quinta-feira, 3 de abril de 2025

Um dos Cinco Violinos e atleta de eleição. Quem viu jogar Jesus Correia?

Extremo somou 159 golos em 208 jogos pelo Sporting entre 1943 e 1952
Era conhecido pelo “dois amores”, por ser um atleta de eleição tanto em futebol como em hóquei em patins, ao ponto de ter representado as seleções nacionais de ambas as modalidades.
 
Nascido em Paço de Arcos, no concelho de Oeiras, fez toda a carreira de hóquei no clube local, o Clube Desportivo de Paço de Arcos, tendo sido várias vezes campeão nacional e somado inúmeras internacionalizações, títulos europeus e mundiais.
 
No que concerne ao futebol, foi o extremo direito da célebre linha atacante do Sporting que ficou conhecida como os Cinco Violinos – juntamente com Peyroteo, Travassos, Albano e Vasques –, tendo conquistado sete campeonatos nacionais (1943-44, 1946-47, 1947-48, 1948-49, 1950-51, 1951-52 e 1952-53), duas Taças de Portugal (1944-45 e 1947-48) e dois campeonatos de Lisboa (1944-45 e 1946-47) ao longo de nove anos de leão ao peito, entre 1943 e 1952. Nesse período apontou 159 golos em 208 jogos oficiais, números incríveis para quem não era um ponta de lança. “Consideramo-lo o mais assombroso dos extremos da tática moderna: velocidade incontrolada e rematador inigualável”, escreveu um dia sobre ele Cândido de Oliveira.
 
Veloz, tecnicista e aguerrido, começou a jogar futebol na Associação Académica de Paço de Arcos aos 13 anos e chegou a tentar a sorte no Belenenses, seu clube de infância, mas como tinha apenas 15 anos e não podia jogar oficialmente, o ídolo Augusto Silva disse-lhe para voltar às Salésias um ano depois.
 
Entretanto o hóquei em patins apareceu na sua vida, tendo ingressado no Paço de Arcos Hockey Club, e o futebol ficou de parte durante alguns anos. Em 1940-41 voltou a praticar desporto-rei no Paço de Arcos Sports Club em 1940-41, o que não agradou ao Hockey Club, que o fez assinar um documento no qual se comprometia a jogar apenas hóquei.
 
 
No entanto, o treinador do Sporting, Joseph Szabo, morava perto de Paço de Arcos e conseguiu recruta-lo, apesar de o Estoril se ter manifestado interessado. Acabou por ser decisiva a intervenção do chefe de Jesus Correia no Grémio dos Armazenistas de Mercearia onde trabalhava, que era dirigente do Sporting e desviou-o para os leões.
 
Esta situação obrigou o Paço de Arcos Hockey Club a realizar uma Assembleia Geral, porque não queria perder o seu melhor jogador, o que levou a que Jesus Correia passasse quase uma década a conciliar as duas modalidades – ao fim de semana jogava futebol no Sporting e durante a semana disputava os campeonatos de hóquei pelo Paço de Arcos.
 
No entanto, deparou-se com situações em que teve de optar por uma seleção ou por outra ou entre compromissos internacionais na modalidade de pavilhão ou jogos dos leões nas provas nacionais. Normalmente, era o futebol que ficava a perder.
 
No que ao desporto-rei diz respeito, teve como primeiro grande momento de glória o golo decisivo, nos minutos finais, que deu a vitória ao Sporting sobre o Olhanense na final da Taça de Portugal de 1944-45. Cerca de três anos depois, o “Necas”, como também era conhecido, marcou seis golos ao Atlético Madrid numa vitória por 6-3 num particular disputado na capital espanhola.
 
 
Ainda assim, em 1952 foi encostado à parede pelo Sporting, que o obrigou a optar em definitivo por uma das modalidades, depois de ter falhado jogos importantes dos leões na Taça de Portugal e na Taça Latina. Jesus Correia escolheu o hóquei, deixando a nação leonina em choque, pois essa parecia a decisão mais improvável, numa altura em que tinha apenas 28 anos.
 
Mais tarde voltou a jogar futebol em 1955-56, aos 31 anos, quando representou a CUF, encerrando depois, definitivamente, uma carreira que contemplou 13 jogos e três golos pela seleção nacional de futebol.
 
Apesar da saída conturbada, manteve uma ligação afetiva ao Sporting. Participava regularmente nas festas dos núcleos espalhados pelo país e foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria “Saudade” em 1993.
 
Morreu a 30 de novembro de 2003, aos 79 anos, numa altura em que era o último dos Cinco Violinos ainda vivos, quase quatro meses depois de ter dado o pontapé de saída no jogo de inauguração do novo Estádio José Alvalade.
 










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