sábado, 24 de fevereiro de 2024

Sonhava ser “uma espécie de Berlusconi do Benfica”. Quem se lembra de Vale e Azevedo?

Vale e Azevedo foi presidente do Benfica entre 1997 e 2000
Na história do Benfica só há dois estatutos que são indiscutíveis: Eusébio melhor futebolista de sempre e Vale e Azevedo pior presidente de sempre.
 
Numa altura em que o FC Porto tinha a hegemonia do futebol português, este advogado, que havia sido assessor jurídico de Francisco Pinto Balsemão quando o patrão da Impresa era primeiro-ministro, foi eleito presidente das águias em outubro de 1997 e garantiu que ia meter muito dinheiro no clube, que atravessava uma grave crise financeira. E também deixou claro qual era a sua inspiração: “Não pretendo ser um mecenas, mas uma espécie de Silvio Berlusconi do Benfica.”
 
Em parte, cumpriu a promessa, pois, tal como o antigo presidente do AC Milan, também foi condenado pela justiça a uma pena de prisão.
 
A dois dias do final do mandato e das eleições que havia de disputar e perder para Manuel Vilarinho, no final de 2000, promoveu uma conferência de imprensa na qual anunciou um acordo que iria fazer a alemã IBM investir 35 milhões de contos na construção do novo Estádio da Luz, do centro de treinos do Seixal e de um parque de lazer. Ao lado de Vale e Azevedo, sentaram-se dois alemães que mal abriram a boca.
 
Ainda antes do sufrágio, a IBM desmentiu o acordo e garantiu que as negociações com o Benfica se cingiam apenas à venda de apoio tecnológico, mas para o então presidente dos encarnados ia dar ao mesmo: “Acham que existe algum clube mais transparente do que o Benfica? Só se quiserem saber a cor das minhas cuecas. Por amor de Deus!”
 
 
Outro momento sonante da presidência de Vale e Azevedo passou-se em fevereiro de 1999. Um mês antes, a 3 de janeiro, o Benfica bateu o Sporting em Alvalade por 2-1, graças a dois autogolos de Beto. Entretanto, Portugal defrontou os Países Baixos no Parque dos Príncipes, em Paris, e o líder encarnado marcou presença, tendo inclusivamente entrado no balneário para visitar os jogadores no final do encontro. Ao passar por Beto, perguntou: “Como é que está o goleador?”
 
Contudo, o central leonino não se apercebeu da pergunta. “Disse qualquer coisa de goleador, eu nem me apercebi bem porque estava a falar com um antigo colega meu, o Dominguez, mas mandou qualquer coisa desse género. Eu não me apercebi bem no momento e ainda bem que não o fiz, porque se não tinha reagido de outra maneira. Calei-me e ainda bem que o fiz. Essa pessoa não merece o mínimo respeito. É uma pessoa que não respeita ninguém. Se não me queria respeitar como atleta, respeitava-me pelo menos como ser humano. Não o fez e por isso eu também não o vou respeitar mais”, afirmou Beto poucos dias depois de a história ter sido revelada por Pinto da Costa, que garantiu ter sabido de tudo através de um jogador do FC Porto que havia testemunhado o momento.
 
 
 
Depois de perder as eleições, foi acusado de desviar dinheiro, falsificar documentos e branquear capitais, no âmbito dos casos Ovchinnikov e Euroárea, tendo cumprido pena de prisão. Chegou a ser posto em liberdade a 19 de fevereiro de 2004, mas 14 segundos depois foi abordado por dois agentes da Polícia Judiciária, com um novo mandato de detenção. Foi expulso de sócio do Benfica em maio de 2005 e da Ordem dos Advogados em outubro de 2013, mas nunca perdeu o humor: “Se sou um bode expiatório? Expiatório sem dúvida, agora quanto a bode, dispenso, muito obrigado.” 








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