O “pequeno genial”. Quem se lembra de Fernando Chalana?
Chalana somou 47 golos em 311 jogos pelo Benfica
Das ruas do Barreiro
às meias-finais do Euro
1984 e às grandes decisões das competições europeias. Um mágico cuja
grandeza não se media em altura (media 1,65 m) ou no número de golos, mas sim
na espetacularidade e eficiência das fintas que desmontavam defesas e ajudavam
a desbloquear jogos.
Nasceu a 10 de fevereiro de 1959
e começou por jogar futebol de salão pela equipa de Serpa Pinto nos jogos
juvenis do Barreiro,
tendo chegado a vencer a taça de melhor marcador do torneio. Após ser recusado pela CUF,
onde praticou atletismo, ingressou nas camadas jovens do Barreirense
aos 14 anos, mas apenas por lá ficou uma época, a de 1973-74, a jogar no
escalão acima do seu. A fama da sua genialidade fez eco
na margem norte do Tejo e chegou aos ouvidos dos dirigentes do Benfica.
Ângelo Martins observou-o, confirmou o talento, e o presidente Borges Coutinho
contratou-o, no ano em que Portugal se livrou da ditadura, tendo o Barreirense
recebido um cheque de 750 contos (cerca de 3741 euros) pela transferência. A 7 de março de 1976, Fernando
Chalana estreou-se pela equipa principal dos encarnados
pela mão de Mário Wilson, substituindo o capitão Toni
ao intervalo de um triunfo sobre o Farense
(3-0), aos 17 anos e 26 dias. Na altura tornou-se o jogador mais jovem de
sempre a atuar na I
Divisão. Nessa época conquistou o seu primeiro de seis campeonatos
nacionais de seniores e venceu ainda o de juniores. A temporada seguinte, em 1976-77,
ficou marcada pelo início da sua afirmação de águia
ao peito. Foi até a mais produtiva da carreira em termos de golos (11). Como
resultado, fez a estreia pela seleção
nacional A a 17 de novembro de 1976, aos 17 anos, nove meses e 7 dias,
tendo atuado os 90 minutos numa vitória sobre a Dinamarca
no Estádio
da Luz (1-0), a contar para a fase de qualificação para o Mundial 1978.
Entre 1976 até 1984 somou 262
jogos e 39 golos pelo Benfica,
venceu cinco campeonatos (1975-76, 1976-77, 1980-81, 1982-83 e 1983-84), três Taças
de Portugal (1979-80, 1980-81 e 1982-83) e uma Supertaça
Cândido de Oliveira (1980), tendo ainda sido importante na caminhada até à
final da Taça
UEFA em 1982-83. Depois desses oito anos brilhou
também no Euro
1984, disputado em França, e encantou os franceses, ao ponto de ter sido
contratado pelo Bordéus,
que deixou 300 mil contos (1,5 milhões de euros) nos cofres encarnados.
No entanto, não foi feliz nas três temporadas que passou no emblema
gaulês, sobretudo devido às lesões que começaram a apoquentá-lo mais
frequentemente e que o afastaram, por exemplo, do Mundial
1986. Durante a passagem por França ganhou a alcunha de “Chalanix”, devido
às semelhanças com a personagem de banda desenhada Asterix.
Em 1987 despediu-se dos girondinos
depois de pouco mais de 20 jogos e um título de campeão francês (1984-85) para
regressar ao Benfica,
mas sem o fulgor da primeira passagem pela Luz. Entre 1987 e 1990 não foi além de
um total de 49 partidas e oito golos, tendo vencido um campeonato (1988-89),
uma Supertaça
Cândido de Oliveira (1989) e feito parte das caminhadas até às finais da Taça
dos Campeões Europeus em 1987-88 e 1989-90, mas com uma contribuição muito
diminuta, ao ponto de se ter incompatibilizado com o treinado Sven-Göran
Eriksson, a quem chegou a apelidar de “pior lesão”. Pelo meio ainda voltou à seleção
nacional para alcançar, em outubro de 1988, a primeira e única
internacionalização após o Euro
1984, e a 27.ª e última da carreira, num empate na Suécia
(0-0).
Sem se querer despedir dos
relvados, ainda vestiu as camisolas de Belenenses
e Estrela
da Amadora antes de pendurar as botas em 1992. A meio da década de 1990 voltou
ao Benfica,
mas na condição de treinador. Começou por orientar a equipa de juniores, tendo
vencido o título nacional da categoria em 1999-00, mas também foi adjunto da
equipa principal e chegou a assumir interinamente o comando técnico em duas
ocasiões. Em 2002-03, no único jogo em que
esteve nessa função interina, entre a saída de Jesualdo Ferreira e a entrada de
Jose Antonio Camacho, venceu o Sp.
Braga por 3-0 e surpreendeu ao adaptar o até então extremo Miguel à posição
de lateral direito, onde se veio a destacar. Já em 2007-08 as coisas não lhe
correram nada bem, tendo vivido as eliminações da Taça
UEFA e da Taça
de Portugal às mãos de Getafe
e Sporting,
respetivamente, e a queda do segundo para o quarto lugar, permitindo a
ultrapassagem dos leões,
que tinham seis pontos de desvantagem.
Pelo meio foi adjunto de José
Gomes no Paços
de Ferreira na I
Liga e comandou o Oriental
na II Divisão B entre 2003 e 2005. Durante a época 2018-19, quando
era adjunto dos juniores do Benfica,
foi-lhe diagnosticada demência. Viria a morrer a 10 de agosto de 2022, aos 63
anos.
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