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Pinto da Costa e Eriksson solidários com Eusébio |
Quando chegou ao
Benfica
no verão de 1982,
Sven-Göran
Eriksson simpatizou rapidamente com o clube e tudo o que o rodeava, assim
como “a vida em Portugal”. Alojou-se em Cascais ao lado da casa do empresário
sueco que o levou para a
Luz,
Börje Lantz, ganhava bem e tinha “uma bola relação com Fernando Martins”,
presidente dos
encarnados
e proprietário de vários hotéis.
Mas havia uma pessoa que
Eriksson
já admirava antes de chegar a Lisboa com quem teve a oportunidade de se
relacionar:
Eusébio.
“Quando era adolescente, vi esses jogos [das grandes campanhas na
Taça
dos Campeões Europeus] pela televisão, em Torsby, com o meu pai. Nesse
tempo, a grande questão era – quem é melhor,
Eusébio
ou
Pelé?
As pessoas discutiam o assunto como hoje discutem Messi e
Ronaldo”,
contou no livro autobiográfico
Sven – A Minha História, publicado em
2013.
Quando
Eriksson
chegou ao
Benfica,
Eusébio
era um embaixador do clube, o que para a direção das águias era… um fardo. “Fernando
Martins queria que ele saísse do
Benfica.
Fiquei chocado. Verem-se livres de
Eusébio.
Impossível! Pelo contrário”, recordou o
sueco.
Na altura, o
pantera
negra queixou-se da situação complicada em que estava financeiramente a
José
Maria Pedroto, treinador do
FC
Porto, o que também fez com que
Pinto
da Costa tivesse encostado Fernando Martins à parede. “Olhe, o
Eusébio
está em dificuldades. Ele é um símbolo do
Benfica
e é uma vergonha para si se ele amanhã aparece a trabalhar no
FC
Porto. Mas se você não arranjar, eu arranjo”, contou o eterno
presidente
portista, citado pelo
Sol,
tendo recebido aí garantias de que o problema seria resolvido.
A sugestão de como solucionar o problema
partiu de
Eriksson.
“Sugeri que ele fizesse parte do
staff como treinador de guarda-redes. E
foi o que aconteceu.
Eusébio
trabalhava muito bem com o nosso guarda-redes, Bento. No final de cada treino,
ficavam em campo e apostavam quantos golos marcaria
Eusébio
em dez remates. Não me recordo qual saía geralmente vencedor, mas não me
surpreenderia que fosse
Eusébio.
A despeito dos seus joelhos arruinados, ainda tinha um tiro de canhão”, lembrou
o treinador nórdico na autobiografia.
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Eusébio com Sven-Göran Eriksson em 2000 |
Eusébio
permaneceu nas funções de treinador de guarda-redes da equipa principal do
Benfica
durante mais de década e meia, até 1998-99, tendo voltado a trabalhar com
Eriksson
entre 1989 e 1992.
Nessa altura, os dois e as
mulheres – Anki e Flora – passavam algum tempo juntos. “Ele adorava comida
picante e andava sempre com um frasco de
tabasco no bolso do casaco.
Contou histórias extraordinárias da sua infância pobre em Moçambique e de como
jogava futebol descalço com bolas feitas de jornais amassados dentro de uma
meia. A sua esposa também era moçambicana e fora uma grande atleta. Era
incrivelmente bonita. Contavam-se muitos episódios sobre
Eusébio
e as mulheres, mas quando lhe falávamos nisso, limitava-se a rir”, contou o
sueco.
Em junho de 1990, ambos
embarcaram numa digressão de fim de época do
Benfica
a Angola e Moçambique e aí
Eriksson
testemunhou a verdadeira dimensão do
pantera
negra: “Fomos disputar um jogo amigável a Maputo [diante do Costa do Sol].
Quando chegámos ao estádio, fomos saudados por uma multidão de jovens, na sua
maioria em tronco nu.
Eusébio
viajava a meu lado na frente do autocarro e havia um ruído enorme lá fora. Mas,
quando o autocarro parou, as portas se abriram e
Eusébio
saiu, fez-se silêncio. Do alto das escadas,
Eusébio
ergueu a mão em saudação. Um rapazinho chegou-se à frente, talvez tivesse 12
anos. Aproximou-se devagar de
Eusébio
e tocou-lhe na mão. E, de repente, a populaça entrou em erupção. Era como se
ninguém acreditasse que o verdadeiro
Eusébio
estava ali e o rapazinho, ao tocar-lhe, o fizesse real. Nunca vi nada assim.
Nunca pensei como
Eusébio
era tão grande em África.”
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