Para muitos o melhor ciclista português de sempre. Quem se lembra de Joaquim Agostinho?
Joaquim Agostinho foi ao pódio no Tour e na Vuelta nos anos 1970
Os anos passam-se e as proezas de
novos valores lusos sucedem-se, mas Joaquim Agostinho continua ainda a ser
considerado, por muitos, o melhor ciclista português de todos os tempos. Além
de três vitórias finais na Volta a Portugal (1970, 1971 e 1972), o atleta
nascido a 7 de abril de 1943 em Torres Vedras averbou ainda um segundo lugar na
Volta a Espanha (1974) e dois terceiros lugares no Tour de France (1978
e 1979).
Após ter regressado de África,
onde cumpriu serviço militar, começou a dar nas vistas em provas populares na
região Oeste, e foi lá que o Sporting
o recrutou em 1968, numa altura em que tinha já 25 anos. Apesar do começo tardio, evoluiu
e destacou-se rapidamente. Logo no ano de estreia de leão
ao peito sagrou-se campeão regional e nacional de amadores-juniores, ajudando
também o Sporting
a vencer esses títulos coletivamente; concluiu a sua primeira Volta a Portugal
num sensacional segundo lugar; e foi selecionado para representar Portugal no
Campeonato Mundial de Estrada, disputado em Imola, Itália, conseguindo na
altura a melhor classificação lusa de sempre, o 16.º lugar. Foi apenas o início de uma
extraordinária carreira. Em solo nacional, conquistou todas as Voltas a
Portugal entre 1969 e 1973, mas foi desclassificado em 1969 e 1973 devido a
doping, pelo que só lhe foram atribuídas as vitórias em 1970, 1971 e 1972. Também
amealhou 25 triunfos em etapas, alguns dos quais em alta montanha e numa das suas
especialidades, o contrarrelógio. Paralelamente, ganhou por seis vezes
consecutivas o Campeonato Nacional de Fundo entre 1968 e 1969 e os títulos nacionais
de perseguição individual de 1971 e de contrarrelógio por equipas em 1968 e 1969.
Em 1969 estreou-se nas grandes
voltas internacionais, com um 8.º lugar e vitórias em duas
etapas no Tour ao serviço da equipa da Frimatic. No ano seguinte foi
14.º classificado, já na condição de chefe de fila da mesma formação. Em 1971 passou a representar a
Hoover, alcançando um brilhante quinto lugar na Volta a França, enquanto na
temporada seguinte foi oitavo classificado com a camisola da Magniflex. Em 1973, ao serviço da equipa
espanhola BIC, foi sexto classificado na Vuelta e novamente oitavo no Tour.
Na temporada seguinte foi segundo na Vuelta e sexto no Tour,
tendo terminado a Volta a Espanha a apenas onze segundos do vencedor, numa
altura em que havia entrado em litígio com o Sporting
e já não participava nas provas nacionais. Em 1975 reconciliou-se com os leões,
depois de o presidente João Rocha lhe ter prometido uma aposta forte na modalidade,
com a construção de uma equipa para participar nas grandes voltas
internacionais, mas nesse ano Joaquim Agostinho foi apenas 15.º classificado no
Tour e, perante dificuldades financeiras, o Sporting
acabou por suspender a secção de ciclismo. Cortada definitivamente a ligação
ao emblema
de Alvalade, o ciclista passou a dedicar-se apenas às corridas no
estrangeiro, atingindo o auge da carreira nofinal da década de 1970 com dois
terceiros lugares no Tour (1978 e 1979, ao serviço da Flandria), com
direito a cinco
vitórias em etapas, incluindo uma na etapa rainha do Alpe d'Huez em 1979.
Em 1980 correu pela Puch e
terminou a Volta a França em quinto lugar, numa campanha marcada por muita
chuva e vários furos. Entretanto, regressou ao Sporting
em 1984, já quarentão. A 30 de abril vestia a camisola amarela na Volta a
Portugal quando, a 300 metros da linha de chegada de uma etapa, em Quarteira,
um cão atravessou-se no seu caminho e fê-lo cair, provocando-lhe um hematoma
epidural agudo no crânio, por não usar capacete. Ainda se levantou e voltou a
montar a bicicleta, cortando a meta com dois companheiros de equipa, tendo
inicialmente recusado tratamento hospitalar, mas as persistentes dores de cabeça
levaram-no a dar entrada no hospital de Loulé, onde foi detetada uma fratura no
osso parietal e o seu estado de saúde se agravou drasticamente. Transportado de
ambulância para o hospital da CUF, em Lisboa, foi alvo de dez intervenções
cirúrgicas e permaneceu em coma por dez dias, mas acabou por morrer a 10 de
maio, aos 41 anos.
No ano da sua morte foi agraciado
a título póstumo como Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
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