quinta-feira, 13 de novembro de 2025

De “colaborador muito interessante” a “dois anos incríveis”. O que escreveu Pinto da Costa sobre Mourinho

Pinto da Costa e Mourinho com o troféu de vencedor da Taça UEFA
Foi uma relação de sucesso durante dois anos e meio, mas há muito que José Mourinho estava no radar de Pinto da Costa. Os dois conheceram-se uma década antes da final da Gelsenkirchen que coroou o FC Porto como campeão europeu pela segunda vez, quando Bobby Robson pediu a sua contratação.
 
“Foi no dia 24 de janeiro de 1994 que mister Bobby Robson ingressou no FC Porto, depois da saída de Tomislav Ivic, devido a situações pessoais e familiares, provocadas pela guerra na Jugoslávia. Contratado mister Robson, decidimos que a equipa técnica, formada por Augusto Inácio, Alfredo Murça e Vítor Frade, manter-se-ia. No dia seguinte disse-me ter tido no Sporting um ‘colaborador muito interessante’ que gostaria de ter no FC Porto”, começou por contar o eterno presidente portista no livro Azul até ao Fim, lançado em outubro de 2024.
 
“Dado o meu acordo, no dia seguinte José Mourinho foi apresentado. Era o seu [31.º] aniversário e fomos almoçar ao Restaurante Antunes, e na longa conversa que tivemos pressenti que estava a falar com alguém diferente e que haveria de fazer história no FC Porto”, prosseguiu.
 
Essa primeira passagem pelas Antas, tal como a segunda, viria a durar dois anos e meio. “Dois anos se passaram, com Bobby Robson a vencer dois campeonatos com José Mourinho como seu braço direito. Em 1996, no final da época, mister Bobby Robson comunicou-me que tinha um convite irrecusável do Barcelona. Não pude evitar a sua saída, e com ele foi José Mourinho”, acrescentou Pinto da Costa, que se despediu do adjunto do inglês com uma espécie de promessa: “Até qualquer dia, pois havemos de voltar a trabalhar juntos.”
 
“E assim aconteceu. Na noite de 28 de dezembro de 2001, o ex-adjunto de Robson assinava um contrato para na época seguinte se treinador do FC Porto”, contou o malogrado presidente dos dragões, que contava esperar pelo final da temporada para ter ao leme da equipa principal aquele que na altura era o treinador de uma sensacional União de Leiria.
 
“Era treinador do nosso clube Octávio Machado, um dos melhores profissionais que conheci na minha longa vida de dirigente. Mas os resultados, sempre os resultados, foram-nos desfavoráveis. Numa semana, tínhamos três jogos: FC Porto-Sporting, para a Liga; FC Porto-Sp. Braga, para a Taça; e Boavista-FC Porto, para a Liga. Empatámos o primeiro [2-2] e perdemos os dois últimos [1-2 e 0-2]. As coisas ficaram feias, e Octávio saiu. Saiu com muita pena minha, pois tinha com ele uma excelente relação de amizade. Infelizmente, ela não se mantém, mas recordo-o sempre como um dos nossos. E então veio Mourinho”, lembrou Pinto da Costa.
 
“A nossa classificação [5.º lugar, à 19.ª jornada] não garantia o acesso às provas europeias. Na apresentação à equipa, J.M. não se referiu à época em curso, para não pôr pressão sobre os jogadores, e iniciou a sua intervenção. Teve uma frase que ficou na história: ‘Para o ano vamos ser campeões!’. Disse-o com tal convicção que isso passou a ser um objetivo na cabeça de todos”, recordou.
 
 
“Iniciava-se nesse momento os dois anos e meio de maior glória do FC Porto. Nesse ano (aliás, meio ano) conseguimos, na última jornada, ao vencer em Paços de Ferreira, o apuramento para a Taça UEFA, que em 2003 viríamos a vencer”, lembrou, sobre o pontapé de saída de “dois anos incríveis”.
 
“Além das variadas vitórias, conquistámos a Taça UEFA em 2003 e a Liga dos Campeões Europeus em 2004. Sevilha e Gelsenkirchen tornaram-se míticas. E José Mourinho trouxe-nos uma realidade que nem o mais otimista podia prever. A nossa equipa, sob a batuta do mágico Deco, encantou a Europa. E José Mourinho conquistou o mundo do futebol! Partiu para o Chelsea e, mais tarde, para o poderoso Inter de Milão, onde foi campeão europeu”, recordou.
 
Numa nota ainda mais pessoal, Pinto da Costa escreveu na obra que viveu “uma enorme satisfação vê-lo triunfar no FC Porto em primeiro lugar e nos grandes clubes por que passou”. “Tudo o que vivemos juntos criou entre nós uma amizade que ainda hoje perdura. Saudades do Mourinho Treinador. Muitas mais do amigo Zé”, concluiu.



 
 

 
 




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