De “colaborador muito interessante” a “dois anos incríveis”. O que escreveu Pinto da Costa sobre Mourinho
Pinto da Costa e Mourinho com o troféu de vencedor da Taça UEFA
Foi uma relação de sucesso
durante dois anos e meio, mas há muito que José
Mourinho estava no radar de Pinto
da Costa. Os dois conheceram-se uma década antes da final da Gelsenkirchen
que coroou o FC
Porto como campeão europeu pela segunda vez, quando Bobby
Robson pediu a sua contratação.
“Foi no dia 24 de janeiro de 1994
que misterBobby
Robson ingressou no FC
Porto, depois da saída de Tomislav Ivic, devido a situações pessoais e
familiares, provocadas pela guerra na Jugoslávia. Contratado misterRobson,
decidimos que a equipa técnica, formada por Augusto
Inácio, Alfredo Murça e Vítor Frade, manter-se-ia. No dia seguinte disse-me
ter tido no Sporting
um ‘colaborador muito interessante’ que gostaria de ter no FC
Porto”, começou por contar o eterno presidente portista no livro Azul
até ao Fim, lançado em outubro de 2024. “Dado o meu acordo, no dia
seguinte José
Mourinho foi apresentado. Era o seu [31.º] aniversário e fomos almoçar ao
Restaurante Antunes, e na longa conversa que tivemos pressenti que estava a
falar com alguém diferente e que haveria de fazer história no FC
Porto”, prosseguiu. Essa primeira passagem pelas
Antas, tal como a segunda, viria a durar dois anos e meio. “Dois anos se
passaram, com Bobby
Robson a vencer dois campeonatos com José
Mourinho como seu braço direito. Em 1996, no final da época, mister Bobby
Robson comunicou-me que tinha um convite irrecusável do Barcelona.
Não pude evitar a sua saída, e com ele foi José
Mourinho”, acrescentou Pinto
da Costa, que se despediu do adjunto do inglês com uma espécie de promessa:
“Até qualquer dia, pois havemos de voltar a trabalhar juntos.” “E assim aconteceu. Na noite de
28 de dezembro de 2001, o ex-adjunto de Robson
assinava um contrato para na época seguinte se treinador do FC
Porto”, contou o malogrado presidente dos dragões,
que contava esperar pelo final da temporada para ter ao leme da equipa
principal aquele que na altura era o treinador de uma sensacional União
de Leiria. “Era treinador do nosso clube Octávio
Machado, um dos melhores profissionais que conheci na minha longa vida de
dirigente. Mas os resultados, sempre os resultados, foram-nos desfavoráveis. Numa
semana, tínhamos três jogos: FC
Porto-Sporting,
para a Liga;
FC
Porto-Sp. Braga, para a Taça; e Boavista-FC
Porto, para a Liga.
Empatámos o primeiro [2-2] e perdemos os dois últimos [1-2 e 0-2]. As coisas
ficaram feias, e Octávio
saiu. Saiu com muita pena minha, pois tinha com ele uma excelente relação de
amizade. Infelizmente, ela não se mantém, mas recordo-o sempre como um dos
nossos. E então veio Mourinho”,
lembrou Pinto
da Costa. “A nossa classificação [5.º
lugar, à 19.ª jornada] não garantia o acesso às provas europeias. Na apresentação
à equipa, J.M.
não se referiu à época em curso, para não pôr pressão sobre os jogadores, e
iniciou a sua intervenção. Teve uma frase que ficou na história: ‘Para o ano
vamos ser campeões!’. Disse-o com tal convicção que isso passou a ser um
objetivo na cabeça de todos”, recordou.
“Iniciava-se nesse momento os
dois anos e meio de maior glória do FC
Porto. Nesse ano (aliás, meio ano) conseguimos, na última jornada, ao vencer
em Paços de Ferreira, o apuramento para a Taça
UEFA, que em 2003 viríamos a vencer”, lembrou, sobre o pontapé de saída de “dois
anos incríveis”. “Além das variadas vitórias,
conquistámos a Taça
UEFA em 2003 e a Liga
dos Campeões Europeus em 2004. Sevilha e Gelsenkirchen tornaram-se míticas.
E José
Mourinho trouxe-nos uma realidade que nem o mais otimista podia prever. A
nossa equipa, sob a batuta do mágico Deco,
encantou a Europa. E José
Mourinho conquistou o mundo do futebol! Partiu para o Chelsea
e, mais tarde, para o poderoso Inter
de Milão, onde foi campeão europeu”, recordou. Numa nota ainda mais pessoal, Pinto
da Costa escreveu na obra que viveu “uma enorme satisfação vê-lo triunfar no
FC
Porto em primeiro lugar e nos grandes clubes por que passou”. “Tudo o que
vivemos juntos criou entre nós uma amizade que ainda hoje perdura. Saudades do Mourinho
Treinador. Muitas mais do amigo Zé”, concluiu.
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