quinta-feira, 4 de abril de 2024

O “Barreirense” que viveu uma estreia de sonho pelo Sporting. Quem se lembra de Marco Almeida?

Marco Almeida estreou-se pelo Sporting aos 20 anos
Qualquer jovem sportinguista aspirante a futebolista tem o sonho de ser campeão pelo clube do coração e eventualmente de jogar no melhor campeonato do mundo, a Premier League. Marco Almeida conseguiu-o, curiosamente na mesma época, e só necessitou de um total de 22 minutos em campo: 19 na derrota caseira do Southampton ante o Arsenal a 18 de setembro de 1999 e três na vitória leonina em Campo Maior a 24 de março de 2000.
 
Mas antes da concretização desses sonhos, houve outro tornado realidade, o da estreia de leão ao peito. Quase dez anos depois de ter iniciado uma rotina diária de viagens entre o Barreiro e o Estádio José Alvalade quando ainda nem era adolescente, e cerca de um ano e meio depois de ter começado a rodar no Lourinhanense, então clube-satélite dos leões, o ponta de lança entretanto transformado em médio e depois em central, batizado como “Barreirense” por Osvaldo Silva, seu primeiro treinador nas camadas jovens do Sporting, foi lançado às feras por Vicente Cantatore.
 
“Foi uma semana um bocado atípica porque o Marco Aurélio e o Beto eram os titulares, mas o Marco Aurélio estava lesionado e o Beto castigado, sobrava eu e o Nené. Até então, eu não tinha entrado porque quando acontecia alguma coisa cá atrás, baixava o Oceano ou baixava o Vidigal, porque era muito difícil apostarem em dois jovens e já lá estava o Beto. Na posição de defesa central normalmente querem experiência e estarem ali dois miúdos, com 19 anos, era um bocado arriscado. Mas durante aquela semana fui percebendo que o treinador às vezes punha-me na equipa titular, outras vezes não. Entretanto convoca-me e a partir do momento em que estou convocado, penso que vou jogar sabendo que havia as outras opções para fazerem o meu lugar. Vamos para estágio e no dia do jogo, logo de manhã, o Cantatore telefona-me para o quarto antes do pequeno almoço e diz para eu baixar ao hall de entrada porque queria falar comigo. Ele disse-me: “Olha Marco és tu que vais jogar, quero que saibas que vai correr tudo bem, se não correr bem, ou se correr menos bem, eu estou cá para assumir. Se correr bem, o mérito é todo teu porque és internacional português, fazes parte de um dos três grandes do futebol português”. Eu aí tive que o interromper um bocado para dizer que fazia parte do melhor clube do mundo, não era dos três grandes, era do melhor clube do mundo, e tinha a certeza de que iria correr bem e agradeci-lhe a oportunidade. Se estava nervoso? Claro, muito nervoso, mas tive sempre o apoio dos meus colegas mais velhos”, contou à Tribuna Expresso em setembro de 2019.
 
 
Mas nesse jogo de 21 de dezembro de 1997, Marco Almeida não fez somente a sua estreia. Também marcou o único golo do encontro. Depois começou a fazer dupla com Beto no centro da defesa, a dupla mais jovem de sempre no eixo defensivo dos leões, mas que acabou por durar pouco. Continuou a treinar com o plantel principal do Sporting, mas só jogava pelo Lourinhanense.
 
 
Com os caracóis louros e compridos como imagem de marca, numa tentativa de se assemelhar ao ídolo Fernando Couto, meteu na cabeça que só ia desfazer o penteado quando o Sporting fosse campeão. E assim foi. Mas primeiro teve de passar por um empréstimo de um ano ao Campomaiorense, apesar do interesse do Betis, tendo feito uma “época muito regular, uma época muito boa” em Campo Maior, que culminou na caminhada até à final da Taça de Portugal, perdida para o Beira-Mar e na qual foi titular.
 
 
Seguiu-se um empréstimo aos ingleses do Southampton na primeira metade da temporada 1999-00. “Gostei essencialmente do futebol, da maneira como os ingleses veem o futebol. O que gostei menos foi mesmo das pessoas, não digo do geral porque pessoas boas e pessoas más há em todo o lado, mas o inglês é muito frio. Tanto que ao princípio até que me assumisse como jogador da equipa principal foi complicado, até em termos de colegas. Não me passavam a bola. Tive ali um início de dois, três meses complicado”, recordou este internacional jovem português por 53 vezes (dos sub-15 à seleção B), que só esteve 19 minutos em campo ao serviço da equipa principal dos saints.
 
Recorte do Daily Echo de julho de 1999
Em dezembro de 1999 deparou-se, porém, com um grande dilema. Recebeu uma proposta do Benfica, outra do Southampton para ficar em definitivo e… nada do clube do coração e ao qual estava vinculado, o Sporting. “Estávamos a chegar a dezembro, o meu contrato com o Sporting terminava nesse ano e eu saía livre pela Lei Bosman. Entretanto o Southampton já tinha posto em cima da mesa uma proposta de cinco anos de contrato que estava a analisar com o meu empresário. Mas eu sempre à espera do Sporting. O Amadeu [Paixão] telefona-me um dia à noite e diz: ‘Marco vamos para Portugal.’ ‘Mas vamos para Portugal porquê? Para onde?’. ‘Vamos para o Benfica’. Era o Benfica do Vale e Azevedo e Graeme Souness [na realidade seria Jupp Heynckes]. ‘Para o Benfica?!’. ‘Sim, vamos para o Benfica, já falei com o presidente. O contrato é de três anos’. Eu ia ganhar muito mais do que aquilo que estava a ganhar no Sporting, muito mesmo. Eu disse-lhe: ‘Não, não vamos’ (risos). ‘Mas não vamos porquê?! Regressas a Portugal pela porta grande’. ‘Não. Não vou regressar pela porta grande. Se fosse pela porta grande não era pelo Benfica’. Atenção, com o máximo respeito que o Benfica me merece em termos de instituição. Disse-lhe: ‘Se é para ir para o Benfica, fico aqui os cinco anos no Southampton. Quero ouvir o Sporting. Se o Sporting me disser o nosso vínculo acaba aqui, obrigadinho por tudo, boa noite e um queijo e vai à tua vida, é uma coisa. Mas até agora eles não disseram nada, vamos ver’. O Amadeu diz-me: ‘OK, mas então que isto fica só entre nós, ninguém pode saber disto’. ‘Pela minha parte esteja descansado, você nem me ligou’. Passaram uma, duas horas, toca novamente o telefone, era o Luís Duque, o diretor do Sporting. Eu conhecia-o de jornais, mas nunca tinha falado com ele. Depois das primeiras trocas de palavras de circunstância ele diz: ‘Eu já sei que você recebeu uma proposta do Benfica. Então vamos fazer o seguinte, você às 8:25 da manhã tem um avião para vir embora para Alvalade renovar dois anos’. Fiquei ali trinta segundos em silêncio a assimilar aquilo tudo. ‘Mas doutor isso é para...’. ‘É para amanhã’. ‘Ok então amanhã estou lá’. Fiz as malas e vim embora”, revelou, puxando a cassete atrás.
 
Regressado ao Sporting com o aval de Augusto Inácio, ajudou os leões a quebrar um jejum de 18 anos, concretizando o sonho de se sagrar campeão nacional. E assim caíram os caracóis. “No dia a seguir eu chego a Alvalade para os treinos com o cabelo curto e os sócios pensavam que eu era um jogador novo”, lembrou, recordando a grande alegria sentida pelos sportinguistas nessa altura.
 
Marco Almeida no Campomaiorense
No entanto, Marco Almeida sentiu que necessitava de jogar mais e, com Beto e André Cruz à frente, decidiu sair para ganhar rodagem. “A época [2000-01] começa e vou falar com o Inácio para sair do Sporting, porque com a idade que tinha, preferia fazer 20/30 jogos do que estar ali no Sporting e fazer três, quatro jogos, independentemente do amor que eu tenho ao Sporting. Eu sabia que ia fazer poucos jogos e por isso fui falar com o Inácio, ele tinha feito a lista para a Liga dos Campeões e eu estava integrado nessa lista, ele mostrou-me a lista. Não era porque o Inácio não contasse comigo, não foi por o Sporting não contar comigo, eu é que tomei a decisão de que tinha de jogar mais regularmente tendo em conta a minha idade. Digo-lhe sinceramente: se já tivesse 27, 28 anos ficava, não me importava de ficar. Agora com aquela idade ainda tinha muita coisa pela frente”, explicou, tendo sido emprestado ao Campomaiorense.
 
Contudo, desta feita as coisas não correram bem em Campo Maior. Carlos Manuel, que insistiu para o central ir para o Alentejo, tirou-o do onze após uma goleada sofrida na Amadora (4-0). Marco Almeida regressou à equipa já com Diamantino Miranda no comando técnico, mas não evitou a despromoção à II Liga.
 
No final dessa temporada, e ainda com contrato com o Sporting, esteve para ir para o Vitória de Guimarães, então comandado por Augusto Inácio, mas acabou por se transferir para o Alverca, num negócio em que serviu de moeda de troca para o ingresso do médio Diogo em Alvalade.
 
Em três anos no Ribatejo, vivenciou duas descidas, uma subida de divisão e o drama dos salários em atraso. Em 2019, o Alverca ainda lhe devia 70 mil euros – inicialmente eram cerca de 110 mil. Ainda assim, chegou a estar convocado para a seleção nacional A numa altura em que competia na II Liga ao serviço dos alverquenses.
 
Seguiu-se um ano em Espanha, em dois clubes de Múrcia, antes de regressar ao futebol português pela porta do Maia, clube no qual esteve dez meses sem receber, tendo depois passado por Portimonense e Lusitânia de Lourosa e pelos campeonatos da Malásia e de Chipre, onde encerrou a carreira.
 
 
 
 

 
 






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