terça-feira, 25 de março de 2025

Pinga, o primeiro futebolista madeirense de categoria internacional

Pinga representou Marítimo, FC Porto e seleção nacional
O primeiro madeirense de categoria internacional e, segundo se conta, o primeiro grande craque do futebol português. Artur de Sousa herdou a alcunha “Pinga” do pai, Manuel Sousa, também ele futebolista, e nasceu a 30 de setembro de 1909 no Funchal.
 
Com nove golos (cinco dos quais à Espanha) em 21 internacionalizações entre 1930 e 1942 e a braçadeira de capitão em dois jogos, estreou-se pela seleção nacional a 30 de novembro de 1930, numa derrota com a congénere espanhola no Porto (0-1), num jogo para o qual a AF Lisboa se recusou a ceder jogadores de clubes sob a sua jurisdição, nomeadamente os de Benfica, Sporting e Belenenses. Na altura, ainda era jogador do Marítimo, tendo assinado pelo FC Porto pouco mais de três semanas depois, a 23 de dezembro, numa transferência envolta em polémica. Mas já lá vamos…
 
Com um pé esquerdo fora do comum, tanto em força como em técnica, era apelidado de “Pinguinha” nas camadas jovens dos verde-rubros, passando a “Pinga” apenas em idade adulta, quando ganha três campeonatos regionais da Madeira.
 
Nessa altura começou a ser admirado por Joseph Szabo, húngaro que assumiu o comando técnico do FC Porto em 1928 e que desde então tentou levar o madeirense para a Invicta, uma pretensão que demorou quase três anos a concretizar. Até lá, o interior esquerdo chegou a jogar pelo Micaelense.
 
O momento-chave para a mudança de Pinga para os dragões aconteceu a 30 de junho de 1930, quando foi convocado para alinhar pela seleção do Funchal no Estádio do Lima, no Porto, uma ocasião aproveitada pelos dirigentes portistas para se aproximarem do esquerdino e acenarem-lhe com um contrato. Cinco meses depois, aquando da tal primeira internacionalização do atleta, foi finalmente acertado o acordo entre o jogador e o novo clube.
 
Faltou o consentimento do Marítimo, que se queixou de documentos falsificados. Já o FC Porto falava em propaganda dos clubes de Lisboa, também eles interessados no concurso do avançado. O imbróglio foi tão grande que Pinga, que havia assinado pelos azuis e brancos em vésperas do Natal de 1930, só se estreou oficialmente de dragão ao peito quase onze meses depois, a 8 de novembro de 1931, tendo marcado um golo numa goleada ao Boavista (10-2).
 
Em 1931-32 ganhou o primeiro título pelo FC Porto, o Campeonato de Portugal. Após uma vitória sobre o Benfica por 3-0 nas meias-finais, o cronista da revista Stadium desdobrou-se em elogios ao madeirense: “Agrada registar, como exemplo e motivo de louvor, a forma de Pinga atuar. É o homem que nunca para. Que está na defesa e sempre no ataque. Que dribla, intercepta e passa... Nunca cometendo violências. Pinga representa o jogador completo: à mestria da técnica, alia a maneira mais elegante de jogar.” Na final, Pinga marcou um dos golos da vitória sobre o Belenenses (2-1) e, segundo reza a história, o árbitro espanhol Ramón Melcón ter-se-á confessado maravilhado com a exibição do atacante portista.
 
 
Em termos de troféus, seguiu-se o primeiro campeonato da I Divisão em 1934-35 e mais um Campeonato de Portugal em 1936-37 antes de se sagrar bicampeão nacional em 1938-39 e 1939-40, além de ter conquistado onze campeonatos regionais da AF Porto. Porém, foi em 1935-36 que conseguiu vencer o prémio de melhor marcador do patamar maior do futebol português, com 21 golos em 14 jornadas.
 
Haveria de permanecer no FC Porto até 1946, despedindo-se aos 36 anos, numa altura em que já atuava como… defesa, após 314 golos em 331 jogos de azul e branco ao longo de 15 anos. Nesse período de década e meia foi parte ativa naquelas que ainda são hoje as maiores goleadas do clube: faturou por seis vezes nos 15-1 à Sanjoanense, em 1943, para a Taça de Portugal; e por oito ocasiões nos 19-1 ao Coimbrões, em 1933, para o Regional do Porto.
 
Porém, nem tudo foram rosas. Também viveu um momento negro a 15 de outubro de 1939, quando agrediu o árbitro de um jogo diante do Académico do Porto que lhe havia dado ordem de expulsão e foi punido com um ano de suspensão pela Associação de Futebol do Porto, uma pena que acabou por ser reduzida para dois meses. Nesse ano o FC Porto não foi além do terceiro lugar no campeonato regional depois de 21 anos consecutivos a sagrar-se campeão. O último degrau do pódio não garantia a entrada no campeonato nacional, mas a Federação Portuguesa de Futebol entrou em cena para aumentar o número de equipas participantes de oito para dez, repescando os dragões, que viriam a sagrar-se bicampeões nacionais.
 
Com direito a festa de encerramento de carreira, viu o Estádio do Lima encher-se a 7 de julho de 1946 para um jogo de despedida no qual marcaram presença jogadores de clubes rivais como Azevedo, Cardoso e Peyroteo (Sporting), Feliciano, Amaro, Serafim, José Pedro e João Cruz (Belenenses), Francisco Ferreira e Espírito Santo (Benfica) e Alberto Gomes (Académica).
 
A história de Pinga no futebol, contudo, não acabou aí. Tornou-se treinador e, ao comando do Tirsense, então na III Divisão Nacional, bateu o Sporting dos Cinco Violinos em 1948-49, em jogo da Taça de Portugal. Em 1954 regressou ao FC Porto como adjunto de Cândido de Oliveira, tendo depois permanecido no clube como técnico nas camadas jovens, função que desempenhava quando morreu, a 12 de julho de 1963, quando tinha apenas 53 anos.
 
Foi o maior futebolista madeirense de todos os tempos… até surgir Cristiano Ronaldo.







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