sexta-feira, 26 de setembro de 2025

“O Homão” que deu a primeira dobradinha ao FC Porto. Quem se lembra de Yustrich?

Yustrich venceu campeonato e Taça de Portugal em 1955-56
O FC Porto contabiliza nove dobradinhas e a primeira foi conseguida sob o comando técnico do brasileiro Dorival Knipel. Quem? Yustrich, a quem os portistas chamavam de “O Homão”.
 
Estávamos no verão de 1955 e os dragões vinham de um quarto lugar no campeonato, atrás de Benfica, Belenenses e Sporting. Pior: estavam há quinze anos sem ganhar o título nacional.
 
O presidente Cesário Bonito aterrou em Belo Horizonte e contratou Yustrich, antigo guarda-redes de Flamengo e Vasco da Gama, e que como treinador havia orientado o América Mineiro e o Atlético Mineiro, dois clubes do estado brasileiro de Minas Gerais, tendo guiado ambos à conquista do campeonato estadual.
 
O técnico, de 1,90 m, só assinou pelos azuis e brancos em condições especiais: 150 contos de luvas, 15 contos de salário mensal e a garantia de mais 100 contos se se sagrasse campeão nacional. E, como se não bastasse, ainda chegou a Portugal com um reforço escolhido a dedo, o avançado Jaburú, que viria a marcar 30 golos em 29 jogos em 1955-56.
 
Com fama de disciplinador e temperamental, não permitia jogadores com o cabelo comprido nem fumadores. Pouco depois de ingressar no FC Porto, afastou Carvalho e Porcel, dois futebolistas emblemáticos do clube, gerando rapidamente antipatias dentro e fora do balneário.
 
A 4 de março de 1956, os portistas empataram com o Benfica na Luz (1-1) e, por proposta de Yustrich aceite pelo presidente, os jogadores receberam 1500 escudos de prémio. Ainda no mesmo mês, dia 24, renovou contrato por um ano, passando a ganhar 40 contos por mês, considerada uma verba bastante avultada naquela altura, até porque o prémio da lotaria da Páscoa era de 50 contos.
 
Já com o novo vínculo rubricado, guiou o FC Porto à primeira dobradinha da sua história em maio desse ano, tendo concluído a temporada 1955-56 com 23 vitórias, sete empates e uma derrota em todas as competições.
 
“Conseguiu galvanizar-nos a todos. Eu, que jogava no FC Infesta, que tinha acabado de jogar na seleção de juniores da Associação de Futebol do Porto, arrumei as botas para ver o novo FC Porto. Vi, com o meu tio Carlos Costa, todos os jogos do campeonato. Como o meu tio era vice-presidente da FPF, tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente”, contou Pinto da Costa no livro Azul até ao Fim. “Foi uma época fantástica! Vencemos o campeonato, num último jogo emocionante contra a Académica. Foi uma loucura! Mais tarde, tive a felicidade de ver o FC Porto muitas vezes campeão. Muitos momentos fantásticos. Mas nenhum me fez mais feliz do que o primeiro que vivi com 18 anos de idade. Para culminar a época, pela primeira vez fizemos a dobradinha, vencendo a Taça de Portugal com uma vitória por 2-0 contra o Torreense. Foi no Estádio de Oeiras, e nunca o clube de Torres Vedras teve tantos adeptos. Depois explicaram-me que a grande maioria não era de Torres Vedras, mas sim de Lisboa, de Alfama à Mouraria”, prosseguiu o antigo presidente do FC Porto, ao seu estilo.

 
Seguiu-se uma digressão à Venezuela, a troco de mil contos. Mas as coisas não correram bem aos dragões, que empataram com a Roma (1-1) e perderam com o Vasco da Gama (0-3). Fora das quatro linhas, pior ainda: Yustrich ameaça bater no presidente Cesário Bonito e no tesoureiro Zagalo de Lima, devido ao adiamento de 250 contos (os 150 de luvas e os 100 do campeonato nacional) por seis ou 12 meses. O treinador brasileiro agarrou o tesoureiro pelo colarinho e chama-lhe cavalo. “Se fosses mais homem, atirava-te pela janela abaixo”, gritou o “Homão”.
 
Além das tentativas de agressão, Yustrich foi acusado de ficar com os 17 contos de bilheteira de um jogo de solteiros e casados entre jogadores do FC Porto, antes da viagem para Caracas.  No regresso a Portugal, já com os jogadores de férias, o brasileiro foi despedido.
 
Voltaria ao banco dos azuis e brancos em 1957-58, mas sem o sucesso da primeira passagem.
 
No regresso ao Brasil venceu um campeonato mineiro pelo Siderúrgica (1964) e outro pelo Cruzeiro (1977). Também orientou clubes como Vasco da Gama, Flamengo, Corinthians e a própria seleção brasileira. É considerado um dos pioneiros do chamado "futebol raiz", onde o necessário é jogar à bola.
 
Encerrou a carreira em 1985, aos 68 anos, e morreu a 15 de fevereiro de 1917, aos 72. Pelo meio, regressou à Invicta no final de 1987, poucos meses após a conquista do primeiro título europeu dos dragões, para ser homenageado no Estádio das Antas. Assim que aterrou no aeroporto de Pedras Rubras, abraçou Pinto da Costa e atirou: “O FC Porto triunfou e eu fui a semente.”



  
 




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