As “maçãs podres” que vieram do frio. Quem se lembra de Iuran, Mostovoi e Kulkov?
Iuran, Mostovoi e Kulkov no Estádio da Luz
“Maçã podre” é um termo hoje
muito associado a João
Moutinho, que foi assim apelidado pelo então presidente do Sporting,
José Eduardo Bettencourt, aquando da transferência do médio para o FC
Porto, em 2010. Teve o objetivo de classificar um jogador com um
comportamento alegadamente nocivo no balneário. Mas não foi a primeira vez que
foi empregue no futebol português.
Cerca de 17 anos antes, o então
treinador do Benfica,
Toni, tornou-se no primeiro a utilizar o termo. “Não vou pôr três maçãs podres
num cesto de maçãs mais ou menos boas”, afirmou, a propósito dos três russos
que viraram o Estádio
da Luz do avesso: Iuran, Mostovoi e Kulkov. Em causa saídas à noite, atrasos
aos treinos e, no caso de Iuran, um acidente de viação mortal na Avenida da
Boavista. Sven-Göran Eriksson, que os
trouxe para Portugal, disse que o problema esteve na adaptação a um novo
sistema financeiro para o trio: “Não estavam habituados a ter dinheiro. O
Iuran, por exemplo, não confiava no banco e guardava o dinheiro no colchão.” Mostovoi chegou no verão de 1992
e foi despachado para os franceses do Caen no final de 1993, mas Iuran e Kulkov,
que haviam aterrado em Lisboa um ano antes, ainda fizeram parte da equipa
campeã nacional em 1993-94, mas Artur Jorge, que sucedeu a Toni no comando
técnico, deixou claro que não tinha paciência para os aturar. Entretanto, surge o FC
Porto na equação. Tudo isto porque outro soviético, o sportinguista
Sergey Cherbakov, que também gostava de um estilo de vida boémio, sofreu um
acidente de viação em dezembro de 1993, depois de ignorar um sinal vermelho o
cruzamento da Avenida da Liberdade com a rua Alexandre Herculano, em Lisboa. Cherba
ficou paraplégico e, durante a estadia no Hospital de São José, foi visitado
por Iuran, Kulkov e… Bobby Robson, que tinha tido o seu jantar de despedida do Sporting
na noite do acidente e assinou pelo FC
Porto no mês seguinte. Robson conheceu os russos do Benfica
no hospital e quis levá-lo para as Antas. Perante o interesse do rival, as águias
passaram para a imprensa informações assustadoras sobre o estado físico de
ambos. “Se ficasse mais um ano no Benfica
tinha de certeza um enfarte”, ironizou Kulkov.
Do outro lado do negócio, Pinto
da Costa mostrava estar ciente de quem estava a contratar: “Sei que nem nós
contratámos dois santos, nem eu sou o abade das Antas.” Ao serviço dos dragões
voltaram a mostrar alguma utilidade dentro de campo, sagrando-se campeões em 1994-95,
mas continuaram a arranjar problemas fora dos relvados, acabando dispensados ao
cabo de uma temporada na Invicta.
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