Sonhava ser “uma espécie de Berlusconi do Benfica”. Quem se lembra de Vale e Azevedo?
Vale e Azevedo foi presidente do Benfica entre 1997 e 2000
Na história do Benfica
só há dois estatutos que são indiscutíveis: Eusébio
melhor futebolista de sempre e Vale e Azevedo pior presidente de sempre.
Numa altura em que o FC
Porto tinha a hegemonia do futebol português, este advogado, que havia sido
assessor jurídico de Francisco Pinto Balsemão quando o patrão da Impresa era
primeiro-ministro, foi eleito presidente das águias
em outubro de 1997 e garantiu que ia meter muito dinheiro no clube, que
atravessava uma grave crise financeira. E também deixou claro qual era a sua inspiração:
“Não pretendo ser um mecenas, mas uma espécie de Silvio Berlusconi do Benfica.” Em parte, cumpriu a promessa,
pois, tal como o antigo presidente do AC
Milan, também foi condenado pela justiça a uma pena de prisão. A dois dias do final do mandato e
das eleições que havia de disputar e perder para Manuel Vilarinho, no final de
2000, promoveu uma conferência de imprensa na qual anunciou um acordo que iria
fazer a alemã IBM investir 35 milhões de contos na construção do novo
Estádio da Luz, do centro de treinos do Seixal e de um parque de lazer. Ao
lado de Vale e Azevedo, sentaram-se dois alemães que mal abriram a boca. Ainda antes do sufrágio, a IBM
desmentiu o acordo e garantiu que as negociações com o Benfica
se cingiam apenas à venda de apoio tecnológico, mas para o então presidente dos
encarnados
ia dar ao mesmo: “Acham que existe algum clube mais transparente do que o Benfica?
Só se quiserem saber a cor das minhas cuecas. Por amor de Deus!”
Outro momento sonante da
presidência de Vale e Azevedo passou-se em fevereiro de 1999. Um mês antes, a 3
de janeiro, o Benfica
bateu o Sporting
em Alvalade
por 2-1, graças a dois autogolos de Beto. Entretanto, Portugal
defrontou os Países
Baixos no Parque dos Príncipes, em Paris, e o líder encarnado
marcou presença, tendo inclusivamente entrado no balneário para visitar os
jogadores no final do encontro. Ao passar por Beto, perguntou: “Como é que está
o goleador?” Contudo, o central leonino
não se apercebeu da pergunta. “Disse qualquer coisa de goleador, eu nem me
apercebi bem porque estava a falar com um antigo colega meu, o Dominguez, mas
mandou qualquer coisa desse género. Eu não me apercebi bem no momento e ainda
bem que não o fiz, porque se não tinha reagido de outra maneira. Calei-me e
ainda bem que o fiz. Essa pessoa não merece o mínimo respeito. É uma pessoa que
não respeita ninguém. Se não me queria respeitar como atleta, respeitava-me
pelo menos como ser humano. Não o fez e por isso eu também não o vou respeitar
mais”, afirmou Beto poucos dias depois de a história ter sido revelada por Pinto
da Costa, que garantiu ter sabido de tudo através de um jogador do FC
Porto que havia testemunhado o momento.
Depois de perder as eleições, foi
acusado de desviar dinheiro, falsificar documentos e branquear capitais, no
âmbito dos casos Ovchinnikov e Euroárea, tendo cumprido pena de prisão. Chegou
a ser posto em liberdade a 19 de fevereiro de 2004, mas 14 segundos depois foi
abordado por dois agentes da Polícia Judiciária, com um novo mandato de
detenção. Foi expulso de sócio do Benfica
em maio de 2005 e da Ordem dos Advogados em outubro de 2013, mas nunca perdeu o
humor: “Se sou um bode expiatório? Expiatório sem dúvida, agora quanto a bode,
dispenso, muito obrigado.”
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