quarta-feira, 2 de abril de 2025

A problemática promessa portuguesa com alcunha de craque espanhol. Quem se lembra de Bakero?

Internacional jovem português jogou na União de Leiria e no Sevilha
Chama-se Orlando José Lemos Martins, mas no mundo do futebol todos o conhecem por “Bakero”. Lateral/extremo de baixa estatura (1,66 m) nascido em Felgueiras e formado no Futebol Clube de Felgueiras, tinha 16 anos quando assim foi apelidado por Jacinto João, na altura treinador dos guarda-redes, que também batizou o também jogador felgueirense e primo de Orlando, Frederico, de “Zamorano” – este em alusão ao antigo avançado chileno do Real Madrid.
 
Embora orgulhoso do nome que os pais lhe deram, a alcunha pegou. “Já não há hipótese. Se me chamarem Orlando num treino ou num jogo, já nem olho. Só em casa”, confidenciou ao Record em junho de 1999, no início de um verão quente para o jogador. Mas já lá vamos…
 
O Bakero original, refira-se, era José Mari Bakero, médio ofensivo que brilhou com as camisolas da Real Sociedad, do Barcelona e da seleção espanhola nas décadas de 1980 e 1990. O Bakero português não atingiu um nível tão alto, mas foi, em tempos, uma das grandes promessas do futebol luso.
 
Surgiu na equipa principal do Felgueiras em 1996-97, então na II Liga, lançado por Augusto Inácio, mas foi na temporada seguinte que se conseguiu afirmar, ao ponto de ter somado as primeiras de dez internacionalizações pelas seleções jovens (uma pelos sub-20 e nove pelos sub-21).
 
No verão de 1998 transferiu-se para a União de Leiria, rescindindo unilateralmente o contrato que o ligava aos felgueirenses devido a salários em atraso. Na cidade do Lis… explodiu, contribuindo ativamente para a obtenção de um honroso sexto lugar na I Liga, numa época em que foi orientado por Mário Reis, tendo atuado em 37 encontros e apontado dois golos em todas as competições.
 
 
“Não sou eu quem deve analisar a minha própria prestação ao longo da época, mas senti isso mesmo. Era muito importante para mim, depois da maneira como saí do Felgueiras, fazer uma boa época. Senti que muitas pessoas estavam com algumas dúvidas em relação ao meu valor e fiz como ponto de honra a grande vontade em provar a essas pessoas que estavam enganadas a meu respeito. Acho que isso foi conseguido num clube que fez sensação esta época. Não posso esquecer a responsabilidade de Mário Reis que muito me ajudou e foi quem apostou fortemente na minha transferência para Leiria. Esse foi mais um facto que me levou a estar sempre quase nos limites. Tinha a preocupação de não defraudar as expectativas que ele próprio depositou nas minhas capacidades. Foi mesmo uma época positiva”, afirmou na altura.
 
“É com muito agrado que me vejo envolvido nesta temporada histórica do clube. Comecei mais tarde que os meus colegas, pois só cheguei ao clube quase no final da pré-época, e nunca pensei chegar ao primeiro jogo do campeonato e o mister apostar em mim para o onze titular. Foi mais uma prova da aposta de quem estava convicto do meu potencial e esse foi o ponto de partida que me deu ainda mais forças. Agarrei a oportunidade e tentei aguentar sempre esse estatuto de titular. Só mais para o fim da época, quando faltavam três jogos, é que saí da equipa, mas encarei isso de uma forma natural, pois é muito difícil um jogador estar ao seu melhor nível durante uma época inteira. Há sempre uma quebra física e foi o que me aconteceu, infelizmente na fase mais decisiva da época. Compreendi e aceitei a decisão de Mário Reis e outra coisa não seria de esperar, pois trata-se de um treinador que me vai marcar para sempre”, prosseguiu.
 
 
No final dessa temporada chegou-se a falar do interesse de Benfica, Sporting e FC Porto, assim como do Paris Saint-Germain, e foi disputado pelos dois principais empresários portugueses na altura, José Veiga e Jorge Mendes, com este último a levar a melhor.
 
Mas o verão de 1999 ficou essencialmente marcado por uma conturbada transferência para o Sevilha. Inicialmente, o jogador decidiu rescindir unilateralmente o contrato que o ligava aos leirienses, justificando-se com uma alteração sem aviso prévio das condições previstas para a renovação do vínculo. Na altura, Bakero garantia que tinha ficado acordado uma prorrogação por mais três épocas, tendo sido surpreendido com um documento onde eram referidas quatro temporadas. Apesar dessa discordância assinou “à pressa” e só depois refletiu sobre a consequência do seu ato, tornando público o seu desagrado e chegando a apelidar de “traição” a atitude dos responsáveis da União de Leiria, com o presidente João Bartolomeu à cabeça.
 
O cromo de Bakero no Sevilha
O flanqueador apresentou-se em Sevilha ainda com o imbróglio por resolver, mas as partes lá chegaram a acordo e os andaluzes pagaram cerca de 200 mil contos (1 milhão de euros), sensivelmente a cláusula de rescisão prevista no contrato do atleta com os leirienses.
 
A verdade é que a montanha pariu um rato, uma vez que Bakero apenas disputou dois jogos oficiais pelos sevilhistas, um diante do Osasuna para a Taça do Rei em novembro de 1999 e outro frente ao Maiorca para a liga espanhola em maio de 2000, numa temporada marcada pela descida de divisão.
 
“Ficou a experiência, que é sempre importante para um jovem. É claro que um jogador precisa de jogar, não foi o meu caso, mas pude ao menos participar num campeonato tão competitivo como o espanhol. Aprende-se muito, no meio de jogadores de grande qualidade”, afirmou ao Record em agosto de 2000. “No início receberam-me bem, mas com o decorrer do campeonato não me apoiaram, não fizeram aquela pressão junto do treinador para ver as minhas qualidades. Fui uma contratação da direção, não do treinador e isso não ajudou nada. Quando as coisas correm mal numa equipa, algo deve mudar. Mas isso não aconteceu em Sevilha, pois a equipa esteve jogos e jogos sem ganhar e nunca se mudou nada. Continuei a trabalhar com a esperança de ser chamado, pois os resultados não apareciam, mas infelizmente não aconteceu. Mentalizei-me que era um ano perdido e comecei a pensar no meu futuro, pedindo ao meu empresário para encontrar uma solução”, aditou.
 
Sem espaço na Andaluzia, o jogador foi emprestado a clubes portugueses nas épocas que se seguiram.
 
Em 2000-01 foi cedido ao Marítimo, somou 29 jogos (16 a titular) e dois golos em todas as provas e ajudou os madeirenses a atingir a final da Taça de Portugal, tendo sido suplente utilizado na derrota às mãos do FC Porto no Jamor (0-2). “Fui muitas vezes utilizado, mas nem sempre a titular, como naturalmente era o meu desejo”, analisou o extremo, que ao serviço do emblema dos Barreiros também foi notícia por uma noitada: “Eu e o Bruno fomos jantar e não medimos bem a hora. Chegámos tarde a casa e pagámos as consequências desse ato. Coisas da juventude...”
 
 
Já em 2001-02 foi emprestado ao Sp. Braga, concretizando assim um interesse antigo do treinador Manuel Cajuda, que na altura procurava um substituto para Luís Filipe. Até começou a temporada como titular, mas acabou por atuar em apenas 20 encontros, dos quais 14 como suplente utilizado, chegando ainda a ser despromovido à equipa B dos bracarenses. “Não posso dizer que tenha sido uma época muito boa. Não sei dizer porquê, só sei que sempre tentei dar o meu melhor e procurei ser profissional a cem por cento”, contou ao Record em junho de 2002, manifestando-se chocado com a passagem pela equipa B: “Foi uma decisão que me chocou bastante. Sinceramente, não compreendi as razões e também não me deram explicação para isso. A prova que fui sempre profissional é que, passados 15 dias, regressei à equipa principal. Isso é sinónimo de que mantive a cabeça levantada e nunca virei a cara à luta. Acabar a época na equipa principal foi uma satisfação.”
 
 
No verão de 2002 rescindiu com o Sevilha e assinou pelo Salgueiros, então na II Liga. Tinha apenas 24 anos e esperava relançar a carreira, mas a verdade é que não voltou a jogar no primeiro escalão, tendo posteriormente passado por Bragança, Maia, Caçadores das Taipas, Penafiel, Vizela, Sp. Espinho, Lousada e Felgueiras, assim como pelos cipriotas do Nea Salamis, antes de pendurar as botas em 2015, aos 37 anos.
 
 
Após encerrar a carreira de futebolista tornou-se treinador. Atualmente orienta o Sendim, nos distritais da AF Porto.



   




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