Foi há 16 anos que o Sporting perdeu a Taça da Liga para o Benfica após um penálti por mão na bola… que não existiu
Pedro Silva deu uma peitada a Lucílio Batista após decisão errada
21 de março de 2009, segunda
final da história da Taça
da Liga. Estádio Algarve. O Sporting
de Paulo
Bento aparecia pela segunda vez no jogo decisivo, após a derrota no
desempate por penáltis às mãos do Vitória
de Setúbal no ano anterior. Já o Benfica,
comandado pelo espanhol Quique Flores, estreava-se na final da competição.
A primeira parte do dérbi
disputado no sul do país não teve golos. Os leões,
que haveriam de concluir o campeonato em 2.º lugar pela quarta época
consecutiva, imediatamente à frente do eterno rival, começaram melhor a segunda
parte, abrindo o ativo aos 49 minutos por intermédio de Bruno
Pereirinha, na recarga a um remate de Liedson
ao poste. Essa vantagem manter-se-ia até cerca
de um quarto de hora do fim. Aos 73 minutos, o árbitro Lucílio Batista
assinalou um penálti para o Benfica
por suposta mão na bola de Pedro Silva, que não existiu, na área do Sporting,
e ainda expulsou o lateral brasileiro por acumulação de amarelos. Irado, o
defesa leonino
confrontou o árbitro e até lhe deu uma peitada. Logo a seguir, o extremo
espanhol José Antonio Reyes converteu a grande penalidade e fez o 1-1. Essa decisão errada e o resultado
que originou adiaram a atribuição do troféu para o desempate por penáltis e aí
o Benfica
foi mais forte, tendo vencido por 3-2. Quis o destino que fosse um antigo médio
do Sporting
que havia sido dispensado por Paulo
Bento, Carlos Martins, a garantir a conquista da Taça
da Liga para as águias. “Eles com o mal-estar e eu com a Taça”
e “fiquei mesmo muito feliz por ter marcado o penálti decisivo”, disse o
centrocampista, em entrevista ao Record,
poucos dias depois.
Na cerimónia de entrega das
medalhas, o frustrado Pedro Silva atirou a sua para longe. “Para que quero a medalha?
Dêem-na a ele, a esse ladrão”, afirmou na altura, furioso. “Os árbitros erram e
ninguém faz nada. Acho que alguém tem que tomar medidas. Perguntei-lhe quem assinalou
e ele diz que não sabe? Então se ele é o árbitro porque assinalou? Isto é uma brincadeira.
Não foi penálti. Que o meu filho morra se foi penálti”, atirou, tendo revelado
em janeiro de 2025 que Paulinho, o roupeiro, acabou por guardar a medalha no
seu balneário, após a tentativa falhada de a devolver. Já Marco Caneira indicou a Lucílio
Batista o palco da consagração, batendo-lhe palmas e sugerindo que deveria ser
o juiz a levar o troféu de vencedor, numa clara mensagem de indignação e
revolta. Depois, o defesa do Sporting
usou palavras duras: “O senhor Lucílio não deixou que o Sporting
levasse este troféu para casa”.
Frases como “quero sair deste
futebol”, de Ribeiro Telles, administrador da SAD, e “se calhar ando a mais nisto
e isto está a ficar demasiado podre”, do treinador Paulo
Bento, ou “isto é uma vergonha” de João
Moutinho, ilustravam bem o descontentamento leonino. “Espero que nos deixem lutar pelo
campeonato. Penso que o fiscal de linha do nosso lado [José Cardinal] disse ao
árbitro que não era penálti,” disse o técnico dos leões,
bastante revoltado. “Entrámos bem no segundo tempo. Conseguimos a vantagem. Até
podíamos chegar ao 2-0. Não merecíamos perder. Um golo de forma irregular...
uma expulsão. Agora, enquanto o Benfica
vai festejar e a outra equipa [de arbitragem] vai ter uma semana tranquila, nós
vamos ter de fazer o trabalho de recuperação dos jogadores que mereciam vencer
e levar esta taça
para a sala de troféus do Sporting”,
acrescentou. O capitão leonino
daquela altura, João
Moutinho, afirmou que “o árbitro e o fiscal de linha disseram que não viram
o penálti”. “Estive junto deles e ouviu-os dizer isso”, garantiu. “Estamos
revoltados e com razão. Foi um penálti que não existiu, até o auxiliar disse ao
árbitro que não foi”, reforçou Liedson. Já o presidente do Sporting,
Soares Franco, foi o representante máximo da revolta verde
e branca. “Na vida ensinaram-me a saber ganhar e a saber perder, mas também
me ensinaram a ter um grande sentimento de revolta e indignação quando somos
roubados. E o Sporting
hoje foi roubado”, afirmou. Para o líder leonino,
“o Sporting
ganhou a Taça
e devia levá-la para o seu museu. “Esta é uma taça
que ajudámos a promover, no ano passado perdemos por penáltis e esta ganhámos nos
90 minutos, mas não levamos a taça”,
vincou.. Soares Franco disse estar “magoado, triste e revoltado”. “A Liga, a
Comissão de Arbitragem e o árbitro deviam pedir desculpa ao Sporting”,
concluiu. Do outro lado, Quique Flores, referiu-se
ao jogo como “muito interessante, emocionante”. “Até posso admitir que o
resultado final é... futebol. Mas não vou falar da arbitragem”, aditou.
No dia a seguir ao jogo, Lucílio
Batista assumiu o erro numa entrevista à Lusa. “Nenhum árbitro pode
ficar satisfeito depois de visionar um lance com influência no resultado. Não
estou satisfeito. Na altura, foi com 100 por cento de convicção de que estava a
agir corretamente”, afirmou o juiz setubalense, que defendeu, na ocasião, não
haver necessidade de pedir desculpa ao Sporting. Lucílio Baptista refutou também
as declarações de alguns jogadores leoninos,
que afirmaram que o assistente José Cardinal, o mais próximo da grande área do Sporting,
teria comunicado ao seu chefe de equipa uma opinião diferente, imediatamente a
seguir à jogada e de forma insistente. “Ele nunca disse que não era [penálti],
apenas dizia que não viu, do sítio onde estava. Foi então que me aproximei para
dialogarmos. Decidi manter a decisão porque recebi o som de retorno do outro
assistente [Pais António], que tinha o mesmo ângulo de visão que eu e viu o
lance exatamente como eu vi. Daí a convicção de que estava a agir corretamente",
explicou à SIC.
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