O guarda-redes do primeiro título europeu do FC Porto. Quem se lembra de Mlynarczyk?
Mlynarczyk disputou 88 jogos pelo FC Porto entre 1986 e 1988
Se Vítor Baía é consensualmente
considerado o guarda-redes mais importante da história do FC
Porto, um dos que vem logo a seguir é Jozef Mlynarczyk. Polaco com créditos
firmados ao serviço do Widzew Lodz – atingiu as meias-finais da Taça
dos Campeões Europeus em 1982-83 – e da seleção
polaca – havia estado no Mundial 1982 –, foi contratado aos franceses do
Bastia em janeiro de 1986 e nessa altura dificilmente imaginaria que um ano e
meio depois estaria a festejar a conquista do título continental.
Assim que chegou a Portugal, e
perante a lesão do até então habitual titular Zé
Beto, teve uma prova de fogo na estreia de dragão
ao peito, um clássico com o Benfica
na Luz.
Não sofreu golos, num jogo marcado por um penálti de Gomes defendido por Bento,
e deu nas vistas com as reposições de bola – com o pé, fez o esférico parar ao
guardião benfiquista
e com a mão fê-lo passar a linha do meio-campo. “Na época seguinte ao título de
1984-85 tínhamos novamente aspirações, mas perdemos um jogo no final da primeira
volta, na Covilhã. O nosso guarda-redes titular estava lesionado e jogou o
Matos, que era um bom guarda-redes, mas não estava à altura dos outros.
Perdemos 2-0 e no jogo seguinte jogávamos na Luz.
Eu tinha um amigo que não era propriamente empresário, que trabalhava em França
e estava ligado ao futebol. Ele era muito amigo do Luís César, o nosso
secretário técnico, e disse-lhe que precisava de um guarda-redes. Ele
perguntou-me se conhecia o Jozef Mlynarczyk, eu disse que conhecia, o polaco.
Ele disse-me que estava no Bastia e poderia haver uma possibilidade. Eu
disse-lhe que não era uma possibilidade, tinha de estar cá até quarta-feira
para jogar na Luz.
Ele disse que não sabia se era possível. Respondi-lhe que se era impossível
dava-lhe até quinta-feira, disse-lhe na brincadeira. Se for possível, até
quarta, se for impossível, na quinta, mas tem que o pôr cá. Impossível ou não,
ele conseguiu-o, o Mlynarczyk jogou na Luz,
empatámos 0-0, e ele fez uma grande exibição. Impossível é o que é difícil e
demora mais tempo a resolver. Não há impossíveis”, contou Pinto
da Costa no quarto episódio da série documental “Ironias do Destino”, no Porto
Canal, em junho de 2021. Até ao final dessa época de
1985-86 sofreu apenas seis golos em 15 jogos, contribuindo para a conquista do
título nacional. No verão que se seguiu disputou o Mundial do México e até
esteve na vitória da Polónia
sobre Portugal
em Monterrey (1-0).
Na temporada seguinte, Mly e Zé
Beto dividiram a titularidade. O português jogou mais na primeira fase da
época, mas o polaco foi dono e senhor da baliza a partir de março de 1987,
tendo atuado nos derradeiros cinco jogos da Taça
dos Campeões Europeus – nos quartos de final diante dos dinamarqueses do
Brondby, nas meias-finais frente aos soviéticos do Dínamo Kiev e na
final de Viena diante do Bayern Munique.
Em 1987-88 manteve o estatuto,
tendo defendido a baliza portista
nas vitórias sobre o Ajax
na Supertaça Europeia e sobre o Peñarol
na Taça Intercontinental, numa época também marcada pela conquista da
dobradinha.
Contudo, uma lesão no início da temporada
seguinte, aliado a um misterioso desaparecimento de Zé
Beto, abriram as portas da titularidade a Vítor Baía e precipitaram o final
de carreira de Mlynarczyk, que ficaria nas Antas como treinador de guarda-redes
até 1999-2000.
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