Hoje faria anos Guilherme Espírito Santo, recordista no atletismo e no futebol do Benfica
Guilherme Espírito Santo marcou 199 golos em 285 jogos pelo Benfica
Num tempo em que o futebol ainda
estava muito longe da profissionalização, era comum haver quem praticasse
várias modalidades e até com algum nível de sucesso. Foi o caso de Guilherme
Espírito Santo.
Descendente de são-tomenses,
nasceu em Lisboa a 30 de outubro de 1919, mas aos oito anos mudou-se com a mãe
para Luanda, tendo começado a jogar futebol na capital angolana, mais precisamente
na formação do Sport Luanda e Benfica. Benfiquista desde sempre, foi
contratado em 1936 pelo clube
do coração para suceder ao seu grande ídolo de juventude, Vítor Silva,
depois de ter agradado nos treinos que fez à experiência, aos quais chegou com
uma carta de recomendação da filial. Acabou por estrear-se pela equipa
principal dos encarnados
ainda com 16 anos, a 20 de setembro de 1936, tendo marcado um golo num triunfo
sobre o Vitória
de Setúbal por 5-2 num jogo particular disputado no campo dos Arcos, na
cidade sadina. A estreia oficial aconteceu a 11
de outubro do mesmo ano, num empate a zero frente ao Casa
Pia a contar para a 1.ª jornada do Campeonato de Lisboa. Cerca de um ano
depois, diante do mesmo adversário, estabeleceu um recorde do clube, ao apontar
nove golos numa goleada por 13-1. Foi o início de uma grande
história de 13 anos de sucesso, coroada com 285 jogos, 199 golos, quatro
campeonatos nacionais (1936-37, 1937-38, 1944-45 e 1949-50), três Taças
de Portugal (1939-40, 1943-44 e 1948-49) e um Campeonato de Lisboa
(1939-40). Pelo meio sofreu uma grave inflamação os pulmões que o afastou dos
relvados entre 1941 e 1944. Antes desse problema de saúde,
perante a lesão do guarda-redes Martins e numa altura em que ainda não se
podiam fazer substituições, foi para a baliza num dérbi com o Sporting
a 19 de janeiro de 1941 e defendeu tudo o que havia para defender, mantendo a
vantagem de 2-1 para o Benfica. Também no que concerne ao desporto-rei,
a “Pérola Negra” fez história ao tornar-se no primeiro futebolista negro a
representar Portugal,
estreando-se num jogo diante de Espanha
a 28 de novembro de 1937, naquela que foi a primeira vitória da seleção
lusa sobre a congénere
espanhola. Foi oito vezes internacional A e marcou um golo.
Paralelamente, mostrou ter jeito
para o atletismo, surpreendendo os companheiros de equipa quando saltou por
cima de um obstáculo colocado a 1,70 metros do chão durante um treino no
Estádio das Amoreiras em 1938. Foi então convidado a praticar várias
especialidades pela secção de atletismo do Benfica,
tendo batido recordes nacionais de salto em altura, comprimento e triplo salto. E quando se retirou do futebol e
do atletismo, dedicou-se ao ténis, modalidade que praticou até aos 85 anos e na
qual venceu vários campeonatos nacionais de veteranos. A sua aptidão para o desporto e o
desportivismo que sempre patenteou valeram-lhe a condecoração com o prémio fair
play pelo Comité Olímpico Internacional, em 1999. Também foi galardoado com a Águia
de Prata em 1938 e a Águia de Ouro em 2000, tendo igualmente sido designado
presidente das Comemorações do Centenário do Benfica
em fevereiro de 2004. Viria a morrer a 25 de novembro
de 2012, aos 93 anos. Meses antes, recebeu o Anel de Platina pelos 75 anos de
associado aos encarnados.
Sem comentários:
Enviar um comentário