segunda-feira, 7 de abril de 2025

"Se dissesse aos jogadores que o sol era verde, eles acreditariam". Como Eriksson guiou o Benfica à final da Taça UEFA em 1982-83

Benfica não conseguiu bater Anderlecht no Estádio da Luz
Para Sven-Göran Eriksson não houve ano zero no Benfica. Não houve frases feitas como “confiar no processo”. Não houve desculpas. Foi chegar, ver e vencer. As águias começaram o campeonato com onze vitórias nas primeiras onze jornadas e desde cedo que encaminharam a conquista do título nacional, ao mesmo tempo que superavam eliminatórias na Taça de Portugal e na Taça UEFA.
 
A caminhada prova internacional iniciou-se em setembro de 1982 com um duplo confronto ibérico diante do Betis, que contava com algumas das maiores figuras da sua história, como José Ramón Esnaola, Rafael Gordillo e Julio Cardeñosa. Nada que intimidasse as águias, que aplicaram um duplo 2-1.
 
Primeiro, na Luz, Nené de penálti (44 minutos) e Paulo Padinha (73’) marcaram para os encarnados, tendo Carlos Diarte reduzido para os béticos (76’).
 
 
Duas semanas depois, no Benito Villamarín, Poli Rincón colocou os verdiblancos na frente da eliminatória aos 25 minutos, vantagem essa que durou até meio da segunda parte. Depois Carlos Manuel empatou o encontro (67’) e Nené deu a estocada final (85’).
 
 
 
Seguiram-se os belgas do Lokeren de Robert Waseige, que também foram um osso algo duro de roer. Na primeira-mão, na Luz, o Benfica encaminhou a eliminatória graças a um golo de Nené aos 20 minutos e outro de Humberto Coelho aos 66’, a 20 de outubro.
 
 
No segundo jogo, na Bélgica, o Benfica entrou praticamente a perder, devido a um golo do internacional neerlandês René van der Gijp logo aos sete minutos. A eliminatória perigou durante algum tempo, mas um bis do jugoslavo Zoran Filipovic no início da segunda parte (57’ e 64’) deu conforto às águias.
 
 
 
Ainda invictos no campeonato, a 24 de novembro, os encarnados iniciaram em solo suíço o duplo confronto com o Zurique, na terceira eliminatória da Taça UEFA. Depois de o empate a zero ter subsistido até à reta final da partida, o neozelandês Wynton Rufer adiantou os helvéticos aos 79 minutos e Filipovic empatou aos 87’.
 
 
O empate na Suíça deu uma falsa sensação de equilíbrio entre as duas equipas, pois o Benfica goleou por 4-0 na segunda-mão, no Estádio da Luz, precisamente três dias após o primeiro deslize no campeonato, um empate no terreno do Ginásio de Alcobaça (1-1). Filipovic abriu o ativo aos 12 minutos e Diamantino Miranda (50’) e Nené por duas vezes (60’ e 62’) engordaram a vitória das águias na segunda parte.
 
 

AS Roma ficou pelo caminho em duelo entre suecos

Na eliminatória seguinte, os quartos de final, o Benfica teve pela frente a AS Roma, que nessa época viria a sagrar-se campeã italiana e que na temporada seguinte viria a atingir a final da Taça dos Campeões Europeus. Uma grande equipa, portanto, com jogadores marcantes como Franco Tancredi, Sebastiano Nela, Falcão, Carlo Ancelotti, Bruno Conti e Roberto Pruzzo. O treinador também era sueco, Nils Liedholm.
 
“Na primavera de 1983, se eu dissesse aos jogadores que o sol era verde, eles acreditariam. Estávamos bem seguros no caminho para sermos campeões. Também queríamos ganhar a Taça UEFA, já tendo atingido os quartos de final. Seis semanas antes do primeiro jogo, desloquei-me a Roma para observar o nosso adversário – a AS Roma. Estavam a realizar uma época extraordinária, tendo sofrido apenas duas derrotas, e fui vê-los defrontar o Cagliari. Nesse tempo, os jogos de Itália não eram transmitidos para Portugal”, contou Sven-Göran Eriksson no livro autobiográfico Sven – A Minha História, publicado em 2013.
 
Apesar do poderio do adversário, o Benfica foi ao Estádio Olímpico vencer por 2-1 a 2 de março de 1983, novamente com Zoran Filipovic em destaque, ao bisar (40 e 62 minutos). Depois do bis do jugoslavo, Agostino di Bartolomei reduziu para os transalpinos (65’).
 
 
No segundo jogo, na Luz, o Benfica segurou a vantagem na eliminatória graças a um empate a um golo. Filipovic adiantou as águias aos 19 minutos, enquanto Falcão igualou a partida já bem perto do apito final (85’).
 
 
 

Romenos superados graças ao golo fora

Nas meias-finais, o adversário do Benfica foi o Universitatea Craiova, da Roménia, um osso bem mais duro de roer do que o nome sugere. Na primeira-mão, em Lisboa, houve empate a zero.
 
 
Na Roménia houve nova igualdade, mas a um golo, o que permitiu o Benfica seguir para a final graças à regra que beneficiava as equipas que tivessem marcado mais golos fora. Ilie Balaci adiantou os romenos aos 16 minutos e Filipovic restabeleceu a igualdade aos 53’.
 
 
 

A expulsão que encolheu e o contra-ataque fatal

“Pelo segundo ano consecutivo, conduzi uma equipa à final da Taça UEFA. Com o Gotemburgo fomos os tomba-gigantes. Com o Benfica era diferente. Éramos um gigante que defrontava outro – o Anderlecht, da Bélgica”, recordou Eriksson na sua autobiografia.
 
Na altura, o clube de Bruxelas atravessava um período dourado em termos internacionais, tendo conquistado a Taça das Taças em 1975-76 e 1977-78 e atingido a final da mesma competição em 1976-77. Já a seleção belga havia sido finalista vencida do Euro 1980 e ultrapassado a primeira fase de grupos do Mundial 1982.
 
Na primeira-mão da final, disputada a 4 de maio na Bélgica, o Benfica sofreu a segunda derrota da temporada, a primeira para a Taça UEFA, tendo perdido por 1-0, graças a um golo solitário do dinamarquês Kenneth Brylle aos 29 minutos. “No Estádio do Heysel, em Bruxelas, não jogámos bem. O Anderlecht ganhou vantagem na primeira parte e, na segunda, tivemos um jogador expulso [José Luís]. Optámos por não sofrer mais golos e conseguimos esse objetivo. O Anderlecht venceu por 1-0. Mesmo não tendo marcado fora de casa, sentíamos que havia boas hipóteses de dar a volta ao resultado em nossa casa”, comentou o treinador sueco na sua autobiografia.
 
 

Na segunda-mão, a 18 de maio, o Benfica entrou forte e adiantou-se à passagem da meia hora, por intermédio de Shéu, mas sofreu o empate logo a seguir, por intermédio do espanhol Juan Lozano, num lance de contra-ataque (38’). “As expetativas estavam altíssimas no Estádio da Luz. O Benfica não ganhava uma taça europeia desde Eusébio e das proezas da sua equipa 21 anos antes. Tivemos um início muito forte e ganhámos vantagem, mas sofremos um rude golpe quando o espanhol Lozano marcou para o Anderlecht em contra-ataque. Agora, precisávamos de mais dois golos. Tínhamos de atacar, mas com cuidado para não voltar a sofrer outro golo. Uma corrida contra o tempo. No início da segunda parte fiz duas substituições, entrando dois avançados [Filipovic e João Alves], mas não resultou. Era demasiado tarde. O jogo acabou 1-1 e o Anderlecht ganhou a Taça UEFA”, lembrou Eriksson.
 
“Foi a minha primeira grande derrota. Mas não me sentia profundamente desapontado. A nossa época foi impressionante. Ganhámos o campeonato com facilidade, com uma única derrota, e apurámo-nos para a final da Taça de Portugal que iria jogar-se em agosto [diante do FC Porto, nas Antas]. Além de termos atingido a final da Taça UEFA. Não lia os jornais portugueses, mas Börje [Lantz, empresário sueco que que levou Eriksson para o Benfica] disse-me que me elogiavam muito”, prosseguiu o sueco.
 
 
 
 

      

 
 

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