sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Hoje faz anos o Czar dos Balaídos que não se deu bem no Benfica. Quem se lembra de Mostovoi?

Mostovoi não foi além de 17 jogos e dois golos pelo Benfica
Foi, dos três russos que reforçaram o Benfica no início da década de 1990, o que fez melhor carreira. Em termos de clubes e de seleção. Mas foi o que teve mais dificuldades para se afirmar na Luz.
 
Proveniente do Spartak Moscovo, com um título europeu de sub-21 (1990) no currículo e já internacional A pela União Soviética e pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI), Aleksandr Mostovoi aterrou em Lisboa em janeiro de 1992, meio ano depois de Iuran e Kulkov, o que fez toda a diferença. Porquê? Porque foi contratado, tal como os compatriotas, a pedido de Sven-Göran Eriksson, mas devido a problemas com o visto já não foi inscrito a tempo de jogar às ordens do sueco, que se mudou para a Sampdoria no verão desse ano.
 
Quando passou a estar disponível, graças a um polémico casamento de conveniência com uma portuguesa, o médio ofensivo apanhou Tomislav Ivic no comando técnico e nunca se deu bem com o croata. Em 1992-93 pouco jogou (16 partidas/dois golos) e na época seguinte, já sob a orientação de Toni, só esteve em campo um minuto, o que o levou a transferir para os franceses do Caen no final de 1993.
 
 
“O Mostovoi achava-se uma estrela e estava magoado desde o tempo do Ivic por ter sido afastado. Resolveu sair, recomeçar do zero num outro clube, num outro país. Calma lá que é preciso lembrar as pessoas que ainda havia a questão do limite de estrangeiros e ele sentia que o seu futuro estava um bocado assim-assim”, contou em junho de 2017 o empresário Paulo Barbosa, que intermediou a vinda do jogador para Portugal, ao Observador. “O Mostovoi era um jogador do outro mundo e o Eusébio gostava muito dele. Agora, temos de ter a noção de que o Benfica tinha Rui Costa, Paulo Sousa, Isaías. O plantel era riquíssimo e ganhar um lugar no onze é complicado”, acrescentou.
 
 
Embora tenha resultado num fiasco desportivo, a transferência de Mostovoi para o Benfica não deixou de ser histórica. “Estamos a falar dos anos 90, numa altura em não havia contratos profissionais na União Soviética simplesmente porque não havia jogadores de futebol profissionais. Quando o Benfica chega a acordo com o Mostovoi, o Mostovoi não tem contrato, era um jogador livre. E mais: só a partir dessa altura, com a transferência do Mostovoi, é que os clubes soviéticos passam a fazer contratos registados como profissionais”, explicou aquele que foi um dos primeiros agentes FIFA de Portugal.
 
Em França relançou a carreira. Primeiro no Caen (1993-94), depois no Estrasburgo (1994 a 1996).  Mas foi no Celta de Vigo, entre 1996 e 2004, que deixou verdadeiramente a sua marca como um médio ofensivo criativo e com golo, tendo ficado conhecido como o “Czar dos Balaídos”.
 
 
Contratado por 325 milhões de pesetas (cerca de 1,95 milhões de euros), ajudou a estabelecer os galegos na metade cimeira da tabela classificativa do campeonato espanhol, tendo contribuído para feitos como a conquista da Taça Intertoto em 2000, a caminhada até à final da Taça do Rei em 2000-01, o apuramento para a fase de grupos em Liga dos Campeões em 2003 e boas campanhas na Taça UEFA.
 
Em 25 de novembro de 1999, marcou o sétimo golo dos 7-0 que o Celta aplicou ao Benfica, numa de três épocas consecutivas em que os celestes atingiram os quartos de final da Taça UEFA (1998-99, 1999-00 e 2000-01). “Quando entrei em campo, pensei em ganhar 2-1 ou 3-1. Não mais. Uma hora e meia depois, 7-0. Sete-zero??! Que resultado”, comentou, em entrevista ao portal de Rui Miguel Tovar, em janeiro de 2021.
 
 
A última temporada de Mostovoi em Vigo teve um sabor agridoce. Por um lado, jogou na Champions e contribuiu até para o apuramento para os oitavos de final, naquela que é ainda hoje a única participação do Celta na liga milionária. Por outro, no campeonato espanhol os galegos não conseguiram evitar a descida de divisão. “Era um clube pequeno e nunca imaginei que a direção fosse tão má a gerir um negócio. Os problemas de dinheiro começaram no ano da Liga dos Campeões. O clube afundou-se e tornou-se como norma o não pagamento. No último ano, só jogava com dinheiro. Prometeram-me, fui a jogo e, mesmo assim, não me pagaram. Não me pagaram o último ano. Saí, claro. E a descida foi um cenário triste. E, já agora, previsível”, recordou.
 
Despediu-se do Celta em 2004, como recordista de jogos pelo clube na I Liga Espanhola (235) – um registo entretanto batido por Hugo Mallo em 2021 –, e após oito meses sem jogar assinou pelo Alavés em março de 2005, na II Liga de Espanha, mas após apenas 12 minutos em campo (e um golo!) pediu a rescisão de contrato e anunciou o fim de carreira devido a problemas nas costas, quando tinha 36 anos.
 
 
Em termos de seleção russa, somou 50 internacionalizações e 10 golos, tendo marcado presença nas fases finais dos Mundiais de 1994 e 2002 e dos Europeus de 1996 e 2004, mas o balanço que faz da sua carreira internacional não é positivo: “Una mierda, no? De 1990 a 2000, convivemos com problemas infinitos. Vê bem: falho o Mundial 1990 porque sou jovem; falho o Euro 1992 porque lesiono-me a cinco dias do início; falho o Mundial 1994 porque aquilo era mais uma equipa de turismo do que de futebol, além dos problemas com dirigentes; falhámos o Euro 1996 porque o grupo incluía Alemanha e República Checa, finalistas do torneio, mais Itália; falho o Mundial 2002 por causa de uma lesão e foi uma pena, porque estava numa forma fantástica; falho o Euro 2004 porque disse o que pensava e mandei o treinador tomar por el culo. Y ya está, o meu resumo na seleção. Eram outros tempos, mais obscuros e difíceis, muy difíceis.”
 
 
Após pendurar as botas abriu uma escola de futebol e foi praticando… hóquei no gelo. No início de 2024 revelou estar a tirar o curso de treinador ao lado dos também antigos internacionais russos Arshavin, Sychov, Denisov, Shirokov o Samedov, mas não se mostrou muito otimista em arranjar trabalho. 





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