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Yustrich venceu campeonato e Taça de Portugal em 1955-56 |
O
FC
Porto contabiliza nove dobradinhas e a primeira foi conseguida sob o
comando técnico do brasileiro Dorival Knipel. Quem? Yustrich, a quem os
portistas
chamavam de “O Homão”.
Estávamos no verão de 1955 e os
dragões
vinham de um quarto lugar no campeonato, atrás de
Benfica,
Belenenses
e
Sporting.
Pior: estavam há quinze anos sem ganhar o título nacional.
O presidente Cesário Bonito aterrou
em Belo Horizonte e contratou Yustrich, antigo guarda-redes de
Flamengo
e
Vasco
da Gama, e que como treinador havia orientado o América Mineiro e o
Atlético
Mineiro, dois clubes do estado brasileiro de Minas Gerais, tendo guiado
ambos à conquista do campeonato estadual.
O técnico, de 1,90 m, só assinou
pelos
azuis
e brancos em condições especiais: 150 contos de luvas, 15 contos de salário
mensal e a garantia de mais 100 contos se se sagrasse campeão nacional. E, como
se não bastasse, ainda chegou a Portugal com um reforço escolhido a dedo, o
avançado Jaburú, que viria a marcar 30 golos em 29 jogos em 1955-56.
Com fama de disciplinador e
temperamental, não permitia jogadores com o cabelo comprido nem fumadores.
Pouco depois de ingressar no
FC
Porto, afastou Carvalho e Porcel, dois futebolistas emblemáticos do clube,
gerando rapidamente antipatias dentro e fora do balneário.
A 4 de março de 1956, os
portistas
empataram com o
Benfica
na
Luz
(1-1) e, por proposta de Yustrich aceite pelo presidente, os jogadores
receberam 1500 escudos de prémio. Ainda no mesmo mês, dia 24, renovou contrato
por um ano, passando a ganhar 40 contos por mês, considerada uma verba bastante
avultada naquela altura, até porque o prémio da lotaria da Páscoa era de 50
contos.
Já com o novo vínculo rubricado,
guiou o
FC
Porto à primeira dobradinha da sua história em maio desse ano, tendo
concluído a temporada 1955-56 com 23 vitórias, sete empates e uma derrota em
todas as competições.
“Conseguiu galvanizar-nos a
todos. Eu, que jogava no FC Infesta, que tinha acabado de jogar na seleção de
juniores da
Associação
de Futebol do Porto, arrumei as botas para ver o novo
FC
Porto. Vi, com o meu tio Carlos Costa, todos os jogos do campeonato. Como o
meu tio era vice-presidente da FPF, tive a oportunidade de o conhecer
pessoalmente”, contou
Pinto
da Costa no livro
Azul até ao Fim. “Foi uma época fantástica!
Vencemos o campeonato, num último jogo emocionante contra a
Académica.
Foi uma loucura! Mais tarde, tive a felicidade de ver o
FC
Porto muitas vezes campeão. Muitos momentos fantásticos. Mas nenhum me fez
mais feliz do que o primeiro que vivi com 18 anos de idade. Para culminar a
época, pela primeira vez fizemos a dobradinha, vencendo a
Taça
de Portugal com uma vitória por 2-0 contra o
Torreense.
Foi no Estádio de Oeiras, e nunca o
clube
de Torres Vedras teve tantos adeptos. Depois explicaram-me que a grande maioria
não era de Torres Vedras, mas sim de Lisboa, de Alfama à Mouraria”, prosseguiu
o antigo presidente do
FC
Porto, ao seu estilo.
Seguiu-se uma digressão à
Venezuela, a troco de mil contos. Mas as coisas não correram bem aos
dragões,
que empataram com a
Roma
(1-1) e perderam com o
Vasco
da Gama (0-3). Fora das quatro linhas, pior ainda: Yustrich ameaça bater no
presidente Cesário Bonito e no tesoureiro Zagalo de Lima, devido ao adiamento
de 250 contos (os 150 de luvas e os 100 do campeonato nacional) por seis ou 12
meses. O treinador brasileiro agarrou o tesoureiro pelo colarinho e chama-lhe
cavalo. “Se fosses mais homem, atirava-te pela janela abaixo”, gritou o “Homão”.
Além das tentativas de agressão, Yustrich
foi acusado de ficar com os 17 contos de bilheteira de um jogo de solteiros e
casados entre jogadores do
FC
Porto, antes da viagem para Caracas.
No regresso a Portugal, já com os jogadores de
férias, o brasileiro foi despedido.
Voltaria ao banco dos
azuis
e brancos em 1957-58, mas sem o sucesso da primeira passagem.
No regresso ao Brasil venceu um
campeonato mineiro pelo Siderúrgica (1964) e outro pelo
Cruzeiro
(1977). Também orientou clubes como
Vasco
da Gama,
Flamengo,
Corinthians
e a própria
seleção
brasileira. É considerado um dos pioneiros do chamado "futebol
raiz", onde o necessário é jogar à bola.
Encerrou a carreira em 1985, aos 68
anos, e morreu a 15 de fevereiro de 1917, aos 72. Pelo meio, regressou à
Invicta no final de 1987, poucos meses após a conquista do primeiro título
europeu dos
dragões,
para ser homenageado no Estádio das Antas. Assim que aterrou no aeroporto de
Pedras Rubras, abraçou
Pinto
da Costa e atirou: “O
FC
Porto triunfou e eu fui a semente.”
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