sexta-feira, 4 de abril de 2025

Como Eriksson e Pinto da Costa impediram que o presidente do Benfica se livrasse de Eusébio

Pinto da Costa e Eriksson solidários com Eusébio
Quando chegou ao Benfica no verão de 1982, Sven-Göran Eriksson simpatizou rapidamente com o clube e tudo o que o rodeava, assim como “a vida em Portugal”. Alojou-se em Cascais ao lado da casa do empresário sueco que o levou para a Luz, Börje Lantz, ganhava bem e tinha “uma bola relação com Fernando Martins”, presidente dos encarnados e proprietário de vários hotéis.
 
Mas havia uma pessoa que Eriksson já admirava antes de chegar a Lisboa com quem teve a oportunidade de se relacionar: Eusébio. “Quando era adolescente, vi esses jogos [das grandes campanhas na Taça dos Campeões Europeus] pela televisão, em Torsby, com o meu pai. Nesse tempo, a grande questão era – quem é melhor, Eusébio ou Pelé? As pessoas discutiam o assunto como hoje discutem Messi e Ronaldo”, contou no livro autobiográfico Sven – A Minha História, publicado em 2013.
 
Quando Eriksson chegou ao Benfica, Eusébio era um embaixador do clube, o que para a direção das águias era… um fardo. “Fernando Martins queria que ele saísse do Benfica. Fiquei chocado. Verem-se livres de Eusébio. Impossível! Pelo contrário”, recordou o sueco.
 
Na altura, o pantera negra queixou-se da situação complicada em que estava financeiramente a José Maria Pedroto, treinador do FC Porto, o que também fez com que Pinto da Costa tivesse encostado Fernando Martins à parede. “Olhe, o Eusébio está em dificuldades. Ele é um símbolo do Benfica e é uma vergonha para si se ele amanhã aparece a trabalhar no FC Porto. Mas se você não arranjar, eu arranjo”, contou o eterno presidente portista, citado pelo Sol, tendo recebido aí garantias de que o problema seria resolvido.
 
A sugestão de como solucionar o problema partiu de Eriksson. “Sugeri que ele fizesse parte do staff como treinador de guarda-redes. E foi o que aconteceu. Eusébio trabalhava muito bem com o nosso guarda-redes, Bento. No final de cada treino, ficavam em campo e apostavam quantos golos marcaria Eusébio em dez remates. Não me recordo qual saía geralmente vencedor, mas não me surpreenderia que fosse Eusébio. A despeito dos seus joelhos arruinados, ainda tinha um tiro de canhão”, lembrou o treinador nórdico na autobiografia.
 
Eusébio com Sven-Göran Eriksson em 2000
Eusébio permaneceu nas funções de treinador de guarda-redes da equipa principal do Benfica durante mais de década e meia, até 1998-99, tendo voltado a trabalhar com Eriksson entre 1989 e 1992.
 
Nessa altura, os dois e as mulheres – Anki e Flora – passavam algum tempo juntos. “Ele adorava comida picante e andava sempre com um frasco de tabasco no bolso do casaco. Contou histórias extraordinárias da sua infância pobre em Moçambique e de como jogava futebol descalço com bolas feitas de jornais amassados dentro de uma meia. A sua esposa também era moçambicana e fora uma grande atleta. Era incrivelmente bonita. Contavam-se muitos episódios sobre Eusébio e as mulheres, mas quando lhe falávamos nisso, limitava-se a rir”, contou o sueco.
 
Em junho de 1990, ambos embarcaram numa digressão de fim de época do Benfica a Angola e Moçambique e aí Eriksson testemunhou a verdadeira dimensão do pantera negra: “Fomos disputar um jogo amigável a Maputo [diante do Costa do Sol]. Quando chegámos ao estádio, fomos saudados por uma multidão de jovens, na sua maioria em tronco nu. Eusébio viajava a meu lado na frente do autocarro e havia um ruído enorme lá fora. Mas, quando o autocarro parou, as portas se abriram e Eusébio saiu, fez-se silêncio. Do alto das escadas, Eusébio ergueu a mão em saudação. Um rapazinho chegou-se à frente, talvez tivesse 12 anos. Aproximou-se devagar de Eusébio e tocou-lhe na mão. E, de repente, a populaça entrou em erupção. Era como se ninguém acreditasse que o verdadeiro Eusébio estava ali e o rapazinho, ao tocar-lhe, o fizesse real. Nunca vi nada assim. Nunca pensei como Eusébio era tão grande em África.” 



  

 
 






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