Proveniente do Spartak Moscovo,
com um título europeu de sub-21 (1990) no currículo e já internacional A pela União
Soviética e pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI), Aleksandr
Mostovoi aterrou em Lisboa em janeiro de 1992, meio ano depois de Iuran
e Kulkov, o que fez toda a diferença. Porquê? Porque foi contratado, tal
como os compatriotas, a pedido de Sven-Göran
Eriksson, mas devido a problemas com o visto já não foi inscrito a tempo de
jogar às ordens do sueco,
que se mudou para a Sampdoria
no verão desse ano. Quando passou a estar disponível,
graças a um polémico casamento de conveniência com uma portuguesa, o médio
ofensivo apanhou Tomislav Ivic no comando técnico e nunca se deu bem com o
croata. Em 1992-93 pouco jogou (16 partidas/dois golos) e na época seguinte, já
sob a orientação de Toni,
só esteve em campo um minuto, o que o levou a transferir para os franceses do
Caen no final de 1993.
“O Mostovoi
achava-se uma estrela e estava magoado desde o tempo do Ivic por ter sido
afastado. Resolveu sair, recomeçar do zero num outro clube, num outro país.
Calma lá que é preciso lembrar as pessoas que ainda havia a questão do limite
de estrangeiros e ele sentia que o seu futuro estava um bocado assim-assim”,
contou em junho de 2017 o empresário Paulo Barbosa, que intermediou a vinda do
jogador para Portugal, ao Observador.
“O Mostovoi
era um jogador do outro mundo e o Eusébio
gostava muito dele. Agora, temos de ter a noção de que o Benfica
tinha Rui
Costa, Paulo Sousa, Isaías.
O plantel era riquíssimo e ganhar um lugar no onze é complicado”, acrescentou.
Embora tenha resultado num fiasco
desportivo, a transferência de Mostovoi
para o Benfica
não deixou de ser histórica. “Estamos a falar dos anos 90, numa altura em não
havia contratos profissionais na União Soviética simplesmente porque não havia
jogadores de futebol profissionais. Quando o Benfica
chega a acordo com o Mostovoi,
o Mostovoi
não tem contrato, era um jogador livre. E mais: só a partir dessa altura, com a
transferência do Mostovoi,
é que os clubes soviéticos passam a fazer contratos registados como
profissionais”, explicou aquele que foi um dos primeiros agentes FIFA de
Portugal. Em França relançou a carreira.
Primeiro no Caen (1993-94), depois no Estrasburgo (1994 a 1996). Mas foi no Celta
de Vigo, entre 1996 e 2004, que deixou verdadeiramente a sua marca como um
médio ofensivo criativo e com golo, tendo ficado conhecido como o “Czar dos
Balaídos”.
A última temporada de Mostovoi
em Vigo teve um sabor agridoce. Por um lado, jogou na Champions
e contribuiu até para o apuramento para os oitavos de final, naquela que é
ainda hoje a única participação do Celta
na liga
milionária. Por outro, no campeonato
espanhol os galegos não conseguiram evitar a descida de divisão. “Era um
clube pequeno e nunca imaginei que a direção fosse tão má a gerir um negócio.
Os problemas de dinheiro começaram no ano da Liga
dos Campeões. O clube afundou-se e tornou-se como norma o não pagamento. No
último ano, só jogava com dinheiro. Prometeram-me, fui a jogo e, mesmo assim,
não me pagaram. Não me pagaram o último ano. Saí, claro. E a descida foi um
cenário triste. E, já agora, previsível”, recordou. Despediu-se do Celta
em 2004, como recordista de jogos pelo clube na I
Liga Espanhola (235) – um registo entretanto batido por Hugo Mallo em 2021 –,
e após oito meses sem jogar assinou pelo Alavés
em março de 2005, na II Liga de Espanha, mas após apenas 12 minutos em campo (e
um golo!) pediu a rescisão de contrato e anunciou o fim de carreira devido a
problemas nas costas, quando tinha 36 anos.
Em termos de seleção
russa, somou 50 internacionalizações e 10 golos, tendo marcado presença nas
fases finais dos Mundiais de 1994
e 2002
e dos Europeus de 1996
e 2004,
mas o balanço que faz da sua carreira internacional não é positivo: “Una
mierda, no? De 1990 a 2000, convivemos com problemas infinitos. Vê bem:
falho o Mundial 1990 porque sou jovem; falho o Euro 1992
porque lesiono-me a cinco dias do início; falho o Mundial
1994 porque aquilo era mais uma equipa de turismo do que de futebol, além
dos problemas com dirigentes; falhámos o Euro 1996
porque o grupo incluía Alemanha
e República
Checa, finalistas do torneio, mais Itália;
falho o Mundial
2002 por causa de uma lesão e foi uma pena, porque estava numa forma
fantástica; falho o Euro 2004
porque disse o que pensava e mandei o treinador tomar por el culo. Y
ya está, o meu resumo na seleção.
Eram outros tempos, mais obscuros e difíceis, muy difíceis.”
Após pendurar as botas abriu uma
escola de futebol e foi praticando… hóquei no gelo. No início de 2024 revelou
estar a tirar o curso de treinador ao lado dos também antigos internacionais
russos Arshavin, Sychov, Denisov, Shirokov o Samedov, mas não se mostrou muito
otimista em arranjar trabalho.
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