segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Hoje faz anos o guarda-redes do Sporting que defendeu dois penáltis de Maradona. Quem se lembra de Ivkovic?

Ivkovic defendeu a baliza do Sporting entre 1989 e 1993
Muitos jugoslavos chegaram ao futebol português a partir do final da década de 1980, mas este é especial. Afinal, foi titular indiscutível do Sporting ao longo de quatro temporadas e conseguiu 100 dólares numa aposta ganha a Diego Maradona, após o primeiro de dois penáltis do argentino que defendeu na carreira, ambos em menos de um ano.
 
Nascido em Zagreb a 11 de agosto de 1960, ainda bem no tempo da antiga Jugoslávia, iniciou a carreira no maior clube da cidade-natal, o Dínamo, clube ao serviço do qual venceu a taça nacional em 1979-80 e o campeonato em 1981-82.
 
 
Em janeiro de 1983, na sequência de uma desavença com o treinador Ćiro Blažević, foi emprestado ao Cibalia, numa altura em que já tinha sido convocado para a seleção principal da Jugoslávia, mas ainda não se tinha estreado – o que só aconteceu em março de 1983, precisamente durante a cedência.
 
Após o empréstimo, voltou a Zagreb, mas os problemas com o treinador persistiram e a solução encontrada foi a transferência para o Estrela Vermelha de Belgrado durante o verão de 1983.
 
 
Na baliza do emblema da capital venceu um campeonato jugoslavo (1983-84) e uma taça (1984-85) e reforçou o estatuto na seleção, ajudando a Jugoslávia a ganhar a medalha de bronze no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984 – depois do quarto lugar em Moscovo que ajudou os jugoslavos a obter em 1980. Poucos meses antes, foi convocado para o Campeonato da Europa disputado em França, mas só atuou num jogo, uma goleada sofrida às mãos da Dinamarca (0-5) em Lyon.
 
A partir de 1985 prosseguiu a carreira no estrangeiro, tendo passado pelos austríacos do Tirol Innsbruck (que deu lugar ao Swarovski Tirol) e do Wiener Sport-Club e pelos belgas do Genk antes de se tornar, no verão de 1989, uma das primeiras contratações do recém-eleito Sousa Cintra como presidente do Sporting, que na altura procurava um sucessor para Vítor Damas.
 
 
“Eu já tinha começado a treinar com o Sporting, já tínhamos ido a um torneio na Holanda, e gostei muito de lá estar. Foi muito difícil a negociação com o clube na Áustria. O presidente não queria falar comigo. Eu dizia ao Sousa Cintra: ‘Deixe-me falar com ele.’ Ele disse que sim, mas ele não queria. Porque sabia que eu ia falar com ele para baixar o preço. Depois eu desisti daqueles 10 por cento, os meus. E foi assim. O Sousa Cintra perguntou: ‘Mas como é que tu baixaste o preço?’ E eu disse: ‘Baixei o preço porque eu desisti dos meus 100 mil marcos.’ E o Sousa Cintra: ‘Hey, grande Ivkovic!’ Aquela conversa dele… E pronto, foi assim que cheguei ao Sporting. Foi o segundo clube mais importante da minha vida [a seguir ao Dínamo Zagreb]. Adorei estar no Sporting”, recordou ao Maisfutebol em maio de 2023.
 
Rotulado pelo líder da direção leonina como um dos melhores guarda-redes da Europa, Tomislav Ivkovic foi titular indiscutível na baliza verde e branca durante quatro temporadas, período no qual totalizou 154 partidas, 112 golos sofridos e… zero títulos. Ou vá, um, se tivermos em consideração a Taça de Honra da AF Lisboa em 1990.
 
Nem sempre regular, viveu a sua grande noite de leão ao peito no dia 27 de setembro de 1989, no Estádio San Paolo, em Nápoles. Após um empate a zero – e de outro nulo registado em Alvalade duas semanas antes –, defendeu dois penáltis no desempate por grandes penalidades, incluindo um de Diego Maradona, depois de ter desafiado o argentino para uma aposta na qual veio a ganhar 100 dólares. “Quando eu cheguei e lhe perguntei: ‘Quer apostar que não vai marcar?’, ele ficou a olhar para mim, não é? Quem era eu para dizer uma coisa dessas? O árbitro, francês, estava-se a rir a ver a situação. Depois eu disse: ‘Então, vamos, 100 dólares?’ E ele disse: ‘OK, pode ser. Aceito.’ Depois defendi o penálti. Tive muita pena porque falhámos o último e perdemos a eliminatória. Depois fui com ele à cabina, deu-me 100 dólares e uma camisola dele”, contou. Soube apenas a consolação, uma vez que o Sporting foi eliminado, pois Luisinho, Marlon Brandão e Fernando Gomes falharam os seus pontapés.
 
 
 
Quase um ano depois, no Mundial 1990, em Itália, a cena repetiu-se no jogo dos quartos de final entre Jugoslávia e Argentina: Ivkovic defendeu o penálti de Maradona, mas foi a equipa de El Pibe que seguiu em frente na competição. A única diferença foi de que, desta vez, o craque argentino não aceitou um novo desafio para uma aposta. “Um dia antes do jogo, fui à sala de imprensa no nosso hotel a pedido de um jornalista alemão que queria falar comigo. Falámos sobre a Argentina e para acabar a conversa ele perguntou: ‘Então o que é que acontece se o jogo chegar aos penáltis e o Maradona bater outra vez?’ E eu disse: ‘Olha, vou defender outra vez.’ E o homem disse: ‘Tu estás maluco ou estás a fazer-te de maluco?’ Eu disse: ‘Nem uma nem outra coisa.’ Ele perguntou: ‘Então quer fazer uma aposta?’ E eu disse: ‘Eu não vou dizer ao Maradona para fazer uma aposta. Se ele quiser, eu aceito.’ Entretanto esse jornalista foi ao centro de estágio da Argentina e falou com o Maradona. E o Maradona disse que não queria fazer nenhuma aposta, que queria concentrar-se para o jogo. Chegou o famoso jogo, acabou 0-0 e fomos outra vez a penáltis. O Maradona foi do centro até à área para buscar a bola e eu chamei-o: ‘Diego, Diego!’ E ele não queria levantar a cabeça”, lembrou.
 
 
Aos 32 anos, depois de uma temporada 1992-93 menos conseguida e numa altura em que já não entrava nas contas da sua seleção, foi dispensado de forma algo surpreendente, mas continuou em Portugal. Representou Estoril, Vitória de Setúbal, Belenenses e Estrela da Amadora antes de pendurar as luvas em 1998, à beira de comemorar o 38.º aniversário. Pelo meio também defendeu a baliza dos espanhóis do Salamanca em 1996-97.
 
Após terminar a carreira de futebolista voltou ao Sporting como adjunto de Mirko Jozic, passando depois para treinador principal do Lourinhanense, que na altura era o clube-satélite dos leões. Voltaria a defender a baliza leonina no século XXI, mas na vertente de futebol de praia.
 
Integrou ainda a equipa técnica da seleção croata entre 2005 e 2007 e desde então que tem orientado clubes na Croácia, na Arábia Saudita e na Bósnia. 







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