O homem contratado pelo FC Porto para fazer esquecer Jardel. Quem se lembra de Pena?
Pena somou 42 golos em 87 jogos pelo FC Porto
2000 foi um ano de mudança de ciclo
no FC
Porto. Apesar de ter estado com o hexacampeonato bem encaminhado, viu o Sporting
quebrar-lhe a sequência de títulos. E o homem que havia sido por quatro vezes o
melhor marcador da I
Liga portuguesa (com direito a Bota de Ouro em 1998-99), Mário Jardel, saiu
para o Galatasaray. E para o substituir? Foi uma carga dos trabalhos. Quem
começou a temporada 2000-01 como titular foi o croata Silvio Maric
(ex-Newcastle), que se lesionou gravemente logo no primeiro jogo oficial da
época. No segundo encontro, a titularidade foi dada a Domingos, já na curva
descendente da carreira, mas não correspondeu com golos. Outro veterano com
créditos firmados, Juan Antonio Pizzi (ex-Rosario Central), também não faturou.
Por último, Fernando Santos experimentou Romeu, o que também não resultou. Já
no final do verão chegou um brasileiro ex-Palmeiras
sem internacionalizações A nem grande currículo no que concerne a média de
golos, Pena, que pegou de estaca.
“Assim que ficou com o meu passe
na mão, ele [empresário Josep Minguella] entrou em contacto com o FC
Porto. Tinha uma ligação boa com eles, até acho que foi ele que negociou o
Mário Jardel para lá. Isso foi numa terça ou quarta-feira. Cheguei e
perguntaram-me se eu podia jogar imediatamente no fim-de-semana. Disse que sim,
claro. Disse que estava há um mês sem treinar com bola, mas cheio de vontade de
jogar. O Minguella disse-me que jogar no FC
Porto envolvia uma pressão grande e perguntou-me se eu ia aguentar isso.
‘Pressão? Pressão era quando eu acordava de manhã e não tinha o que comer’.
Jogar num gigante da Europa não era pressão, era prazer. Fiz os exames médicos,
assinei por cinco anos, treinei duas vezes e fui para o jogo”, lembrou ao Maisfutebol
em abril de 2021.
No
primeiro jogo, bisou ao Paços de Ferreira. No segundo, marcou num empate em
Belgrado frente ao Partizan. No terceiro, bisou numa goleada em Campo Maior. No
quarto, apontou o golo solitário de uma sofrida vitória sobre o Marítimo.
No quinto não faturou, mas fez a assistência para o golo de Drulovic que deu o
triunfo na receção ao Partizan. No sexto marcou ao Farense,
no sétimo ao Vitória
de Guimarães e no oitavo deu a vitória num clássico com o Sporting
em Alvalade.
Entretanto interrompeu a sequência, mas foi fazendo aqui e ali o gosto ao pé,
terminando a temporada com 29 golos em 44 jogos e o troféu de melhor marcador
da I
Liga, sucedendo a… Jardel. Por esta altura, talvez se pudesse dizer que
estava a fazer esquecer Super Mário. Não marcava tanto, mas era mais móvel e
oferecia outras coisas ao futebol portista.
“Acho que deixei a minha marca no
futebol português. Logo no meu primeiro ano no FC
Porto fui o melhor marcador do campeonato português... e repare que tinha a
responsabilidade de substituir o Mário Jardel. Não era qualquer um que o
substituía por tudo o que ele fez. Não tive dificuldades de adaptação e ainda
hoje sou o jogador do clube que teve um melhor arranque. Só por isso acho que
mereço ser recordado. Não era qualquer um que chegava a um clube daquela
dimensão e fazia o que eu fiz. O tempo não apaga a história”, disse ao Diário
de Notícias em agosto de 2017.
O problema foi que nem Jardel se
fez esquecer, ao regressar em grande a Portugal pela porta do Sporting
depois de ter estado com um pé no Benfica,
nem Pena manteve a cadência goleadora, pois em 2001-02 não foi além de 13
remates certeiros em 43 partidas em todas as competições, tendo terminado a
época na sombra de Benni McCarthy e Hélder Postiga, numa altura em que já era José
Mourinho que estava no comando técnico. “Há coisas que ninguém sabe. Eu
vou contar estas histórias pela primeira vez, ninguém imagina. Primeiro: tive
uma pubalgia muito grave a meio da segunda época, mas havia poucas opções e
pediam-me sempre para jogar. Eu levava dez injeções por semana para as dores e
para a inflamação. Não estava bem fisicamente e o meu forte era o físico. Quem
tem pubalgia percebe o que digo. Eu chegava a casa e tinha de colocar três
sacos de gelo, as dores eram insuportáveis. Diziam que eu saía à noite,
inventavam motivos e não era nada disso. Fui a 10/12 testes de doping, queriam
apanhar-me, mas nunca fui apanhado porque não havia nada. Eu corria porque era
mesmo assim e só deixei de correr por culpa deste problema. Eu nunca tinha
jogado com pitões de alumínio, altos, e isso rebentou a minha parte muscular.
Não tenho nada a apontar ao departamento médico, ajudavam-me dentro do
possível, mas o problema é que eu parava”, revelou.
Paralelamente, foi burlado por
outro empresário que o representava. “Eu estava a fazer uns investimentos no
Brasil quando cheguei ao FC
Porto e por isso pedi adiantado o dinheiro dos meus dois primeiros anos de
contrato. 300 mil dólares pelo primeiro ano e 350 mil dólares pelo segundo ano,
não tenho problema nenhum em divulgar as verbas. Recebi esses 650 mil dólares para
construir 14 apartamentos e depois vender ou arrendar. Nós fomos fazer um jogo
da Liga
dos Campeões, esse empresário ficou com o dinheiro para depositar na minha
conta e nunca depositou. Até hoje. O FC
Porto foi fantástico, aceitou fazer esse pagamento adiantado, só me queriam
ver motivado. Quando cheguei da viagem, muito satisfeito, esse gajo roubou todo
o meu dinheiro. ‘Não te roubei, vou dar-te o dinheiro’. Nunca mais.
Desapareceu, não atendeu mais o telemóvel. Eu tinha assumido grandes
compromissos na minha cidade – construtoras, empreiteiros – e não consegui
cumprir o que estava acordado. Colocaram-me na Justiça. Se eu tivesse ido lá
nessa altura, de certeza que seria preso”, acrescentou. Seguiram-se três empréstimos.
Depois de ter estado cedido aos franceses do Estrasburgo, jogou novamente na I
Liga portuguesa com as camisolas de Sp.
Braga e Marítimo.
Sem ser brilhante, apresentou golos tanto ao serviço dos minhotos
(sete) como dos madeirenses
(nove).
“É uma mágoa que ainda tenho: não
ter trabalhado mais tempo com o José
Mourinho, que veio a tornar-se um dos melhores treinadores do mundo. Mas
naquele início de época [2002-03] aconteceram vários episódios que me deixaram
triste e optei por sair. Na pré-época lembro-me que marquei muitos golos... mas
tinha uma pubalgia muito grave e andavam a dizer que eu só queria noitadas.
Devo dizer que nessa altura até estive para ser chamado à seleção brasileira
pelo Scolari. Mas a lesão estragou-me os planos”, recordou.
Não se lembra do Pena quem não acompanha os jogos dos veteranos onde é presença assídua e muito útil !!!
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