijo,
clube pelo qual voltou a descer à II Divisão, aventurou-se no futebol nos Estados
Unidos e passou ainda por Juventude e Lusitano de Évora antes de voltar a Tomar
em 1982 para ajudar os nabantinos a subir à II Divisão. Em 1983-84 não evitou a
descida dos ribatejanos à III Divisão e na época seguinte encerrou a carreira
ao serviço do Montijo.
Após pendurar as botas emigrou
para o Canadá, onde ainda reside.
3. Camolas (113 jogos)
Camolas |
O outro dos melhores marcadores do
União de Tomar na I Divisão, com os mesmos 29 golos de Bolota. Tal como o
antigo companheiro de equipa, Camolas também era natural do distrito
de Setúbal, mais propriamente em Palmela, e primava por ter um físico
robusto – ainda que neste caso houvesse algum excesso de peso.
Este ponta de lança reforçou os
nabantinos no verão de 1971-72, depois de pequenas contribuições para dois
títulos nacionais do Benfica,
onde acabou a formação, e de passagens por Varzim e Belenenses
na I Divisão. Logo na primeira época marcou sete golos em 30 jogos (26 a
titular) no primeiro escalão, entre os quais um ao FC
Porto. Na época seguinte esteve em 29 encontros (26 a titular) e apontou
seis golos, entre os quais um ao Sporting,
mas não evitou a despromoção.
Porém, em 1973-74 foi um dos
pilares da conquista do título nacional da II Divisão e da consequente promoção
dos tomarenses à I Divisão, ao faturar por 20 vezes, o que lhe valeu mais duas
épocas ao serviço do clube entre a elite do futebol português: em 1974-75
disputou 23 partidas (11 a titular) e marcou quatro golos e na temporada que se
seguiu esteve participou nas 30 jornadas do campeonato (sempre a titular) e
somou 12 remates certeiros, entre os quais um ao Sporting,
mas sem conseguir evitar a despromoção.
Camolas continuou no União de
Tomar até 1979, na II Divisão, e depois prosseguiu a carreira no Benfica
Castelo Branco, Alcains e Palmelense,
clube onde começou a jogar futebol em tenra idade e no qual haveria de encerrar
o seu trajeto de futebolista profissional em 1988, aos 40 anos.
Morreu em maio de 2019, vítima de
AVC, numa altura em que já tinha algumas limitações físicas. Tinha 71 anos.
2. Kiki (140 jogos)
Kiki |
Um dos dois únicos jogadores que
estiveram nas seis presenças do União de Tomar na II Divisão – já lá vamos ao outro
–, mais um dos nomes peculiares das equipas que os nabantinos apresentavam e
mais um jogador oriundo do Benfica.
No verão de 1968 trocou as reservas
benfiquistas pelo emblema tomarense e tornou-se uma das figuras mais
emblemáticas da história do clube do distrito de Santarém. Lateral direito cabo-verdiano
possante e agressivo, foi quase sempre titular ao longo das oito temporadas em
Tomar.
Logo na primeira época, na qual o
União era estreante na I Divisão, foi titular em todas as 26 jornadas e marcou
um golo, ao Sp.
Braga, contribuindo para a obtenção do 10.º lugar, a melhor classificação
de sempre dos ribatejanos no primeiro escalão. Em 1969-70 manteve a influência,
tendo competido em 22 desafios (21 a titular), mas foi impotente para evitar a
despromoção.
Depois subiu em 1971 e nas duas épocas
que se seguiram no primeiro escalão disputou 60 encontros em 60 possíveis e
5327 dos 5400 minutos possíveis, mas sem conseguir evitar nova despromoção.
Posteriormente participou na
conquista do título nacional do II Divisão e consequente promoção ao primeiro
escalão em 1974, assim como nas duas épocas que se seguiram no patamar maior do
futebol português: em 1974-75 não foi além de nove jogos (sete a titular) e na
temporada que se seguiu disputou 24 encontros (23 a titular) e apontou um golo,
ao Belenenses.
Após nova despromoção representou
vários clubes nas divisões secundárias antes de pendurar as botas em 1981 depois
de uma época no Lamarosense, nos distritais da AF Santarém.
1. Faustino (152 jogos)
Faustino |
Defesa central alentejano e de
baixa estatura (1,68 m), surgiu no União de Tomar no verão de 1967, depois de
passagens por Desportivo Beja e Barreirense,
numa altura em que ainda era extremo esquerdo.
Logo na temporada estreia ajudou os
nabantinos a subir pela primeira vez à I Divisão, naquele que seria o arranque
de um trajeto de 12 temporadas no clube ribatejano. De pedra e cal no onze, foi
titular nas 26 jornadas do campeonato em 1968-69, e marcou um golo, ao Vitória
de Guimarães. Na temporada seguinte voltou a participar em 26 jogos (23 a
titular), mas foi impotente para evitar a despromoção.
Em 1970-71 voltou a subir de
divisão e nas duas épocas seguintes somou um total de 42 jogos (37 a titular) no
primeiro escalão, descendo novamente em 1973.
Porém, ajudou novamente os
tomarenses a serem promovidos – e logo com o título nacional da II Divisão – em
1974, o que lhe valeu mais duas participações entre a elite do futebol
português. Em 1974-75 disputou 27 jogos e na temporada que se seguiu competiu
nas 30 jornadas no campeonato, ainda que sem conseguir evitar mais uma
despromoção.
Ainda continuou mais três anos no
clube, sempre na II Divisão, reforçando o seu estatuto de jogador emblemático
do emblema de Tomar. Depois jogou nos distritais da AF Leiria, com as camisolas
de Alvaiázere e Caçadores Ansião, tendo pendurado as botas em 1984, à beira de
completar 40 anos.
Haveria de falecer em agosto de
2017, aos 73 anos.
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