O benfiquista que agrediu Artur Jorge e virou “Coração de Leão”. Quem se lembra de Sá Pinto?
Sá Pinto somou 50 golos em 228 jogos ao serviço do Sporting
Avançado muito móvel, aguerrido e
com qualidade técnica e capacidade para desempenhar várias funções no ataque,
nasceu no Porto, jogou ténis federado e fez parte da formação no FC
Porto, tendo passado para o Salgueiros
no primeiro ano de juvenil.
Foi no emblema
de Vidal Pinheiro que se estreou como futebolista sénior, tendo sido uma
das revelações da I
Divisão em 1992-93. O primeiro de seis golos que apontou nessa época foi o
tento de honra do Salgueiros
numa goleada sofrida às mãos do FC
Porto nas Antas (1-4), a 20 de setembro de 1992, mas o mais importante
aconteceu a 31 de janeiro de 1993, quando marcou o golo solitário do conjunto
de Paranhos numa vitória sobre o Sporting
em Alvalade
(1-0). Pelo meio, tornou-se internacional sub-21
em outubro de 1992.
No começo da temporada seguinte, Ricardo
Sá Pinto voltou a marcar ao Sporting,
mas desta vez numa derrota por 2-1 em Alvalade,
já depois de Cadete
e Capucho terem faturado para os leões.
Foi o primeiro de onze remates certeiros que somou em 1993-94, tendo ainda dado
uma vitória sobre o Benfica
em abril de 1994.
No decorrer desta época de
confirmação, concedeu uma entrevista à revista Foot que, aos dias de
hoje, tem alguns contornos chocantes. Nela, revelou a ambição de “jogar num
grande clube do futebol português”, e não teve pudor em manifestar a sua
preferência: “Em termos de gostos pessoais, quero o Benfica.” Na mesma entrevista, revelou ser “totalmente
contra” a homossexualidade, por se tratar de “um jovem muito conservador”. Também
confessou detestar feijoada à transmontana e adorar batatas cozidas com
bacalhau e considerou o preservativo “um acessório dispensável”.
Entrevista de Sá Pinto à revista Foot durante a temporada 1993-94
No verão de 1994, depois de ter
ajudado a seleção
de sub-21 a chegar à final do Europeu da categoria, o carrasco leonino
virou reforço do Sporting.
Na primeira passagem por Alvalade,
entre 1994 e 1997, somou 102 jogos e 28 golos, conquistou uma Taça
de Portugal (1994-95) e uma Supertaça
(1995), para a qual contribuiu com dois golos na finalíssima frente ao FC
Porto, e ganhou o estatuto de internacional português AA, tendo marcado
presença no Euro 1996.
E Sá
Pinto só não contabilizou mais jogos e golos pelos verde
e brancos por causa de um ato irrefletido que ficou para sempre colado à
sua imagem. Não convocado para a seleção
nacional para um jogo na Irlanda do Norte, foi convidado por Joseph Wilson,
então a desempenhar funções na Federação Portuguesa de Futebol, para ir ao
Estádio Nacional desejar boa sorte aos companheiros antes do treino de 26 de
março de 1997. Porém, depois de ter lido no Record e ouvido na TSF
que o fundamento para ter sido preterido por Artur
Jorge se ficara a dever a eventuais atos de indisciplina ocorridos em jogos
anteriores, chegou ao Jamor vestido à civil e foi ao encontro do selecionador,
disferindo-lhe dois socos e dois ou três pontapés sem diálogo prévio.
A direção da FPF suspendeu o
jogador da seleção
por tempo indeterminado, socorrendo-se dos regulamentos da FIFA, e o Conselho
de Disciplina da Federação aplicou-lhe um castigo de cinco meses ou um ano,
estando em causa a prova de que Sá
Pinto havia sido provocado pro Artur
Jorge antes da agressão. Outra dúvida estava relacionada com o âmbito da
pena, se teria validade apenas em Portugal ou também no estrangeiro. O avançado
transferiu-se para os espanhóis da Real
Sociedad no verão de 1997 por 700 mil contos (3,5 milhões de euros), mas
com a indicação de que a transferência perderia validade caso o castigo tivesse
abrangência internacional. A suspensão, entretanto
estabelecida em dez meses pela agressão a Artur
Jorge e três por injúrias, uma duração à qual seria descontado o tempo em
que o jogador esteve suspenso pela Comissão Disciplinar da Liga, acabou mesmo
por ter validade internacional. Sá
Pinto até acabou por rumar mesmo à Real
Sociedad, mas esteve um ano sem jogar, tendo voltado à competição apenas em
1998-99. “Quando saíram os 13 meses, fiquei abananado, claro. Mas eles, da Real,
acreditaram em mim e ficaram comigo. Foi uma demonstração inequívoca de
persistência, também porque ficaram estupefactos pela forma como treinava
afincadamente. Via-se mesmo na cara dos jogadores e até dirigentes o espanto
deles, como quem diz ‘só vai jogar daqui a mais de um ano e trabalha para o
jogo do próximo fim-de-semana’”, contou ao Observador
em março de 2018.
A aventura no País Basco correu relativamente
bem e Sá
Pinto conseguiu reentrar nas contas da seleção
em setembro de 1998, já com Humberto Coelho como selecionador, tendo bisado
numa vitória sobre a Hungria
(3-1) no jogo de regresso. Esteve no Euro
2000 e até era para ser o ponta de lança titular, mas uma lesão num
ligamento do joelho sofrida em vésperas do jogo de estreia, diante de Inglaterra,
retirou-o do encontro – aproveitou Nuno Gomes, que agarrou a titularidade e
marcou quatro golos no torneio. Após o Campeonato
da Europa regressou ao Sporting,
tendo contribuído para a conquista da Supertaça
Cândido Oliveira em 2000-01 e do título nacional e da Taça
de Portugal em 2001-02. Porém, graves lesões nos joelhos, que o atiraram
por várias vezes para a mesa de operações, não lhe deram descanso até final de
2004. Quando se restabeleceu, foi uma peça importante na caminhada leonina
até à final da Taça
UEFA em 2004-05, passando a ser o capitão de equipa a meio da temporada seguinte,
após as saídas de Pedro Barbosa e Beto.
No final da época 2005-06
anunciou a sua retirada dos relvados, mas voltou atrás na decisão após ser
expulso na antepenúltima jornada do campeonato e ter ficado de fora das duas
últimas. Porém, Paulo
Bento já não contava com o atacante, que acabou a carreira em 2006-07, mas
ao serviço dos belgas do Standard
Liège, clube em que envergou a camisola 76, em homenagem à Juventude
Leonina. Em 2008 regressou ao Sporting
para integrar a estrutura, tendo ascendido a diretor de futebol profissional em
novembro de 2009, sucedendo a Pedro Barbosa, que se havia demitido na sequência
da saída de Paulo
Bento do comando técnico. Contudo, acabou por se demitir dois meses depois,
em janeiro de 2010, após se ter envolvido numa cena de pancadaria com Liedson.
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