A minha primeira memória de um
jogo da seleção
angolana era para ser de festa, estando até previsto fogo de artifício, mas
não passou de uma batalha campal. A 14 de novembro de 2001, Angola
defrontava Portugal
no antigo Estádio José Alvalade, naquele que seria o último jogo de ambas as
seleções nesse ano que tinha sido memorável tanto para uma como para outra.
No mês anterior, a equipa das
quinas tinha carimbado o apuramento para o Campeonato
do Mundo, torneio em que não marcava presença desde 1986 – além dessa
participação, só tinha a de 1966 no palmarés. E um pouco antes, os Palancas
Negras tinham conquistado a Taça COSAFA, um torneio anual para as
seleções da África Austral.
Curiosamente, tanto Portugal
como Angola
dispunham de gerações de ouro. Luís Figo, Bola de Ouro nesse ano e melhor
jogador do mundo para a FIFA em 2000, era o expoente máximo da seleção
portuguesa, ainda que secundado por Fernando Couto, Paulo Sousa, Rui Costa e
João Pinto. Do outro lado, havia a certeza Akwá e a promessa Mantorras, que
meses antes tinha assinado pelo Benfica e já brilhava de águia ao peito, mas
também vários jogadores a atuar na I Liga portuguesa, como Lito Vidigal,
Wilson, Franklin, André Macanga ou Mendonça.
O jogo até começou bastante
animado, com um golo de Angola
logo aos 46 segundos, com Mendonça, que na altura representava o Varzim, a
bater o guarda-redes Ricardo na sequência de um cruzamento de Mantorras no lado
direito.
Porém, o jogo começou a ficar
estragado à passagem do quarto de hora, quando o árbitro francês Pascal Garibian
expulsou Yamba Asha após falta sobre Luís Figo e consequentes protestos. Refira-se,
mais uma vez, que o jogo era amigável e até tinha um caráter festivo.
Pouco depois, o juiz gaulês
assinalou um penálti a castigar alegada falta de Neto sobre Pauleta. Na
conversão da grande penalidade, Figo fez o empate (24’). Wilson, na altura
central do Belenenses,
foi expulso devido a protestos.
No minuto seguindo ao golo da igualdade,
Franklim, médio defensivo que atuava no Belenenses,
viu o cartão vermelho direto por entrada dura sobre João Pinto, deixando a seleção
angolana com apenas oito unidades.
Sem grande surpresa, Portugal
aproveitou o facto de estar em superioridade numérica para se colocar em
vantagem, chegando ao 2-1 por Nuno Gomes, a passe de Marito (36’); e ao 3-1
através de Jorge Andrade, na recarga a um cabeceamento de Nuno Gomes ao poste
(39’).
Ao intervalo a RTP 1, que transmitia o jogo, anunciou
que o fogo de artifício foi cancelado, e na segunda parte o descalabro
prosseguiu. Após Luís Boa Morte ter marcado o quarto de Portugal
a passe de Frechaut (49’) e de Nuno Gomes ter aumentado para 5-1 após assistência
de João Tomás (63’), Neto foi expulso por duplo amarelo (65’) e uma lesão de
Hélder Vicente obrigou o árbitro a dar por terminado o encontro, uma vez que Angola
ficou reduzida a seis unidades (68’).
“Fogo sem artifício. Antes que Angola
provasse que o tento inaugural tinha evidenciado uma de duas coisas (a inspiração
dos seus avançados ou a falência da estratégia aplicada no bloco recuado português),
Oliveira mandou Petit assumir-se claramente como central, permitindo a Beto
prestar uma atenção mais devida ao perigoso Mendonça. Nessa altura ainda se
jogava futebol...”, resumia o jornal O
Jogo.
“14 de novembro de 2001. Uma tragédia
humana abateu-se sobre o Estádio José Alvalade. Provavelmente, nunca mais o velho
relvado do Sporting será palco de uma coisa assim. O novo estádio leonino está
a crescer aqui ao lado e neste novo milénio o velho recinto está condenado,
mais dia menos dia”, podia ler-se no início da crónica.
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